Com três prémios do júri e quatro do público, o jornal “Público” foi o órgão em maior destaque nos Prémios de Ciberjornalismo de 2021. Foi nas categorias de Excelência Geral em Ciberjornalismo, Última Hora, Narrativa Vídeo Digital e Infografia Digital que o jornal diário levou os louros.

Os trabalhos “Eleições nos EUA: Biden vence no Michigan” e “Raio-x a três surtos de covid-19” valeram as distinções ao jornal nas categorias de Última Hora e Infografia Digital, respetivamente. Na votação do público, também o trabalho “O comércio local à procura dos clientes (des)confinados” mereceu o prémio na categoria de Narrativa Vídeo Digital. É o quarto ano consecutivo que é atribuído ao “Público” o prémio de Excelência Geral em Ciberjornalismo, quer por parte do júri, quer por parte do público.

Na votação do público, a Rádio Renascença (RR) venceu, juntamente com o Público, a distinção de Última Hora. A RR obteve também o prémio na categoria de Narrativa Vídeo Digital. Foram, ainda, duas as distinções atribuídas ao jornal revelação Mensagem de Lisboa, que levou para a sua recente redação os prémios de Narrativa Sonora Digital e de Ciberjornalismo de Proximidade.

A melhor Reportagem Multimédia distinguiu um trabalho da Divergente, que se tinha estreado a ganhar esta mesma categoria na edição de 2018.

Quanto ao Ciberjornalismo Académico, foi o trabalho “Nas profundezas do íntimo. A pornografia à sombra do desejo” que valeu o prémio ao jornal online ComUM. Nomeadas, nesta categoria, estavam também, as reportagens “Europa: o porto seguro? A viagem de uma família em busca de paz”, também com origem na Universidade do Minho, e “Síndrome de Tourette: Os tiques não os definem”, do JPN.

Os Prémios do Ciberjornalismo, criados em 2008 e atribuídos anualmente pelo Observatório do Ciberjornalismo (ObCiber), com sede na Universidade do Porto, contaram, este ano, com um júri de 13 elementos presidido por Pedro Jerónimo (U.Beira Interior). Os vencedores foram anunciados por Ana Isabel Reis (U.Porto) esta quarta-feira, 15 de dezembro. Segundo o presidente do júri, houve 143 trabalhos na corrida aos prémios e uma votação recorde por parte do público, com mais de 6 mil votos registados. Entre os temas abordados nos trabalhos, a pandemia marcou uma forte presença.

Desinformação em debate

Antes da entrega dos prémios, ocorreu a sétima edição das Jornadas do Observatório do Ciberjornalismo, na qual se debateu o tema “Cibermeios e Desinformação”. A sessão contou com Hélder Bastos (U.Porto) como moderador e o debate fez-se com a participação dos oradores Gustavo Cardoso (ISCTE), Natália Leal (Agência Lupa-Brasil), Ramón Salaverría (U.Navarra) e Luísa Meireles (Agência Lusa).

Prémios do júri:
Excelência Geral em Ciberjornalismo
Público
Última hora
Eleições nos EUA: Biden vence no Michigan” – Público
Reportagem Multimédia
“Por ti, Portugal, eu juro!” – Divergente
Narrativa Vídeo Digital
“Diário de uma médica no pico da pandemia” – Rádio Renascença
Narrativa Sonora Digital
“Ouvir Lisboa na pandemia, a cidade dos silêncios” – Mensagem de Lisboa
Infografia Digital
“Raio-x a três surtos de covid-19: o lar onde metade dos utentes ficaram infectados” – “Público”
Ciberjornalismo de Proximidade
“Heróis da cidade. Orientavam os putos do bairro, agora salvam famílias da fome” – Mensagem de Lisboa
Ciberjornalismo Académico
“Nas profundezas do íntimo. A pornografia à sombra do desejo” – ComUM

Prémios do público:
Excelência Geral em Ciberjornalismo
Público
Última hora (ex aequo)
Eleições nos EUA: Biden vence no Michigan” – Público
E “Invasão do Capitólio faz quatro mortos” – Rádio Renascença
Reportagem Multimédia
“’Nada disto que estamos aqui a fazer é normal’: 36 dias no cemitério da Europa” – Expresso
Narrativa Vídeo Digital
“O comércio local à procura de clientes (des)confinados” – Público
Narrativa Sonora Digital
“Ouvir Lisboa na pandemia, a cidade dos silêncios” – Mensagem de Lisboa
Infografia Digital
“Um guia para as vacinas” – Público
Ciberjornalismo de Proximidade
“Pandemia aos olhos dos idosos” – AltoMinho.tv
Ciberjornalismo Académico
“Nas profundezas do íntimo. A pornografia à sombra do desejo” – ComUM

A propósito do tema em debate, Ramón Salaverría apontou para a existência de “territórios intermédios” entre a verdade e a falsidade, insistindo que o jornalismo se deve posicionar sempre no território da verdade. O autor espanhol aceita uma margem de erro na produção jornalística, distinguindo-a, no entanto, da mentira, pela intencionalidade de enganar a audiência: “Não se pode falar de mentira no jornalismo, apenas de erro. A partir do momento em que há mentira, não se pode considerar essa prática jornalismo”, afirmou na sessão que decorreu exclusivamente online, como, aliás, a entrega dos prémios.

Salaverría admite, ainda, que a subjetividade do julgamento do público pode ser um entrave à constatação da verdade. Dito de outro modo, o leitor tenderá a constatar como verdade o discurso que vai ao encontro das suas convicções, levando a que haja uma sobreposição de um “jornalismo de verdades” sobre um “jornalismo de factos”.

A diretora de informação da Agência Lusa, Luísa Meireles, também considera que a forma subjetiva como as informações são veiculadas, sobretudo por comentadores, afeta a perceção do público e dificulta o discernimento dos factos e das opiniões. Já para auxiliar o leitor no processo de deteção de notícias falsas e de verificação de factos, a jornalista sugere a utilização de ferramentas de combate à desinformação, tais como os sites Combate às Fake News e InfoRadar, projetos desenvolvidos pela Agência Lusa.

No Brasil, a enorme disseminação de fake news originou a fundação, em 2015, da primeira agência de fact checking do país, a Agência Lupa. Natália Leal alertou, na sua intervenção, para as mudanças que o jornalismo sofreu devido à alteração da forma como comunicamos, enfatizando a necessidade de haver uma adaptação do jornalismo aos meios atuais. Também Gustavo Cardoso problematiza o fenómeno da desinformação, vendo esta como uma consequência direta da forma como comunicamos hoje em dia, a chamada “comunicação em rede”, destacando o investigador a vertente de comunicação interpessoal com o uso de ferramentas como o Whatsapp, Telegram ou Facebook.

As Jornadas de Ciberjornalismo deverão regressar para o ano em versão presencial – assim o desejou a organização – depois de duas edições consecutivas à distância.

Artigo editado por Filipa Silva