Insegurança e venda de artigos ilegais são razões apontadas pela Câmara Municipal do Porto para encerrar a Feira do Cerco, em Campanhã, no final do ano. Os feirantes contestam que esse seja o clima e queixam-se da limitação do espaço que ocupam na Alameda de Cartes. Em 2022, promete a autarquia, nascerá um "feiródromo" em Campanhã.

Transcrição da reportagem

Os gritos dos feirantes do Cerco vão dar lugar ao silêncio no final do ano. A Câmara Municipal do Porto decidiu avançar com o encerramento de uma das principais feiras da freguesia de Campanhã. A insegurança é uma das razões apontadas. Quem cá vende, não compreende a decisão. O vendedor Daniel é um dos que criticam a autarquia.

Daniel: “É a maior aldrabice que existe na Câmara, porque a Câmara está a dizer que não existe segurança. É mentira. 100% mentira!”

A Feira do Cerco está hoje só aberta de um dos lados da pouco movimentada Alameda de Cartes. Margarida, vendedora há 20 anos, identifica a redução de espaço como um problema.

Margarida: “Não é correto aquilo que a Câmara está a fazer. Porque fecharam do outro lado, tiraram os locais [de venda] que eram das outras pessoas e meteram aqui. Agora, as outras pessoas querem o sítio para trabalhar e não têm onde.”

O atual executivo autárquico justifica a decisão do fecho com o clima de insegurança e ilegalidade que verifica na feira. Dos atuais 251 feirantes, a Câmara identifica apenas 28 em estado legal. Em reunião de executivo, realizada a 8 de novembro, o presidente Rui Moreira denunciou a necessidade de um forte dispositivo policial.

Rui Moreira: “Um determinado evento público, seja uma feira ou seja o que for, não pode viver na condição de lá haver uma presença policial”. 

Às críticas de Rui Moreira, somam-se as do vereador do Turismo e Comércio. Ricardo Valente não compreende como a Feira do Cerco pode existir nas atuais condições.

Ricardo Valente: “O que nós não podemos ter é uma feira que a ASAE nos diz que é um dos maiores centros de venda de contrafação da região norte”.

Na Feira do Cerco predomina a venda de vestuário e calçado todos os domingos. Para Artur Andrade, presidente da Associação dos Feirantes do Distrito do Porto, Douro e Minho, o executivo tem pecado por inação na resolução dos problemas.

Artur Andrade: “Ao longo dos anos, a Câmara foi permitindo que os feirantes que não pagavam o lugar continuassem a vender e nunca se importou. Só agora, nesta fase, em que se calhar têm um novo projeto para a criação de um feiródromo, é que está importada com essa situação.” 

A Câmara prevê a abertura de um novo feiródromo em Campanhã já no próximo ano. A Feira da Vandoma junta-se à do Cerco num local por anunciar. Quer vendedores quer clientes pretendem mudar-se para o novo espaço. Os feirantes como Rui Leal lamentam o fim da histórica feira.

Rui Leal: “Aqui, é uma feira em que já temos os clientes criados e tudo. Na outra, temos de criar tudo. Temos de começar do zero. E depois vamos vendo: dá, dá; não dá, vamos embora.”

A partir do próximo ano a Feira do Cerco passa a ser a Feira de Campanhã. A comunidade perde a conversa de banca em banca e ganha a saudade de uma tradição com os dias contados.

Esta reportagem foi realizada no âmbito da disciplina de AIJ Rádio – 3º ano