O Mercado Bom Sucesso está a mudar e vai passar a contar com um supermercado, 40 lojas e restaurantes e 26 bancas, quiosques amovíveis remodelados e uma zona de convívio. As obras de requalificação já arrancaram e o diretor do mercado, Marco Massano, garante que os trabalhos “irão decorrer durante o ano de 2021″. As obras vão decorrer “na sua maioria, durante o período em que o mercado está encerrado ao público.”
Contudo, o responsável pelo mercado alerta, em resposta às perguntas enviadas pelo JPN, que “alguns trabalhos mais relacionados com as alterações das bancas conviverão com o normal funcionamento do mercado”.
No que toca à organização do espaço, Marco Massano revela que “as bancas alimentares dedicadas a restauração ou à venda de outro tipo de produtos irão manter-se no núcleo central do Mercado.” Já o supermercado vai “ocupar a área da antiga zona dos frescos do mercado, com uma entrada direta exterior pelo Largo de Ferreira Lapa. O “Continente Bom Dia” vai “operar com uma oferta de conveniência centrada em produtos da área de frescos e take away de livre serviço”, explica ainda o diretor do mercado.
Ao JPN, Marco Massano garante que as obras em curso não colocam em causa a identidade do espaço e defende que “esta renovação pretende acrescentar valor, mantendo a matriz tal como hoje é conhecida, mas melhorando o conforto e a oferta existente”.
O diretor do mercado reforça que “pretende revitalizar o Mercado do Bom Sucesso e reforçar a sua identidade com uma oferta diversificada e de qualidade, no total respeito das suas características arquitetónicas, mantendo o mercado como um polo central na cidade, um ponto de contacto entre os portuenses”, vinca o responsável.
Supermercado divide opiniões na câmara
A concessão do Mercado do Bom Sucesso era, até 2019, em 75%, detida pela Mota Engil. Nesse ano, a construtora passou a gestão da participação para um consórcio que junta a Mercado Prime (detida pelo Grupo Luísa Amorim) e a Sonae Sierra. O pedido de autorização de transmissão do capital social foi aprovado pela Assembleia Municipal do Porto em dezembro de 2019, com a oposição da CDU e a abstenção do PS.
Na altura, o presidente da Câmara do Porto, Rui Moreira vincou que havia “salvaguardas” no caderno de encargos que impediam que o mercado fosse “transformado num supermercado”. Agora, depois de a autarquia ter aprovado o pedido de licenciamento para requalificar o espaço, o assunto voltou a ser alvo de discussão na reunião de Câmara de segunda-feira (8), na qual o vereador do PS, Manuel Pizarro, afirmou que está a acontecer o que o antigo vereador do PS, Manuel Correia Fernandes, tinha previsto: “a transformação do espaço, nos termos do concurso que a câmara fez na altura, ia acabar com o Bom Sucesso como um supermercado em vez de um mercado”. Rui Moreira retorquiu que o projeto aprovado respeita “aquele que foi decidido na altura”.
A CDU mantém a mesma posição que afirmou em 2019 e defende que “os projetos de licenciamento deveriam ser decididos no executivo municipal e não por um vereador só”. Nesse sentido, a vereadora comunista, Ilda Figueiredo, em declarações ao jornal “Público”, lamentou que o processo nunca tenha ido à câmara e que “não tenha havido uma possibilidade prévia de discussão no conjunto do executivo antes da formulação da decisão”.
Em resposta à vereadora da CDU, a autarquia refere que “desde o início do atual mandato, no pelouro do urbanismo, já foram praticados mais de 9.200 atos, ao abrigo da delegação de competências da Câmara no Presidente – aprovada sem qualquer voto contra – e na subdelegação de competências no vereador” e lembra que “a delegação ou subdelegação não exclui o licenciamento de edifícios classificados”.
Projeto aprovado pelo DRCN E DGPC
O Mercado Bom Sucesso é, desde 2011, considerado monumento de interesse público e, por isso, para fazer obras na infraestrutura é preciso o aval da Direção Regional de Cultura do Norte (DRCN) e da Direção-Geral do Património Cultural (DGPC). À Agência Lusa, a DRCN referiu que emitiu parecer favorável aos dois pedidos que recebeu, um do Mercado Urbano – Gestão Imobiliária, SA e um outro do Modelo Continente Hipermercados, S. A.
“Tendo em conta que a intervenção interior proposta não produz alterações significativas no caráter espacial e na identidade formal do edifício, não agravando o impacto da sua anterior transformação, este pedido mereceu parecer favorável por parte da DRCN e DGPC [Direção-Geral do Património Cultural]”, referiu a entidade que tomou a decisão a 2 de dezembro último.
Artigo editado por Filipa Silva