Estudou em Espanha e no Reino Unido, realizando durante esse tempo dezenas de curtas-metragens, como "Yard Kings", que estreia agora nas plataformas VOD, e "Ten With a Flag", cujo guião está agora a adaptar a série na Dinamarca. Vasco Alexandre, 28 anos, é um realizador que levou além-fronteira o sonho de fazer filmes, por não ter encontrado o que precisava em Portugal.

Foram os “home videos” que fez com o pai em pequeno que levaram Vasco Alexandre a escolher o cinema como profissão. Mesmo com formação concluída na Escola Profissional de Comunicação e Imagem, em Lisboa, Vasco decidiu abandonar o país para “conhecer outras culturas e conseguir fazer filmes mais universais”. Especializou-se no ramo da realização, em Londres, tendo estudado ainda em Madrid e, mais tarde, em Edimburgo. Hoje, vive na Dinamarca, onde está a ajudar na adaptação de uma curta de sua autoria para série e foi a partir de lá que conversou com o JPN sobre o seu percurso e experiência.

Após o reconhecimento internacional pela sua curta “Yard Kings”, vencedora de dois prémios Royal Television Society Awards, prepara-se agora para lançar o premiado trabalho nas plataformas de Video On Demand (VOD). O jovem realizador português de 28 anos optou por retratar uma realidade que lhe é distante: a infância nos subúrbios londrinos, onde uma sucata é, afinal, refúgio de uma realidade de abusos e violência. 

Embora sempre tenha sentido uma atração pelo cinema, encontrou o “bichinho pela realização” em terras inglesas. “Yard Kings” é o culminar destas duas paixões, um resultado do “grande dever” que sentiu “em ser leal à cultura britânica”.

Apesar de ter um conhecimento vasto de outras culturas e de ser admirador de um cinema mais universal, como o próprio caracteriza, foi em Londres onde mais aprendeu e cresceu enquanto realizador. A sua história, de realismo social, procurou ser o mais fiel possível à realidade, razão pela qual decidiu escrever o guião em conjunto com o elenco, formado por pessoas pertencentes ao meio retratado na curta.

“Tentei perceber como era o dia-a-dia deles, porque estes miúdos vieram deste tipo de background. E acho que foi uma experiência mágica entrar nesta cultura britânica. Acho que cresci imenso e sinto-me muito mais maduro como realizador, porque lá está, tive de ter muito mais respeito”, afirmou ao JPN.  

Com apenas 15 minutos, a curta-metragem alcançou reconhecimento internacional através da sua perfomance em variados festivais. Soma um total de 14 prémios, destacando-se dois Royal Television Society Awards, como melhor filme estudante em Londres. O destaque que foi arrecadando convenceu-o a levar a sua curta a um público maior, que já se encontra disponível em plataformas internacionais. 

Fazer cinema em Portugal

Ainda que esteja nervoso com este novo passo, Vasco Alexandre sente que conta com um nível de apoio no Reino Unido que não encontra em terras lusitanas: “Agora, estamos a distribuir o ‘Yard Kings’ em várias plataformas internacionais e tive apoio no Reino Unido para isso. Mas sempre que tento fazer alguma coisa em Portugal, demoram meses a responder…é tudo muito lento”.

Mas não foi apenas a falta de apoio e de identificação com o cinema português que o fez construir a carreira fora do país: “Portugal não tem muito dinheiro para financiar projetos, é difícil as coisas acontecerem, não há recursos, não tantos como em alguns países do estrangeiro, nomeadamente, no Reino Unido”. No entanto, afirma, isto não significa que os pequenos projetos portugueses não tenham qualidade, rematando que “nós somos bons a conseguir fazer coisas boas com pouco dinheiro, porque estamos habituados a isso”. “Tens de ser o mais motivado se queres fazer as coisas acontecer. Mesmo que não se tenha dinheiro nenhum, pega numa DSLR, filma, monta, vai a festivais”, refere ainda a propósito.

Além da escassez de recursos financeiros, o realizador vê outros problemas, como a demografia: “Portugal tem uma audiência bastante idosa, e isso limita um bocado projetos mais audazes, porque acho que as entidades de financiamento não têm confiança suficiente nesses projetos e têm um bocado de medo de arriscar e pôr dinheiro [neles]”. 

Para Vasco, há uma “tradição da telenovela” que bloqueia os avanços do cinema inovador. Admite que Portugal possui um bom cinema, “bastante poético, intelectual”, ainda que não seja conhecido ao nível internacional. “[No estrangeiro] é muito raro encontrar alguém que conheça um realizador português, ou é muito raro alguém conhecer um filme português”, afirma.

Problemas identifica-os também no ambiente da produção cinematográfica que, em Portugal, é uma espécie de “gentlemen club”, na visão do jovem natural de Lisboa. Um clube onde só “entra” quem já tem algum tipo de influência. Ainda assim, e muito embora, de momento, esteja focado no internacional, o realizador pretende “obviamente, voltar a Portugal”. 

Na Dinamarca, o panorama é diferente: para além de existir mais dinheiro para aplicar, há mais confiança, e “mesmo que não tenhas experiência, eles confiam em ti”. A prova desse investimento é o projeto que agora tem em mãos: a adaptação de uma das suas curtas, “Ten With a Flag”, para uma série, com um orçamento estimado em oito milhões de euros. “Eu cheguei aqui e acho que esta até foi a primeira produtora que abordamos e ela disse logo que sim”, conta. O projeto ainda está em desenvolvimento e em discussão com produtoras e distribuidoras de streaming. No entanto, o realizador mostra-se confiante em aprender com “pessoas mais experientes” e vai tentar realizar, pelo menos, quatro episódios.

A estreia da série é esperada para o próximo ano, tal como a estreia no VOD das suas restantes curtas, que vão agora a competições e eventos internacionais. “Yard Kings” ainda não tem data de estreia em plataformas portuguesas

Artigo editado por Filipa Silva