Um juiz de Modena, em Itália, decretou na quarta-feira (9) que fosse realizada uma cirurgia cardíaca de emergência a uma criança italiana, de apenas dois anos, depois de os pais terem tentado impedir a realização do procedimento por receio de a criança receber sangue de dadores vacinados contra a Covid-19. Para contornar o problema, o hospital Sant’Orsola, em Bolonha, recorreu à justiça e alegou que a intervenção era urgente e impreterível.

Depois de duas semanas, os médicos receberam a resolução do juiz que autorizava a cirurgia e nomeava a diretora-geral do hospital como curadora encarregada de consentir o procedimento. Segundo o jornal italianoCorriere di Bologna”, o magistrado afirmou que “a saúde do menino vem em primeiro lugar” e que a intervenção deve acontecer o mais rápido possível. “Existem garantias de absoluta segurança no sangue fornecido pelo hospital, qualquer que seja a sua origem, tornando assim qualquer objeção dos pais superável”, concluiu o juiz. 

O periódico italiano informa, ainda, que foram feitos, através de redes sociais, apelos à comunidade anti-vacinas e que uma fila de dadores não vacinados compareceu à porta do hospital. “Apelo urgente. Sangue anti-vax é preciso para uma cirurgia delicada”, dizia a publicação. Mensagens de apoio também foram escritas à família, como o texto de uma integrante do grupo que dizia: “Devemos potenciar o nosso ‘sangue puro’, ofereço-me voluntariamente”.

Claudia Firenze, presidente do centro de dádiva de sangue em Florença, afirma que a doação é anónima e voluntária, e protege tanto quem dá, quanto quem recebe. “É preocupante que se formem filas de pessoas não vacinadas dispostas a dar o seu sangue para outras pessoas não vacinadas, pois, essa visão equivocada pode comprometer todo o sistema de doação”, adverte a presidente.

Em Portugal, a dádiva de sangue de pessoas vacinadas contra a Covid-19 é não só permitida, como incentivada. De acordo com novo plano de contingência do Instituto Português de Sangue e Transplantação, os voluntários que tenham recebido a dose do imunizante serão aceites de imediato, sem nenhum período de suspensão, se assintomáticos, e há a garantia de que não existe “transmissão de vírus respiratórios, incluindo SARS-CoV-2, através de substâncias de origem humana ou medicamentos derivados do plasma, nem foi relatado aumento da morbilidade e mortalidade por Covid-19 em recetores de transfusão de sangue e componentes sanguíneos”.

Artigo editado por Filipa Silva