A indústria da arte tem vindo a adaptar-se às novas realidades sociais, políticas e tecnológicas do mundo. Talvez dê agora o maior salto de todos: a criptoarte – nome que designa a arte registada com recurso a tecnologia Blockchain – tem ganho cada vez mais preponderância e já é, atualmente, um mercado que movimenta milhões de euros.

É também por isso, mas não só, que Miguel Rodrigues, escultor baseado em Lisboa, se aventurou pelo mundo da arte digital: “Interessei-me pela arte digital na perspetiva de poder ter mais um meio com que trabalhar e mais uma forma de explorar as minhas ideias”.

“A criptoarte vai mudar o paradigma da arte e da nossa relação com ela, que era muito estática”, acrescentou em entrevista ao JPN.

O artista plástico, em parceria com o Grandpa’s Lab, um estúdio de arte digital sedeado no Porto, transformou uma das suas esculturas – “Vannerie d’Or, Op. 5.1” – num NFT (ou token não fungível), que foi exibido em maio no festival Rare Effect em Lisboa, naquele que foi o primeiro evento de criptoarte na Europa.

A escultura de Miguel Rodrigues, transformada num NFT
Foto: Arroz Estúdios (Twitter)

“As minhas peças têm movimento, são momentos congelados no tempo. A nossa ideia era criar o momento que deu origem à peça”, explica o artista.

Arte digital atrai outro tipo de clientes

Em relação às principais características que distinguem a arte digital da arte tradicional, Miguel Rodrigues destaca uma: “A criptoarte trouxe uma coisa muito interessante: um novo cliente que não existia para as obras de arte. Pelo que tenho visto, muitos colecionadores de criptoarte não eram colecionadores de obras de arte tradicional.”

Na Arroz Estúdios, no Beato, por exemplo, o escultor recorda que “muitos colecionadores iam pelas obras de arte digitais e depois ficavam também muito interessados nas físicas, e vice-versa.”

Para Miguel Rodrigues, a autenticidade dos tokens é outra vantagem que facilitou a transição de alguns artistas para o mundo digital: “Os NFT garantem a proveniência da arte digital. As pessoas têm agora a certeza de que a peça é sua e isso tem um certo valor. Isso abriu caminho para os artistas passarem para o digital com confiança”, reflete.

Além disso, também a portabilidade é um ponto a favor das obras de arte digital, que, ao contrário das peças tradicionais, podem ser “movidas” em segundos, para qualquer parte do mundo.

Por fim, o artista recusa a possibilidade de haver uma substituição de um tipo de arte pelo outro, salientando que o digital e o tradicional podem coexistir: “Há espaço para tudo, para o analógico e para o digital. Um não vai anular o outro. Os artistas estão a tentar perceber como acrescentar estas novas ferramentas ao seu trabalho”.

“Quer gostemos ou não, a humanidade está a construir uma realidade virtual, daí que, a par do mundo da arte ‘real’, seja preciso também um digital”, concluiu.

O panorama da arte digital em território português tem ganho notoriedade, com alguns artistas como Vhils, Rodolfo Oliveira e Luís Afonso a criarem NFT a partir de vídeos, esculturas ou cartoons.

A nível internacional, já houve NFT adquiridos por centenas de milhares e até mesmo milhões de dólares, caso do primeiro tweet de Jack Dorsey, fundador do Twitter, que foi leiloado por 2.9 milhões de dólares (cerca de 2.57 milhões de euros), e da peça “CROSSROAD” em formato de vídeo, do artista Mike Winkelmann, vendida por 6.6 milhões de dólares (5.85 milhões de euros).

Artigo editado por Filipa Silva

Este artigo foi realizado no âmbito da disciplina TEJ II – Online – 2.º ano.