O Congresso norte-americano confirmou esta quinta-feira a vitória do candidato democrata Joe Biden nas presidenciais de 3 de novembro. Senado e Câmara dos Representantes validaram os votos dos 50 estados e rejeitaram todas as objeções levantadas aos resultados eleitorais durante a sessão por senadores do Partido Republicano.

Joe Biden e Kamala Harris receberam 306 votos do Colégio Eleitoral e Donald Trump ficou com 232. Ratificada a vitória democrata, o processo político termina a 20 de janeiro, com a tomada de posse da dupla Biden/Harris, em Washington.

O Vice-Presidente Mike Pence confirmou os resultados das eleições, rejeitando o apelo de Donald Trump para que unilateralmente bloqueasse a certificação. O Presidente cessante considerou, no Twitter, que Pence “não teve a coragem para proteger o país e a constituição“.

Sobre a confirmação de Joe Biden como próximo Presidente dos Estados Unidos da América (EUA), e depois da confusão instalada no Capitólio por apoiantes seus, Donald Trump prometeu uma “transição ordeira do poder no dia 20 de janeiro”. Em comunicado, o atual Presidente reiterou, contudo, que “discorda totalmente” dos resultados eleitorais e acredita que os factos estão do seu lado.

A vitória no Senado que inflamou os ânimos

A ratificação dos votos do Colégio Eleitoral terminou depois de uma inédita invasão popular ao Capitólio – edifício do Congresso norte-americano – por parte de apoiantes de Donald Trump. Foi o primeiro ataque ao Capitólio desde 1814 – na altura, por forças britânicas num conflito armado com a nação americana.

A tensão começou logo durante as primeiras horas de quarta-feira (manhã em Portugal continental), devido aos resultados da segunda volta das duas eleições no estado da Geórgia, para o Senado. Os candidatos Jon Ossoff e Raphael Warnock conseguiram vitórias históricas e garantiram ao Partido Democrata o controlo das duas câmaras do Congresso – Senado e Câmara dos Representantes. O primeiro, dividido entre 50 senadores democratas e 50 republicanos, terá na próxima Vice-Presidente Kamala Harris, democrata, o elemento de desempate.

Culpabilizado pela derrota total dos Republicanos nas eleições, Donald Trump fez, antes de iniciada a sessão do Congresso, um discurso em Washington para milhares de apoiantes. “Nunca vou conceder!”, afirmava rodeado por uma multidão fervorosa. “O país vai ser destruído”, dizia o atual Presidente sobre a transferência de poder do dia 20 de janeiro.

A seguir, veio a ordem: “Vamos dar aos nossos republicanos o orgulho e a audácia que precisam”. A multidão começou a dirigir-se para o Capitólio. Trump regressou à Casa Branca.

Durante o discurso, foi tornado público um comunicado do seu Vice, Mike Pence, a rejeitar o bloqueio dos resultados eleitorais. Pouco depois, o atual líder da maioria Republicana Mitch McConnell fez um discurso incisivo contra Trump: “Se esta eleição fosse anulada por meras alegações dos derrotados, a nossa Democracia entraria numa espiral de morte“, disse o senador.

Um grupo de congressistas republicanos, liderados pelo senador Ted Cruz, do Texas, interrompeu a contagem dos votos pouco depois do início da sessão para contestar os resultados no Arizona. A intervenção já tinha sido pré-anunciada e esperavam-se outras durante o decorrer do processo de certificação. Mike Pence, que, enquanto Vice-Presidente, é quem preside a sessão, suspendeu os trabalhos e os congressistas regressaram às suas respetivas câmaras para debater a proposta de Ted Cruz.

O “ataque sem precedentes”

Poucos minutos depois, milhares de apoiantes de Trump derrubaram as barreiras da polícia e invadiram o Capitólio. Subiram as paredes do edifício com andaimes, partiram janelas e arrombaram portas para entrar. Os congressistas refugiaram-se nos seus gabinetes, enquanto Mike Pence foi levado para um local seguro pelos agentes dos serviços secretos norte-americanos.

As imagens registadas pela imprensa permitiram verificar a ocorrência de atos de vandalismo na sala do Senado e nos corredores e escritórios do Capitólio. Seguranças e polícias trocaram tiros com elementos da multidão que invadiu o Congresso. No exterior, foi destruído equipamento de jornalistas e o Capitólio esteve coberto de bandeiras e cartazes de apoio a Donald Trump.

O caos gerado no Congresso norte-americano resultou em quatro mortes. Foram detidas 52 pessoas, algumas delas mais tarde identificadas como elementos de grupos de extrema-direita, como os Proud Boys e o QAnon.

As reações não se fizeram esperar. O Presidente-eleito Joe Biden declarou a invasão do Capitólio como um “ataque sem precedentes” à Democracia. “A nossa nação, depois de ter sido a luz e a esperança , chegou a um momento profundamente negro“, disse Biden. O agora confirmado próximo Presidente dos Estados Unidos apelou a que todos fossem para casa e parassem o caos: “Temos de ter paz.”

Joe Biden terminou com um pedido a Donald Trump para “se chegar à frente” e pedir que a invasão parasse. Pouco tempo depois, o atual Presidente reiterou a crença infundada que os resultados eleitorais são fraudulentos e apontou que o que se passou em Washington “é a consequência de quando tentam anular uma vitória sagrada e esmagadora“. Mesmo assim, Trump pediu aos invasores do Capitólio que se retirassem.

As consequências do que aconteceu esta quarta-feira ainda estão a desenrolar-se. Matt Pottinger, secretário-adjunto da Segurança Nacional, foi um dos funcionários do Estado que apresentaram entretanto a sua demissão. Já Donald Trump foi suspenso do Twitter durante 12 horas e todos os seus tweets sobre o Capitólio foram apagados. A rede social avisou que se o Presidente reincidisse, a conta seria apagada em definitivo. O Facebook também reagiu e suspendeu as contas de Trump durante 24 horas.

A congressista democrata Ilhan Omar já anunciou que está a preparar um novo pedido de impeachment. Vários políticos apelaram a Mike Pence para que usasse a 25ª. emenda, que permite a remoção do Presidente do poder, se o Vice-Presidente e os principais funcionários dos departamentos executivos estiverem de acordo.

Até agora, a única garantia é que a 20 de janeiro Joe Biden e Kamala Harris vão tomar posse e tornarem-se os próximos Presidente e Vice-Presidente dos Estados Unidos da América, num estado onde o Estado de Emergência foi prolongado por mais 15 dias tendo em vista a cerimónia da inauguração.

Artigo editado por Filipa Silva