Até 2026, a Universidade do Porto (UP) espera atrair cerca de 9.500 novos estudantes através do Programa de Formação Multidisciplinar. Esta medida, que inclui projetos financiados ao abrigo do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), contará com um financiamento total de 16 milhões e 326 mil euros, anunciou a universidade em comunicado.

O PRR, programa nacional de investimentos que visa o crescimento económico sustentado após a pandemia, pretende, nos próximos quatro anos, responder a desafios nas áreas da resiliência, transição climática e transição digital em linha com a União Europeia (UE).

Dentro destes eixos, nos quais se inserem esforços de requalificação da população e a modernização de várias vertentes do ensino superior, a UP irá aplicar os 16 milhões de fundos recebidos em dois programas principais – para os jovens, o “Impulso Jovens STEAM” e, para maiores de 23 anos, o “Impulso Adultos”; aplicam-se, também, na criação de novos incentivos para estes estudantes e na renovação de infraestruturas da universidade.

José Castro Lopes, vice-reitor responsável pelos pelouros da Formação, Organização Académica e Ação Social, Saúde e Bem-Estar, diz ao JPN que este Programa de Formação Multidisciplinar, sendo “muito abrangente”, vem permitir a “aplicação em múltiplas vertentes”. Serão elas a “contratação de pessoas, nomeadamente docentes e técnicos, para dar formação e apoio a novas formações; apoio aos próprios estudantes e formandos; aplicação em infraestruturas físicas e reformulação da rede digital”.

O reforço na oferta formativa

Para os jovens

Deste programa, 7 milhões têm como destino a criação de cinco novas licenciaturas na área das STEAM – o acrónimo inglês para designar disciplinas, tidas como fundamentais, das áreas das Ciências, Tecnologia, Engenharia, Artes e Matemática. Este trabalho foi já iniciado com o arranque da Licenciatura em Inteligência Artificial e Ciência de Dados, da Faculdade de Ciências (FCUP) em conjunto com a de Engenharia (FEUP), que aconteceu já este ano letivo.

Nos próximos, correspondentes aos anos de 2022/2023 e 2023/2024, iniciam-se (aguardando-se acreditação prévia da Agência de Avaliação e Acreditação do Ensino Superior, A3ES) os cursos de primeiro ciclo de Bioinformática (FCUP, ICBAS e FEUP); Desenho (FBAUP); Literatura e Estudos Interartes (FLUP); Matemática Aplicada (FCUP); e Saúde Digital e Medicina de Translação (FMUP e FCUP).

Estas licenciaturas “já estavam na carteira”, refere José Castro Lopes, mas avançam agora com este financiamento. A UP acrescenta ainda, em comunicado, que até 2026 irá ser aumentado o número de vagas nas licenciaturas em Engenharia Agronómica (FCUP) e em Inteligência Artificial e Ciência de Dados, entre outras.

A UP é a segunda maior universidade do país. Foto: Gabriella Garrido/JPN

Para maiores de 23 anos

O programa “Impulso Adultos”, que recebe a maior fatia do financiamento – 9 milhões e 325 mil euros -, abrange áreas distintas, nomeadamente nos campos da Sustentabilidade, das Artes e Humanidades, das Ciências Sociais e da Tecnologia. Em destaque estarão, também, formações na área da Educação, da formação de professores à orientação profissional, e da Saúde.

Ao todo, serão 153 novas formações não conferentes de grau, entre cursos de especialização, de estudos avançados e de formação contínua. Apesar do programa não contemplar doutoramentos (3.º ciclo de estudos), estarão aqui incluídos três mestrados profissionalizantes e um na área da Inteligência Artificial. O vice-reitor explica, ainda, que existirá um reforço do programa de bolsas no mestrado de Bioinformática e Biologia Computacional (FCUP), para permitir aos estudantes realizar a respetiva tese de metrado em empresas do setor.

Este é “um programa de formação abrangente feito nas faculdades e com a colaboração de entidades externas”, que “participaram no desenho das próprias f0rmações e proporcionam formadores e temas” para as mesmas. São “mais de 100” entidades envolvidas, entre autarquias e outras entidades públicas, associações e ordens profissionais, escolas e agrupamentos e empresas privadas do Porto e da zona Norte, conta José Castro Lopes.

A requalificação de espaços e redes da universidade

O Programa de Formação Multidisciplinar da UP tem também em vista a modernização de espaços e infraestruturas da instituição. Destaca-se a “parte da frente” do Edifício Abel Salazar, a parte que não pertence ao ICBAS, que será requalificada “de maneira a proporcionar espaços de formação”, como salas de aula e a reabilitação de um grande anfiteatro para acolher novas formações e a utilização futura para outros eventos e uma “ligação entre as formações da universidade e a sociedade”.

A modernização passa também pela infraestrutura tecnológica e informática, com um “update da capacidade digital das faculdades”, confere o vice-reitor. A reestruturação desta rede contempla melhorias nos serviços de Wi-Fi e a adaptação de salas e auditórios para a realização de aulas em regime de e-learning. Permitirá, assim, “o reforço das formações à distância” nesta época de pandemia, “havendo um investimento na rede nuclear e nos dispositivos wireless pelas várias faculdades”.

Outras intervenções infraestruturais ou de melhoria das condições gerais de funcionamento nas faculdades, que não estejam relacionadas com o Programa de Formação Multidisciplinar, não estão contempladas pelo PRR.

Mais apoios e incentivos para estudantes

A juntar às bolsas de ação social atribuídas pelos Serviços de Ação Social da Universidade do Porto (SASUP), as parcerias externas para bolsas e fundos de emergência, assim como cantinas e residências com “preços abaixo do mercado”, refere o vice-reitor, este programa contempla a atribuição de bolsas de mérito para estudantes que ingressem pela primeira vez em ciclos de estudo elegíveis dentro das áreas STEAM.

Para os adultos, prevê-se a comparticipação total ou parcial das propinas referentes a formações não conferentes de grau para pessoas em situação de desemprego ou com níveis mais baixos de qualificações.

Artigo editado por Filipa Silva