A cadela Brisa, a caturra Tony, o furão Almeida e os onze animais da família Pereira animam o dia a dia dos seus cuidadores e são já parte da família. Este domingo, dia 20, comemora-se o Dia Mundial do Animal de Estimação.

Por todo o mundo, cães, gatos, pássaros, tartarugas – até furões! – são companheiros fiéis dos seus donos, membros de pleno direito de muitas famílias, polos geradores de afetos que animam o dia de muitas pessoas.

Para além da companhia, está cientificamente comprovado que os animais de estimação melhoram a saúde física e mental dos seus cuidadores, podendo até reduzir a ansiedade e a depressão.

Júlio Rodrigues, médico veterinário, dá alguns exemplos de como essa ajuda ocorre no dia a dia. A começar pelos companheiros de quatro patas: “têm energia para dar e vender” e isso leva a que o dono pratique mais exercício físico, pois “ao levá-lo a passear acaba por adotar um estilo de vida mais ativo”, explica. Com isto, também acabam por socializar mais “com outras pessoas que também tenham animais”.

“Ter um animal de estimação funciona quase como uma rede social e é bastante benéfico para uma pessoa tímida”, afirma o médico veterinário.

Como muitos testemunharam durante os tempos de confinamento pandémico, um animal de estimação pode ser uma peça-chave para combater a solidão e relaxar o dono. “O convívio com um animal, o contacto com o pelo, o próprio ronronar de um gato faz com que libertemos ocitocina, uma hormona capaz de causar sensação de tranquilidade e até felicidade”, acrescenta Júlio Rodrigues.

Outro benefício associado, é o ganho de responsabilidade e competências essenciais para a vida adulta por “estar encarregue da saúde e bem-estar de outro ser vivo”. Por entre afeto e saúde, a verdade é que os animais fazem-nos felizes, sem nunca pedir nada em troca.

Brisa à conquista dos quatro cantos do mundo

Amanda Alencar, estudante de Psicologia de 22 anos, sempre quis ter um cachorro. Pediu tanto aos pais, que um dia foi presenteada com um. Aliás, com uma, porque dois dois meses depois de ter sido acolhida, a família Alencar soube que aquela era afinal uma cadelinha. Brsa foi o nome com que a batizaram.

Em setembro de 2018, a família de Amanda mudou-se da cidade de Salvador da Bahia, no Brasil, para a cidade do Porto, para agarrar uma oportunidade de emprego oferecida ao pai. A cadelinha Brisa tinha apenas um ano na época, mas a família sempre a contemplou nos seus planos: “Quando a gente decidiu se mudar, trazer ela sempre foi uma certeza, mas é um processo meio complicado, ela teve que ficar três meses de quarentena. Mas vir pra cá sem ela nunca foi uma opção”, conta Amanda, “mãe” da shih-tzu, ao JPN.

Brisa já viajou por todos os cantos do mundo com a família. “Mandona”, de “personalidade forte”, a cadela é uma fiel escudeira da família, “muito carinhosa” e sempre presente: “Mudamos de país e trouxemos ela, está sempre incluída em todos os programas familiares, ou a gente leva ela ou não vamos”.

Quem tem um canino sabe que a socialização com outras pessoas é inevitável. No caso de Brisa, a abundância de pelo, característica da raça, atrai muito a atenção. No Jardim do Morro, em Vila Nova de Gaia, são vários os turistas que pedem para tirar uma fotografia com a cadelinha, graças aos seus penteados e adereços no pelo. Diz o velho ditado que o cão é o melhor amigo do homem. Apesar dos gastos e do trabalho, que inevitavelmente o cuidado dos animais envolve, Amanda agradece por ter adotado (uma) Brisa tão serena como esta.

Uma caturra, duas asas e muitas histórias

O Tony pousou no ombro de Beatriz em forma de prenda, no Natal de 2020. O pássaro, cujo nome é uma homenagem ao cantor Tony Carreira, voou para a vida da jovem estudante da Faculdade de Letras da Universidade do Porto  (FLUP) como forma de combater a solidão e alegrar os dias, normalmente cinzentos, da cidade do Porto.

“Vim morar para o Porto sozinha e precisava de ter alguma companhia, só que o meu apartamento é muito pequeno. Então, não dava para ter um cão ou um gato. E como a minha mãe não gosta de roedores, hamsters e animais do género, optei por adotar um passarinho”, explica a estudante de 21 anos.

Já lá vai mais de um ano desde que Beatriz recebeu uma caturra para rechear os ouvidos. Desde aí, a sua vida mudou e para melhor. Para além da companhia calorosa de duas asas, Beatriz tornou-se mais responsável e organizada: “Agora tenho de ter atenção à limpeza da gaiola, chegar a casa a horas certas, porque ele come sempre à mesma hora e dar-lhe vegetais frescos duas ou três vezes por semana, para manter uma dieta saudável. Também tenho de o passear de vez em quando. Ele só vai para a gaiola na hora de dormir e é importante que lá tenha os seus brinquedos”.

Beatriz e Tony vão juntos para todo o lado, “gostamos muito de ir para a Foz, à praia”, conta. Apesar de já ter um gato na casa dos pais, Beatriz acredita que “se habituarmos um animal desde pequeno a confiar em nós, podemos ter um melhor amigo em todos os tipos de animais”. É possível que um dia pouse mais uma caturra no ombro de Beatriz.

Almeida, o furão meio-gato, meio-cão

Patricia Locks mudou-se para Portugal no início dos anos 2000, depois de se casar com um português. Natural do estado de Santa Catarina, no Brasil, é apaixonada por animais, sempre os teve desde a infância. Por ela, já passaram os animais mais exóticos e considerados fora do convencional, da cobra Maria Eugênia até um petauro-do-açúcar. Hoje, Patrícia tem a companhia de um furão, o Almeida.

“O furão é a mistura de um cão com um gato, ele tem a patetice de um cão e a disciplina de um gato”, explica Patrícia ao sobre o porquê de adotar um furão como animal de estimação. Para Patrícia, o Almeida é uma combinação perfeita: “é a companhia, a disciplina, não faz barulho, faz as necessidades sempre no mesmo lugar, não rói nada e dá carinho”. Fica acordado somente por quatro horas durante o dia, no resto do tempo fica a dormir. No entanto, não dorme na cama da dona, porque não quer: “ele escolheu dormir na gaveta dos meus pijamas”.

Segundo Patrícia, Almeida tem uma personalidade peculiar, curiosa e carinhosa, além de uma mania característica da sua espécie: roubar coisas do dono. Muito apegado à dona, já roubou peças de roupa como camisolas e pijamas. Além de companhia, para a brasileira, o Almeida é família.

Na família Pereira, há sempre espaço para mais um

A solidão nunca é sentida por estes lados. No meio de seis gatos, ainda há espaço no coração para mais dois cães, duas tartarugas e uma cabra anã. São estes os 11 animais que preenchem a casa da família Pereira. “Quando nos mudamos para esta casa, os meus pais diziam que não íamos ter animais, porque era muita confusão”, conta Rita, também estudante da FLUP, ao JPN. 

Foi uma questão de tempo até começarem a aparecer gatinhos abandonados que os vizinhos levavam até à casa da Rita para ficar com eles: “Vinham cá a casa e nós ficávamos com os gatos, depois um dos gatos teve filhos, ficamos com eles também. Um dos cães era do meu avô e a cadela era de uns amigos dos meus pais, as tartarugas também nos vieram dar”. “Foi uma acumulação de gatos e cães e a iniciativa de os ter nunca foi nossa”, admite a jovem de 21 anos, frisando que apenas a sua última gatinha foi adotada por iniciativa própria. 

Nesta família o carinho não tem limite, nem espécie, não se divide, apenas se multiplica. A tarefa de tomar conta de tantos animais é enorme e nem sempre fácil, mas quem cuida por gosto não cansa. Para Rita a melhor parte de ter tantos animais é a convivência entre eles. Com um espaço exterior grande, os animais “dão atenção uns aos outros e vão-se criando hierarquias entre eles e grupinhos. É interessante ver a forma como eles interagem e comunicam uns com os outros”. A companhia de tantos animais, por vezes, melhor do que a companhia de pessoas, faz com que a família sinta que vive numa “verdadeira quintinha doméstica”. 

Artigo editado por Filipa Silva