Aos 23 anos, foi a vencedora do Prémio Novos Talentos Ageas em 2021, que decorreu na Casa da Música este mês. Ao JPN, a jovem fadista confessa-se "orgulhosa" do percurso que tem construído e fala sobre a vitória e atuação na sala musical portuense, que lhe soube como "um abraço".

Aos 23 anos, Beatriz Felício ganha o Prémio Novos Talentos 2021. Foto: Casa da Música

Sente que a música “nasceu” consigo e, depois de percorrer casas de fados e tentar a sua sorte em programas de talentos na televisão, Beatriz Felício sente que está pronta para avançar com uma carreira na música. Aos 23 anos, alavanca este desejo com o Prémio Novos Talentos Ageas 2021, do qual foi a vencedora da quarta edição. A entrega do prémio aconteceu na Casa da Música, no Porto, no início de maio.

A música sempre foi a grande paixão de Beatriz. “Acordava e deitava-me com música, desde que me lembro que adoro cantar”, confessa ao JPN.  Teve o primeiro contacto com o fado através da televisão com apenas sete anos; desde aí, a sua paixão foi crescendo e a vontade para evoluir na indústria também. 

A música nasceu comigo, ninguém na minha família canta. O fado não era o tipo de música que se ouvia lá em casa”, conta. Diz que canta desde que se lembra, mas foi quando viu um espetáculo de Amália Rodrigues que passava na RTP que teve contacto pela primeira vez com o fado. “Os meus pais contam que fiquei parada no meio da sala a tentar cantar o que estava a ouvir. No início não percebiam o meu gosto e a minha vontade de cantar fado, mas rapidamente lhes disse que queria ser fadista”, relembra Beatriz.

Com a paixão, entrou no mundo da música muito cedo. Começou por frequentar algumas casas de fado, ao lado dos pai,s que eram bastante inexperientes na área. Depois, acabaram por surgir oportunidades de participar em programas de televisão. Beatriz estreou-se num programa de talentos em 2011, ao participar em “Uma Canção para Ti”. O programa da TVI “marcou” a vida da artista, que na altura tinha 10 anos.

“’Uma Canção Para Ti’ era um programa só com crianças, onde só se cantava música portuguesa, em direto, correndo um risco enorme. Mas era um programa muito bem gerido e bem feito. Lembro-me de cada detalhe dos episódios e a produção era muito boa [para os concorrentes]”, lembra com carinho. Beatriz conta que ainda mantém contacto com alguns dos concorrentes do concurso musical e que consegue assistir a alguns espetáculos dos colegas: “foi um programa que nos abriu as portas para o mundo real da música e ainda hoje há pessoas que me reconhecem por causa do programa”. 

Mais tarde, volta a participar noutros formatos. Em 2015, participou no programa “Grandes Prémios Fados” e no “The Voice Portugal”, da RTP. Acaba também por participar no “Festival da Canção” em 2017, com o tema “Ao Teu Olhar”, uma composição de Jorge Fernando.

No entanto, foi nas casas de fado, em Lisboa, que recebeu dos mais velhos os ensinamentos e escolheu as suas grandes referências — Amália Rodrigues, Fernanda Maria, Teresa Tarouca, Lucília do Carmo, Ana Moura e Carminho —, dando, assim, os primeiros passos nesta que se tornou a sua canção. Beatriz Felício canta diariamente em algumas das principais casas de fado lisboetas, como a Mesa de Frades, a Parreirinha de Alfama, a Casa de Linhares — Bacalhau de Molho e o Fado Menor. 

Prémio Novos Talentos: “ter ganho foi fruto do meu trabalho”

Beatriz Felício foi a vencedora do Prémio Novos Talentos Ageas em 2021 – criado pela Fundação Casa da Música e pelo grupo Ageas Portugal, tem como objetivo incentivar o trabalho de músicos emergentes. Atuar na Casa da Música foi um momento “importantíssimo” para artista, que o considera “um passo muito grande” na construção da sua carreira. Aqui aprendi a estar em palco. Ter apenas 20 minutos para fazer uma apresentação, saber gerir o tempo… Adorei participar e ter ganho foi fruto do meu trabalho, mas também tive sorte”, acredita.

A fadista – acompanhada por Rui Poço, na guitarra portuguesa, João Domingos, na viola de fado, e Diogo Alexis, no baixo – interpretou “Fado Maestro”, “Fado Cravo”, “Fado Errado”, “Eu já não sei”, “Malhão de Cinfães” e Fadinho Serrano”. Acabou por ser a escolha do público presente na sala Suggia, chamado a decidir através do boletim de voto. Com Beatriz Felício, disputaram a final do prémio o fadista José Geadas e a harpista Maria Sá Silva.

“Ter o aval do público de uma cidade onde eu não pertenço, que sou de Lisboa, sentir aquele afago do Porto e das pessoas a gostarem da minha prestação na competição, foi bastante importante para mim”, conta sobre a participação no evento. “Sinto que o Porto é um abraço. As pessoas são muito queridas. Nunca tinha ido ao Porto, mas quando dei este meu primeiro concerto senti que não queria sair dali, queria continuar a cantar”.

 

 
 
 
 
 
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O desejo de uma nova etapa na música

Beatriz Felício acredita que participou nos programas de televisão com a idade certa, mas sente agora que está numa fase de vida e carreira em que se sente pronta lançamento de um primeiro álbum: “gostava de passar para a outra fase, gravar um disco, começar a dar concertos, vender um espetáculo como ‘Beatriz Felício’. Sinto que está na altura de tentar esta nova fase”.

Com os cinco mil euros ganhos com o Prémio Novos Talentos Ageas 2021, Beatriz quer investir na criação deste álbum de originais: “quero dedicar-me a 100% à música. Vou utilizar [o prémio] para fazer as gravações do disco, dos videoclipes. Já tenho muitas coisas pensadas e o prémio é mesmo uma ajuda gigante”.

A fadista, que diz ter “vários planos” para o futuro, tem na composição de música a sua prioridade. “O que eu neste momento ambiciono é ter canções com as quais eu me identificasse na íntegra, que consiga defender da melhor maneira e com a maior verdade”. 

Apesar de estar a dar os primeiros passos na construção desta carreira, diz-se “orgulhosa” daquilo que tem conseguido alcançar. “Olho para trás e sinto que já fiz tanta coisa, sinto-me concretizada”. O maior desejo? “Um sucesso constante onde as pessoas reconheçam o meu valor”, termina.

Artigo editado por Tiago Serra Cunha