O franchise Idols” foi criado por Simon Fuller e desenvolvido pela produtora Fremantle Media. Em 2001, surgiu no Reino Unido o “Pop Idol”, a versão original de um formato que, 20 anos depois, já chegou a cerca de 150 países.

O objetivo passa por encontrar o “ídolo pop” do país, ou seja, uma pessoa com performance e voz extraordinárias dentro de um registo popular. Os concorrentes são avaliados por um júri e, mais tarde, já na fase das galas, passam a estar sob o escrutínio do público.

Nas fases iniciais, para além dos putativos futuros “ídolos”, a vertente de entretenimento televisivo leva à inclusão dos chamados “cromos”. O programa procura, assim, fase após fase, eliminar candidatos até poder proclamar o “ídolo” de um determinado país, que é premiado, por exemplo, com a possibilidade de editar um álbum ou de estudar música em escolas especializadas.

O certame já deu a conhecer várias estrelas mundiais como Kelly Clarkson, Philip Phillips, Carly Rae Jepsen, Adam Lambert e Jennifer Hudson, entre muitos outros. Uns ganharam, outros não, mas todos têm em comum o facto de ter sido este concurso de talentos a sua rampa de lançamento.

Com a denominação “Ídolos”, a Fremantle trouxe o formato para a SIC, em 2003. O programa conta com seis edições portuguesas, a última das quais em 2015, e deu a conhecer nomes como Diogo Piçarra, Carolina Deslandes e Luciana Abreu.

Os vencedores portugueses

A primeira edição, em 2003, foi vencida por Nuno Norte. Conhecido pela voz rouca, que lembrava Kurt Cobain, o concorrente natural do Porto foi o primeiro “ídolo” de Portugal.

Desde então, lançou um disco de originais (“Sabe a Sal”), colaborou com a Filarmónica Gil (de João Gil) e continua a fazer parte de uma banda de tributo aos Nirvana (Teen Spirits). No entanto, o estatuto de “ídolo” não resistiu à passagem do programa e hoje atua, sobretudo, em espaços mais reservados.

O êxito de audiências da primeira edição levou a SIC a apostar numa segunda logo no ano seguinte. Sérgio Lucas foi o vencedor de uma sequela que não teve o mesmo mediatismo que a precedente.

O antigo carpinteiro é, hoje, ainda menos recordado do que Nuno Norte, apesar de continuar a fazer música e ter participado em musicais de Filipe La Féria. Contudo, refira-se, o encenador já conhecia Sérgio Lucas antes da participação no “Ídolos”, pois já havia entrado numa série musical televisiva produzida por La Féria em 1997.

Dado o falhanço televisivo que foi a segunda temporada, o canal de Carnaxide só voltou a investir no formato em 2009. Filipe Pinto, que antes do casting com o júri chegou a dizer que o programa não lhe dizia nada, sagrou-se vencedor depois de ser o mais votado em todas as galas.

Ao longo do programa, o cantor apresentou-se sempre com um registo muito longe daquilo que se associava a um “ídolo” pop. Temas como “Ouvi Dizer”, dos Ornatos Violeta, ou “Letting the Cables Sleep”, dos Bush, fizeram parte das escolhas de um músico que não se conseguiu afirmar, apesar de todo o mediatismo que o rodeou enquanto o programa foi transmitido e dos dois álbuns que editou desde então.

No ano seguinte, Sandra Pereira tornou-se naquela que é, até hoje, a única vencedora do sexo feminino do “Ídolos”. Muito elogiada pelo quarteto de jurados liderado por Manuel Moura dos Santos, que várias vezes apelou ao voto na concorrente, a intérprete foi premiada com uma bolsa para estudar na London Music School.

Adotou o nome artístico Jahde, mas, apesar do lançamento de um álbum, hoje o comum leitor lembrará tanto o nome de batismo como o artístico. O único registo de Jahde que podemos encontrar na internet é a música “Feel Free”, pois todo o restante álbum já não se encontra nas plataformas de streaming.

Sem o impacto nas audiências da SIC que tiveram a primeira e a terceira edições, a quinta chegou em 2012 e coroou Diogo Piçarra como vencedor. Apresentou-se no casting com uma inovadora versão de “Se Eu Fosse Um Dia o Teu Olhar” do, na altura, jurado Pedro Abrunhosa, que garantiu ter ficado “absolutamente encantado.”

Com três álbuns editados – o último dos quais, “South Side Boy”, de 2019 – Piçarra já pisou os Coliseus e prepara-se para, em 2022, tocar pela primeira vez na maior sala do país – a Altice Arena. De todos os vencedores, Diogo é, assim, aquele que melhor conseguiu transpor o rótulo de “ídolo pop” para fora do pequeno ecrã.

A sexta e, até à data, última edição foi ganha por João Couto, em 2015. Apesar do inédito “não” de um dos jurados – neste caso, Maria João Bastos – a um vencedor aquando do casting, o concorrente gaiense nunca chegou a estar entre os menos votados nas galas.

Um dos prémios que recebeu permitiu-lhe a edição do álbum “Carta Aberta” (2018) pela Universal Music Portugal, porém, a visibilidade conquistada no concurso não teve seguimento. Cessado o contrato com a grande editora, João Couto tornou-se músico independente e editou este ano o segundo álbum de originais, “Boa Sorte”, com o qual procura voltar a aproximar-se do grande público.

Os vencidos

Em 75 finalistas, apenas seis chegaram a vencedores. Dos restantes 69, poucos são os que mantêm uma carreira de relevo no entretenimento. Porém, há exceções e apenas fica a dúvida: quais delas o “Ídolos” catapultou?

Luísa Sobral foi terceira classificada na primeira edição do “Ídolos”, mas decidiu seguir o jazz ao ingressar na Berklee College of Music (Boston). Só oito anos depois do programa lançou o seu primeiro álbum, “The Cherry on My Cake” (2011), que chegou a ser disco de platina e de onde saíram os sucessos radiofónicos “Not There Yet” e “Xico”.

Apesar do sexto lugar na segunda edição, a SIC repescou Luciana Abreu para protagonizar a série infantil “Floribella”, em 2006. A participação neste projeto e a gravação dos temas da banda sonora lançou-a para o estrelato (o álbum da primeira temporada é, ainda, o disco mais vendido de sempre em Portugal!) e, hoje, mais afastada da música, continua a ser uma das caras mais emblemáticas da televisão generalista.

O mediatismo da terceira edição serviu, também, para projetar Carolina Torres. Pedro Boucherie Mendes, diretor da SIC Radical e jurado nesta temporada, considerou o seu perfil ideal para a apresentação do famoso programa “Curto Circuito”, ao qual se seguiram incursões pelo mundo da representação (televisão, cinema e teatro).

Também da terceira edição saiu Salvador Sobral. O facto é que ninguém se lembra de Salvador por ter participado no “Ídolos”, mas sim por ter sido o primeiro (e único) vencedor português do Festival Eurovisão da Canção (em 2017), com o tema “Amar Pelos Dois”, escrito pela irmã – e também antiga concorrente – Luísa Sobral.

Antes de vencer a Eurovisão, Salvador Sobral foi sétimo classificado na 3.ª edição do “Ídolos”. FOTO: DIVULGAÇÃO/SIC

Apesar do registo jazz que trazia da sua formação no Hot Clube, foi na pop que Carolina Deslandes encontrou espaço depois na participação na quarta temporada. A cantautora apresentou-se no “Ídolos” bem longe do estilo dos sucessos “Não é Verdade” e “A Vida Toda”, mas foi com temas como estes que cimentou uma carreira que já conta com três álbuns e que, no próximo ano, a fará pisar os coliseus.

Com percurso no teatro musical, Inês Herédia teve uma participação discreta na quinta edição. Ainda assim, partiu para Londres, onde estudou Acting for Screen na Musical Theatre Academy e hoje tem a carreira bem encaminhada como atriz em telenovelas portuguesas, entre as quais “Festa é Festa” (TVI), que ainda se encontra no ar.

Afinal, quem são os “ídolos” de Portugal?

Com base na presença digital dos 75 finalistas das seis edições do “Ídolos”, o JPN procurou perceber quantos deles têm, hoje, como principal ocupação a indústria do entretenimento.

Todos os finalistas do “Ídolos” e a sua atual ocupação profissional.

A maioria (cerca de 65%) encontra-se noutros ramos profissionais, tão distantes do entretenimento como, por exemplo, a medicina dentária ou o ramo imobiliário. Se de alguns nem é possível encontrar rasto, de outros sabemos que voltaram a tentar a sua sorte em concursos similares, sobretudo no “The Voice Portugal” (RTP1).

Um quarto dos ex-concorrentes continua a fazer da música o meio de subsistência, mas apenas quatro exceções conseguiram cimentar carreirasCarolina Deslandes, Diogo Piçarra, Luísa Sobral e Salvador Sobral.

Tal não surpreende o vencedor da última edição, João Couto, que afirma a propósito, ao JPN, que “há certos concorrentes que dão boas narrativas televisivas e outros não”. Nem sempre estas “boas narrativas televisivas” são as que acabam por singrar após o concurso, já que foram “apenas isso” e, depois, “voltam às suas vidas normais.”

Aos quatro nomes referidos podem juntar-se mais três que se encontram a fazer televisão, tendo desse modo uma visibilidade mais alinhada com a participação num concurso de talentos em horário nobre de domingo, num canal generalista. Assim, acrescentamos Carolina Torres, Inês Herédia e Luciana Abreu.

João Couto, com quem o JPN conversou a propósito do mais recente trabalho, acrescenta que o fenómeno resulta também do contraste entre as “vidas muito simples” de alguns concorrentes e a “falta de discernimento e decência que existe na indústria do entretenimento”, que acaba por “assustá-los.” Assim, justifica que, casos internacionais como o de Adam Lambert e Jennifer Hudson têm mais sucesso no pós-programa, porque, ainda que não tenham ficado em primeiro lugar, já eram “protótipos de estrelas quando lá entraram.”

Importa ainda referir que Bruna Andrade (1.ª edição) e Rúben Madureira (2.ª edição) fazem vida no teatro musical, enquanto Teresa Queirós (5.ª edição) faz dobragens de filmes infantis. Estas podem ser vistas como as grandes exceções por terem enveredado por caminhos de entretenimento menos óbvios por parte de quem participa num programa de talentos como o “Ídolos”.

Carolina Deslandes e Diogo Piçarra fizeram sucesso na música portuguesa depois do programa. FOTO: FACEBOOK OFICIAL CAROLINA DESLANDES

O “Ídolos” propõe-se a encontrar o “ídolo pop”, mas dos sete ex-concorrentes com mais relevância mediática na atualidade, apenas quatro estão ligados à música. Desses quatro, apenas dois – Carolina Deslandes e Diogo Piçarra – alcançaram sucesso devido à projeção que lhes foi dada pelo programa.

No caso dos irmãos Sobral, a propensão jazz de Luísa e o sucesso “eurovisivo” de Salvador, cuja relação com a pop até nem é do seu agrado (vem à memória o “not pop!” exclamado quando, na Eurovisão, o chamaram “romantic pop idol”), afastam-nos de qualquer relação de sucesso derivada do franchise e coloca-os, portanto, numa situação distinta da de Carolina e Diogo.

Feitas as contas, em 75 finalistas, a produção de “ídolos pop” a que o programa se propõe resume-se a Carolina Deslandes e Diogo Piçarra. Nas palavras de João Couto, “o que procuramos numa plataforma de streaming é a estrela” e estes são os que dominam “esta coisa de ser uma estrela pop.”

Artigo editado por Filipa Silva

Este artigo foi realizado no âmbito da disciplina TEJ II – Online – 2.º ano.