Marta Temido reconhece crise nas urgências e “condições de trabalho pesadas no SNS”. A ministra anunciou ainda “a contratação de todos os médicos que aceitem ser contratados" pelo Serviço Nacional de Saúde.

Marta Temido reuniu-se, esta segunda-feira, com várias entidades do setor. Foto: João Bica/Governo de Portugal

A ministra da Saúde anunciou esta segunda-feira (13 de junho) que será implementado um plano de contingência nas urgências dos hospitais públicos nos meses de junho, julho, agosto e setembro. O objetivo é dar resposta à falta de médicos especialistas nos serviços de saúde do país, nomeadamente nas áreas de ginecologia e obstetrícia. 

O plano de curto prazo vai avançar “com um funcionamento mais articulado, antecipado e organizado em rede das urgências do Serviço Nacional de Saúde”, disse a ministra aos jornalistas na sequência de várias reuniões que realizou ao longo do dia com entidades ligadas ao setor. Marta Temido garantiu, ainda, precaver “questões remuneratórias associadas e dar apoio a quem está no terreno e às lideranças”.

A médio prazo, a ministra disse que o Governo vai pôr em prática um “plano de coordenação que funcione com os mesmos moldes que funcionou em seu tempo a comissão de apoio à resposta em medicina intensiva”. Temido admitiu prestar especial atenção às especificidades regionais e à dimensão de formação de recursos na área de ginecologia e obstetrícia.

A ministra anunciou ainda “a contratação de todos os médicos que aceitem ser contratados pelo SNS”, com a abertura de um concurso de contratação de recém- especialistas durante esta semana. “Infelizmente, não temos tantos recém-especialistas para contratar quanto gostaríamos” e “as condições de trabalho são pesadas”, afirmou Marta Temido.

“Infelizmente esta situação não é nova”, admitiu, lembrando que se repete “sistematicamente ao longo dos anos”. Marta Temido recebeu de manhã os diretores clínicos dos hospitais de Lisboa e Vale do Tejo e reuniu-se, de tarde, com a Ordem dos Médicos e sindicatos dos setores.

Problemas agravaram-se na última semana 

O baixo rácio de especialistas no sistema público de Saúde não é de agora. No ano passado, o presidente da Secção Regional do Centro da Ordem dos Médicos já havia denunciado a falta de 50 especialistas em áreas como ortopedia, cirurgia, medicina interna e, ainda, ginecologia e obstetrícia no Centro Hospitalar de Leiria (CHL). 

O problema é mais amplo e tem sido mais evidente nos serviços de ginecologia e obstetrícia. Na última quarta-feira (8), uma grávida perdeu o bebé no Hospital das Caldas da Rainha, alegadamente por falta de obstetras no serviço de urgências. O caso em particular está a ser investigado internamente e foi participado à Inspeção-Geral das Atividades em Saúde.

Também o Hospital de Braga, que serve uma área direta de cerca de 300 mil utentes, esteve com a Urgência de Obstetrícia encerrada entre as 08h00 de domingo e as 08h00 de segunda-feira. Em comunicado, o Conselho de Administração do Hospital admite que ainda não conseguiu garantir o funcionamento do serviço “na sexta-feira, 17 de junho, e no domingo, 19 de junho”. Reforça, contudo, que “as escalas não se encontram fechadas, pelo que o Conselho de Administração está a envidar todos os esforços para assegurar o funcionamento do Serviço de Urgência de Ginecologia e Obstetrícia nestes dias.”

Já esta terça-feira, foi noticiado que também o Hospital de Portimão “vai encerrar” a sua Urgência de Obstetrícia “no período compreendido entre as 21h00 do dia 14 de junho até às 09h00 do dia 20 de junho”, reencaminhando as grávidas para o Hospital de Faro.

A Associação Portuguesa pelos Direitos da Mulher na Gravidez e no Parto fez um alerta no passado sábado (11 de junho) sobre a gravidade da falta de especialistas e as potenciais consequências quer ao nível da assistência na maternidade e quer da mortalidade infantil. 

Artigo editado por Filipa Silva