Não é a primeira vez que Aníbal Zola e Rita Ravasco trabalham juntos. O primeiro contacto aconteceu em maio de 2020, quando a plataforma Gerador os desafiou a fazer uma colaboração. “Acho que a Gerador deve ter encontrado algum ponto de contacto. Talvez por a minha música ser colorida, digamos assim. Por ter algo de caricatural, também”, afirma Aníbal Zola, ao JPN. “Por acaso, a primeira vez que vi o trabalho do Aníbal identifiquei-me logo com alguma coisa, é engraçado”, conta, por sua vez, Rita Ravasco.

A dupla atua este sábado (19), no Hard Club. O espetáculo “Nós Em Tempos Sós” revisita temas do disco “amortempo”, de Aníbal Zola, e revela algumas composições novas e peças desenvolvidas especialmente para este evento, num processo de interação entre som e imagem.

É uma continuação da parceria entre os dois artistas, devido a uma vontade de ir mais longe: “O trabalho foi interessante quando o fizemos para o Gerador. Acho que foi fixe e fácil de desenvolver e deu-me vontade de fazer isto ao vivo e desenvolver um bocadinho mais”, explica o Aníbal Zola.

Questionados sobre como é que o casamento entre as duas artes correu tão bem, afirmam que tem tudo a ver com a sensibilidade e com o impacto. “É preciso ter sensibilidade para criar sobre um estilo de música. Se eu não me sentisse atingida pela música nunca conseguiria criar alguma coisa sobre ela”, esclarece Rita Ravasco.

Segundo o músico, é também necessário ter pontos de partida e métodos de trabalho em comum: “Eu tenho na minha forma de compor uma vertente experimental, gosto de fazer coisas diferentes, gosto de me sentir vivo nesse sentido e eu sinto isso no trabalho da Rita também. Acho que temos esse ponto em comum”.

A admiração e o respeito pela arte de cada um é mútua e ambos confirmam sentir-se inspirados pelo trabalho do outro: “Quando comecei a desenvolver os vídeos para esta segunda parte da parceria, antes de gravar meti a lista toda que o Aníbal me enviou e assim estava a ouvir à medida que produzia o vídeo e a coletar vários momentos que foram feitos já com a música. Senti-me embalada, digamos”, afirma a artista plástica.

“Eu também fiz um bocado isso, vi o vídeo sem música e comecei a experimentar coisas por cima e havendo um rastilho foi mais fácil”, acrescenta Aníbal Zola.

E o que podemos esperar do concerto no Hard Club? “O concerto vai ser como ir ao cinema: vai haver um vídeo durante o concerto todo, a acompanhar a música. A ideia era vender o concerto dessa forma porque achamos que é diferente e é isso que tem piada”, explica o músico portuense. “É como se estivéssemos a dar outra dimensão à sala. As pessoas podem estar envolvidas em duas realidades e o público pode tornar uma terceira realidade possível”, diz ainda Rita Ravasco.

Os artistas explicam que o concerto envolve dois processos diferentes: “Um processo é parecido com o que fizemos online para a Gerador, em que eram músicas minhas e a Rita fez o trabalho por cima. Neste concerto vai haver, também, uma parte ao contrário, em que fui eu que desenvolvi música nova por cima de uma viagem da Rita”, explica o músico portuense.

Para além disso, os dois artistas prometem uma melhoria significativa em relação ao primeiro concerto em conjunto, dado em regime online. Desta vez, puderam preparar-se sem pressas.

“A primeira vez foi uma coisa muito rápida. E nós fizemos da forma que era mais plausível para aquele tempo. Juntei as minhas músicas, mandei à Rita e depois foi uma espécie de ping-pong: mudei isto aqui e acolá… fomo-nos adaptando até chegarmos ao resultado final”, explica Aníbal Zola.

Questionados sobre se haverá mais espetáculos como o do Hard Club a resposta é, para já, negativa: “Não sei se vai acontecer mais vezes, isso dependerá do interesse à volta do espetáculo. Tenho espetáculos meus em julho, mas isto foi pensado para ser um espetáculo especial, único”, diz o artista portuense.

Ambos mostram-se disponíveis para mais colaborações no futuro, havendo até já algumas ideias: “Acho que um videoclipe, por exemplo, podia ser uma coisa fixe para a Rita fazer. E se a Rita quiser que eu faça alguma coisa para ela, também estou disponível”, afirma Aníbal Zola.

“Sim, porque não? Isto é para descobrir coisas novas, por isso é sempre bom”, remata a artista alentejana.

Artigo editado por João Malheiro