Um estudo do Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto (ISPUP), publicado recentemente na revista “Allergy”, concluiu que existe uma maior probabilidade das crianças desenvolverem asma, obesidade e sintomas respiratórios, quando expostas a disruptores endócrinos (substâncias que provocam alterações hormonais no organismo, presentes em alguns produtos de limpeza, higiene, cosmética e na construção de edifícios), mesmo em ambientes em que a concentrações destes compostos é mais baixa.
Em entrevista ao JPN, a investigadora Inês Paciência explicou que o estudo teve início em 2016 com o objetivo de “avaliar o efeito da qualidade do ar interior na saúde das crianças“.
Foram avaliadas 71 salas de aula em 20 escolas do Porto. Ao longo da investigação, os efeitos dos disruptores endócrinos foram analisados em 845 crianças, dos 7 aos 12 anos. Neste intervalo de idades, as crianças tinham “uma maior capacidade de fazer os testes que estavam previstos no projeto”, justifica a investigadora ao JPN.
“Nós avaliamos um conjunto de parâmetros no ar interior das salas de aula, entre outros compostos químicos. E desses compostos químicos, destacamos os que tinham sido identificados como disruptores endócrinos e contabilizamos 13 compostos orgânicos voláteis e dois aldeídos”, explica Inês Paciência.
De acordo com Inês Paciência, o que mais surpreendeu a equipa de investigação foi que “mesmo em concentrações muito baixas (abaixo dos limites fixados pela Organização Mundial da Saúde para alguns desses efluentes) estão associadas a um maior risco de desenvolvimento de asma e obesidade”.
Na visão da investigadora, a solução passa por “considerar os produtos utilizados na construção das escolas e edifícios”, bem como “na escolha do mobiliário, porque muitas vezes os produtos utilizados libertam esses compostos, que têm uma capacidade de causar alterações no sistema endócrino e em outros sistemas do organismo”.
Para as escolas que não têm a opção de remodelação, Inês Paciência recomenda que se abram “as janelas e as portas, para que haja uma maior ventilação e uma diminuição da concentração desses efluentes no interior das salas de aula”.
Face aos resultados obtidos, a especialista ressalta que a investigação terá continuidade. “O ideal é que a próxima fase do estudo” consista em “avaliar a exposição cumulativa a estes compostos, ou seja, avaliar qual seria a exposição nas casas e em outros espaços fechados onde as crianças passam o seu tempo em atividades de lazer”.
Pelo facto dos disruptores endócrinos serem encontrados em produtos de uso corrente, como plásticos, cosméticos, tintas, perfumes e fármacos, Inês Paciência considera importante “avaliar outras vias de exposição, como por exemplo a ingestão, uma vez que tem sido referenciada como uma fonte destes compostos”.
“E também considerar uma avaliação longitudinal” ao longo da vida das crianças, “para perceber qual é a janela principal que faz aumentar esses riscos de asma, obesidade e também de sintomas respiratórios”, conclui a investigadora.
Artigo editado por Filipa Silva