Aos 26 anos, João Couto apresentou-se pela primeira vez como músico independente com a edição de “Boa Sorte”, lançado a 1 de outubro. Muito mudou desde que, com apenas 13 anos, começou a dar nas vistas no programa “Uma Canção Para Ti”.

A consagração como vencedor da sexta edição do “Ídolos”, em 2015, deu-lhe a possibilidade de lançar, pela Universal Music Portugal, o primeiro álbum de originais “Carta Aberta”, em 2018. Cessado o contrato que o ligava à editora, desta vez, decidiu trabalhar por conta própria.

Em finais de outubro, o músico recebeu o JPN no seu estúdio caseiro, em Perosinho, Vila Nova de Gaia, ladeado por instrumentos musicais e pela coleção de discos de vinil, que nos convidou a ver. “Com ou sem confinamento, a pré-produção [dos álbuns] passo-a bastante aqui”, garante sobre o último ano e meio passado em pandemia.

O confinamento, ao fim ao cabo, acabou por trazer “mais liberdade de experimentar outros sons, descobrir mais música, ouvir a minha coleção e outras coisas que estavam a surgir na altura.” As ideias para “Boa Sorte” surgiram “a fazer coisas normais” da sua vida e foram trabalhadas com Pedro Pode (doismileoito e S. Pedro), o produtor do álbum.

A colaboração com Pedro Pode

A primeira vez que João Couto e Pedro Pode trabalharam juntos foi no Festival da Canção, mas João já era “mega fã” do artista desde os doismileoito. “Quando o fui ver ao [Auditório] CCOP, já tinha sido anunciado que ele ia ser um dos compositores do Festival da Canção [de 2019] e perguntei-lhe se já tinha cantor para a música [“O Jantar”] – nem sei porque é que perguntei. Soou do género: ‘queres que cante eu?’ – e ele disse que ia ser o Marlon, d’Os Azeitonas”, confessa entre risos.

A história, ainda assim, não tinha terminado ali: “Quando ele me ligou, disse que o Marlon não ia ao Festival e que precisava que eu cantasse a música.” Seguiu-se, então, a natural ida a estúdio para regravar o tema e o que era suposto ser uma sessão de uma hora para gravar, resultou em algo mais: “ficámos até às oito da noite a falar de música”, recorda.

João Couto e Pedro Pode começaram por colaborar no tema “O Jantar”. Foto: João Maia

A meio da conversa, Pedro Pode falou de “Ram”, álbum de 1971 de Paul McCartney, e João confessou-lhe que era o seu disco favorito. “[O Pedro] respondeu: ‘Então, por que é que fizeste o primeiro álbum que fizeste?’ E foi nesse momento que percebi que aquela pessoa sabia onde é que eu queria ir e o que precisava de fazer”, conta orgulhoso.

“Boa Sorte” tem mais a ver com o músico do que o antecessor, pois é “a versão” daquilo que João Couto “gostava que a música pop fosse” e muito disso deve-se à confiança que o produtor lhe deu: “Quando eu chegava com uma música que o Pedro gostava e que estava pronta para gravar, ele não era esquisito em elogiar-me. Se eu chegasse com uma música que estivesse aquém, ele não tinha pudor algum em dizer-me que não funcionava.”

Temas como “Massa do Meio-Dia” e “Escuro” refletem a complementaridade que os dois trouxeram a este álbum: “O ‘Massa do Meio-Dia’, ao nível de som e produção, é definitivamente do Pedro”, diz ao JPN, porque primeiro tinha sido concebido como “uma coisa quase Elton John, ao piano.” Em contrapartida, “Escuro” foi a música que, se dependesse de Pedro, a dada altura, nem tinha entrado no disco, pois “não lhe estava a soar bem.”

O processo criativo

Uma das grandes diferenças deste trabalho para o anterior está na presença de influências mais contemporâneas, enquanto em “Carta Aberta” quis pegar “nas influências mais clássicas, como Rui Veloso”, explica. Assim, foi com naturalidade que nomes como Lorde, Jessie Ware, Vampire Weekend ou Phoebe Bridgers pairaram no horizonte, sem nunca esquecer a música que o “fez querer fazer música”. Conciliar sonoridades foi o caminho.

O álbum conjuga temas festivos com outros de natureza introspetiva, o que o cantautor justifica por ter “sempre um bocado de medo do futuro”, mesmo quando é “mais feliz” nas suas músicas. “A coerência existe nos tópicos”, acrescenta, e dá o exemplo do contraste sonoro dos temas “Massa do Meio-Dia” e “Sexta-Feira 13” nos quais se nota que “foi a mesma pessoa que as escreveu, quanto mais não seja pelo contexto da letra.”

 Para a coerência do álbum como um todo também terá contribuído o facto de “mais de 85% do disco” ter sido feito “a quatro mãos por mim e pelo Pedro”.  Na sua opinião, havia “necessidade minha de me provar como artista e compositor”, mas também da parte do ex-doismileoito em mostrar ser “um produtor incrível, que, efetivamente, é.”

Expectativas para o futuro

Quando lançou “Carta Aberta”, o músico esperava ter tocado mais vezes ao vivo. Agora, com “Boa Sorte”, a expectativa passa por que as pessoas o conheçam “neste elemento”, até porque admite já ter ficado fã de muitos artistas depois de os ver ao vivo e gostava que “acontecesse o mesmo com este álbum.”

Agora que não se encontra sob a alçada de nenhuma editora, depois de cessado o contrato com a Universal Music Portugal, está focado em “comunicar com as pessoas que verdadeiramente importam na música”, sobretudo “público, divulgadores, rádios e distribuidores.” A maturidade, diz-nos, deu-lhe uma lição: “ninguém vai querer melhor para a tua música do que tu próprio.”

Numa altura em que “as ideias estão a borbulhar”, João Couto espera continuar a fazer música: “Agora que pude lançar este disco sinto-me invencível”, declara com confiança. Afinal de contas, o “sucesso modesto” tem vantagens: “Vou aproveitar para fazer o que quero e bem me apetece.”

 

Artigo editado por Filipa Silva

Este artigo foi realizado no âmbito da disciplina TEJ II – Online – 2.º ano.