Os bastonários das ordens dos Médicos, Enfermeiros e Farmacêuticos enviaram esta quarta-feira (25) uma carta aberta ao primeiro-ministro, António Costa, alertando para a escassez de equipamento de proteção individual.

As três associações profissionais adiantam que têm conhecimento de “milhares de relatos de situações muito difíceis”, nas quais a falta de equipamento – máscaras, luvas, fatos de proteção, desinfetantes alcoólicos – está a colocar em risco a saúde dos profissionais de saúde, das suas famílias e dos pacientes.

Os três bastonários afirmam na carta que a “situação de crise de saúde pública internacional provocada pelo novo coronavírus representa um desafio ímpar a nível económico e de organização dos sistemas de saúde para qualquer país, independentemente do ponto de partida”, não sendo Portugal uma exceção.

No documento, assinado por Miguel Guimarães, Ana Rita Cavaco e Ana Paula Martins, é frisado que o primeiro caso de COVID-19 no país foi noticiado no dia 2 de março, “o que nos deveria ter proporcionado uma margem de manobra superior à de outros Estados que foram confrontados com o surto mais cedo e em fases em que a informação sobre as medidas a tomar era mais incipiente”.

As ordens dos Médicos, dos Enfermeiros e dos Farmacêuticos acusam o Governo, em particular o Ministério da Saúde, de não “acautelar medidas básicas e que podem comprometer todo o esforço de combate a este surto”, dando o exemplo da falta de equipamentos de proteção individual.

“De resto, a falta de equipamentos de proteção individual está a contribuir para que entre o número de infetados, ou de pessoas colocadas em quarentena por contacto com caso positivo, estejam muitos profissionais de saúde”, lê-se na carta dirigida a António Costa.

As ordens estão preocupadas com o pico da pandemia em Portugal e temem que não se possa dispor, nessa altura, “de um número de profissionais de saúde suficiente”.

Na carta é ainda dado o exemplo de Espanha que conta com “5.400 profissionais de saúde com COVID-19 por os stocks de equipamentos de proteção individual não terem sido suficientes. Os casos de COVID-19 entre profissionais de saúde representam em Espanha 12% do total de infeções, contra 8% em Itália e 4% na China”.

Por fim, as três estruturas denunciam a “aplicação conservadora dos testes”, tendo em conta a orientação da Direção-Geral da Saúde (DGS), que determina que só em caso de febre ou de sintomas respiratórios compatíveis com a COVID-19 é que os médicos são testados.

As ordens dizem ainda que esta orientação “vai em sentido contrário ao que se tem feito em países que têm publicado alguns artigos com os bons resultados no controlo do surto”, como a Coreia do Sul, Islândia e Alemanha.

“Os primeiros dados, agora consolidados, de que a infeção pode ser assintomática em muitos dos cidadãos reforça a importância de testar mais pessoas na fase de mitigação em que nos encontramos”, destacam.

“Vivemos tempos extraordinários, em que todos temos de tomar decisões com base em muito pouca informação, mas temos já uma certeza: antecipar, proteger e testar são três metodologias sem as quais nunca poderemos obter os melhores resultados para Portugal e para os portugueses”, concluem na carta.

Portugal entrou em fase de mitigação esta quinta-feira (26), por determinação da DGS. A fase de mitigação é a terceira e a mais grave na resposta ao novo coronavírus e é ativada quando há perigo de transmissão local, em ambiente fechado, e/ou transmissão comunitária, coisa que, assume a DGS, já existe nesta altura.

Artigo editado por Filipa Silva