De acordo com os resultados das primárias, o atual e o ex-presidente vão defrontar-se nas eleições presidenciais de 5 de novembro. O JPN falou com Germano Almeida, jornalista e especialista em política norte-americana, para perceber que caminho ainda falta fazer até às presidenciais de novembro.

Na passada terça-feira (5), 16 estados norte-americanos foram a votos para eleger os candidatos do Partido Republicano e do Partido Democrata. Conhecido como “Super Terça-Feira” das eleições primárias por ser o momento em que mais estados vão a votos, este dia costuma ser decisivo para o resultado das eleições gerais. Mas este ano ficou tudo em aberto.

Segundo Germano Almeida, jornalista e especialista em política norte-americana, as previsões apontavam para uma ligeira vantagem de Trump em relação a Biden, mas “curiosamente, o que aconteceu na ‘Super Terça-Feira’ não confirmou muito isso”. Aos 16 estados que vão a votos na “Super Terça-Feira”, junta-se ainda o território da Samoa Americana, administrado pelos EUA. No Alasca, apenas se elegeu o candidato do Partido Republicano e, no Iowa, só os democratas foram a votos.

Joe Biden, sem qualquer oposição significativa, venceu em todos os estados que foram às urnas na terça-feira: Alabama, Arkansas, Califórnia, Carolina do Norte, Colorado, Iowa, Maine, Massachusetts, Minnesota, Oklahoma, Tennessee, Texas, Utah, Vermont e Virgínia. O atual presidente perdeu apenas no território da Samoa Americana contra Jason Palmer, um candidato regional, por 11 votos.

Para Germano Almeida, as vitórias de Biden explicam-se de forma “muito simples”. “Quando o presidente em funções se mostra disponível para se candidatar, é complicado estar a desafiá-lo internamente”, afirmou em declarações ao JPN. Ainda assim, apesar de uma vitória evidente, com 1.855 delegados eleitos, a candidatura de Biden pode trazer, segundo o especialista em política norte-americana, consequências para os democratas e conduzir à vitória de Trump. “Há muita gente a achar que o Presidente não tem capacidade para um segundo mandato”, disse.

Joe Biden tem 81 anos e, por isso, a sua ação será decisiva na campanha eleitoral, segundo Germano Almeida. “Ele vai ter que mostrar que está com vitalidade, que não está velho, como muita gente diz. Tem que ter um discurso forte”, afirmou. O jornalista e especialista sublinhou ainda que a campanha para as eleições de 2020 foi “muito especial por causa da pandemia. Com as medidas de restrição, houve muito pouca campanha física, presencial, e isso acabou por beneficiar Biden”. Desta vez, “se o Presidente se proteger muito e não aparecer muito na rua, vai ser complicado”, concluiu.

Biden venceu em todos os estados que foram às urnas na passada terça-feira. Foto: Creative Commons

Já nas eleições republicanas, Donald Trump venceu em 14 dos 15 estados que foram a votos. Em Vermont, a sua adversária, Nikki Haley, conseguiu obter 50% dos votos, contra os 46% de Trump. Esta vitória vem juntar-se à de Washington DC, onde, com 63% dos votos, conseguiu eleger todos os deputados da capital.

Trump venceu no Alabama, Alaska, Arkansas, Califórnia, Carolina do Norte, Colorado, Maine, Massachusetts, Minnesota, Oklahoma, Tennessee, Texas, Utah e Virgínia. Por isso, para o especialista Germano Almeida, os resultados de Haley não passam de uma vitória “simbólica”

O ex-Presidente dos Estados Unidos obteve vitórias com uma ampla margem, algumas a rondar os 70%. Trump está quase a obter o número de delegados necessário – tem 1.076 delegados eleitos e precisa, no mínimo, de 1.215 – para marcar presença na Convenção Nacional Republicana, em julho. 

Donald Trump a discursar em campanha em Arizona. Foto: Gage Skidmore/Creative CommonsCC BY-SA 2.0

Na visão de Germano Almeida, mesmo com “uma base muito forte e mobilizada”, nada está garantido para Donald Trump. O especialista acredita que a falta de homogeneidade do partido em relação à posição do ex-Presidente pode favorecer uma vitória democrata na eleição geral. “Do lado republicano, Nikki Haley conseguiu arrecadar cerca de um terço dos votos”, mas ainda que “um terço do campo republicano seja pouco” para a nomeação de um candidato, pode ser o suficiente para “ter um problema na eleição geral”, explicou, dizendo que “não é certo que este um terço que não votou nele do lado republicano vá depois votar nele e no partido [em novembro]”. Ainda assim, Germano Almeida não nega que a votação será renhida e que, embora esteja “a cumprir o essencial do lado democrático”, Biden “irá ter problemas na eleição geral”.

Por exemplo, no estado do Michigan foi notório o desagrado com o atual Presidente. Muitos eleitores optaram pelo voto “descomprometido”, como forma de protesto contra a posição norte-americana em relação à guerra em Gaza. Como explica Germano Almeida, “geralmente, a política externa não é decisiva na eleição americana”, mas face à grande comunidade de árabes-americanos no estado, a posição de Biden ressentiu-se. “Os cento e tal mil árabes americanos do Michigan, que tendencialmente votam mais democrata, se não o fizerem por causa do apoio de Biden a Israel, será um problema relevante”, continuou o jornalista.

No Minnesota, o voto “descomprometido” foi a opção de 20% dos eleitores. Já na Carolina do Norte, 12% dos eleitores votaram na opção “sem preferência”, deixando claro que querem mudanças nas políticas de Biden. Fica visível que a forma como o atual Presidente vai lidar com a questão israelo-palestiniana vai ser decisiva, quer para o apoio do eleitorado, como para a ala esquerda do Partido Democrático.

As eleições primárias continuam esta terça-feira (12). Os estados da Georgia, Mississippi e Washington são os próximos a eleger para ambos os partidos políticos. Mas, para Germano Almeida, “não vai ter grande importância, porque os candidatos estão escolhidos”.  

Ainda assim, até ao decisivo 5 de novembro, dia em que se realizam as eleições presidenciais nos EUA, os dois candidatos vão ter que percorrer um longo caminho. Germano Almeida destacou as duas convenções como “os momentos mais importantes até às eleições” – a republicana em julho, no Wisconsin, e a democrata, em agosto, no Illinois. Para além disso, o especialista falou sobre os debates, que vão ser igualmente importantes, e nos quais os candidatos terão que adotar “um discurso forte”.

Editado por Inês Pinto Pereira