[Crítica] O décimo álbum de Taylor Swift foi anunciado depois da vitória da cantora nos VMAs e conta a história de 13 noites sem sono. O disco é já um sucesso ímpar nas tabelas internacionais, e as letras mostram a cantora no topo de forma. Como um todo, o álbum é, porém, pouco arriscado e ambicioso.

Taylor Swift lançou o décimo álbum, “Midnights” a 21 de outubro Foto: Taylor Swift/Facebook

“Histórias de 13 noites de insónias espalhadas pela minha vida”. Foi assim que Taylor Swift descreveu as canções do décimo disco, “Midnights”. O álbum foi anunciado depois da cantora conquistar o prémio de “Melhor Vídeo” nos Video Music Awards da MTV 2022, em agosto. Ao longo das 13 canções, “Midnights” é uma viagem pelas diferentes eras musicais da cantora (tanto ouvimos referências a “Speak Now” de 2010, como sonoridades que fazem lembrar “evermore” de 2020) que soa a pouco mais do que Taylor a fazer uma checklist daquilo que sabe que sabe fazer. A produção, as letras e a música são competentes, mas, como corpo de trabalho, “Midnights” não traz nada de novo ao panorama musical ou mesmo à carreira de Swift.

A 21 de outubro, precisamente à meia-noite, o décimo disco de Taylor viu, por fim, a luz do dia (da noite, neste caso), nas plataformas de streaming. Quando ficou disponível, a procura em massa provocou, por momentos, problemas no funcionamento da plataforma. No rescaldo do lançamento,”Midnights” tornou-se um dos álbuns mais bem-sucedidos de sempre.

Foram anunciadas sete faixas extra para a “3AM Edition” de “Midnights” 

No Spotify, “Midnights” tornou-se o álbum com mais streams em 24 horas de sempre (184,6 milhões) e Taylor Swift tornou-se a artista com mais streams durante o mesmo período (228 milhões). Nos primeiros três dias, venderam-se mais de 1,2 milhões de cópias do disco nos Estados Unidos e Swift voltou a quebrar o recorde (que conquistara em 2017 com “Reputation”) de melhor primeira semana de vendas de sempre. No final de outubro, Taylor Swift tornou-se a primeira artista da história a ocupar o top 10 da Billboard inteiro, com faixas de “Midnights”.

Para lá dos recordes, um disco razoável

Musicalmente, o décimo disco de Taylor Swift é um híbrido que conjuga o pop vibrante de “1989” com a eletrónica mais agressiva de “Reputation”. É o álbum mais denso e atmosférico da discografia da cantora. Os momentos dançáveis continuam a existir (“Bejeweled” e “Karma”), mas não assumem tanto protagonismo como antes. Ao invés, o disco é menos ‘orelhudo’ e as canções são mais contemplativas.

A produção de Jack Antonoff – parceiro de estúdio de Taylor de longa data – é, indubitavelmente, uma das forças maiores de “Midnights”. Ainda que a presença do produtor sempre se sentisse em outros discos da artista, aqui torna-se mais evidente. Enquanto em “Question…?”,  o auto-tune exagerado reforça a ironia das palavras no final da bridge, em “Vigilante Shit”, os graves intensos e a ausência de instrumentação adicional intensificam o peso da letra, que já era cáustica o suficiente (a frase “You did some bad things, but i’m the worst of them”, em português “Fizeste algumas coisas más, mas eu fui a pior de todas”, fala por si).

Como tem vindo a ser regra na discografia de Taylor Swift, porém, as canções vivem muito dos poemas. As narrativas continuam a ser detalhadas e visuais (“You’re On Your Own, Kid” e “Snow on the Beach” são exemplos perfeitos), e íntimas, sem se tornarem demasiado opacas. Não obstante, “Midnights” é um disco que canta mais para dentro, como que se de um exercício de autorreflexão se tratasse. Frases como “You know there’s many different ways that you can kill the one you love / The slowest way is never loving them enough” (Sabes que há muitas formas diferentes de matar quem amas /A mais lenta é nunca amá-los o suficiente) ou “I’ll stare directly in the sun, but never in the mirror” (Eu olharei diretamente o sol, mas nunca o espelho) são meros exemplos de que Taylor Swift se mantém uma das maiores escritoras de canções do seu tempo.

No entanto, ainda que seja competente do ponto de vista musical, cuidadosamente produzido e tenha os chavões clássicos das letras de Taylor, há em “Midnights” pouca experimentação e pouco sentido de aventura. É mais um disco de reafirmação, do que de exploração. Fica a sensação de que quase todas as canções podiam, facilmente, pertencer a um dos outros nove discos. Ouvimos uma cantora a fazer uma revisita àquilo que já fez (e bem), mas a nunca dar passos em outras direções.

As sete faixas extra, anunciadas meras horas depois do lançamento do álbum, para “3AM Edition” do disco, porém,  acrescentam a “Midnights” dois dos melhores momentos do álbum, “Would’ve, Could’ve, Should’ve” e “High Infidelity“.

Afinal de contas, depois dos relançamentos de “Fearless” e “Red” e dos inesperados “folklore” e “evermore”, “Midnights” é um disco que satisfaz, mas pouco mais. E, vindo de uma artista que incendeia constantemente o panorama musical mundial, esperava-se mais do que um disco em lume brando.

O mais recente vídeo do álbum, para o tema “Bejeweled”, foi lançado a 25 de outubro de 2022. O disco está nomeado para disco do ano nos People Choice Awards 2022.