A Câmara do Porto terá apresentado a alternativa ainda antes da pandemia aos músicos do Stop, que, segundo o autarca, recusaram a solução. O presidente da CMP manifesta dúvidas sobre a exequibilidade das obras no antigo centro comercial devido ao elevado custo estimado.

CCStop é utilizado, atualmente, por mais de 500 músicos Foto: Inês Cristina Silva

Na reunião pública do executivo da Câmara Municipal do Porto (CMP) desta segunda-feira (7), Rui Moreira voltou a colocar em cima da mesa a possibilidade de passar os músicos do Centro Comercial Stop (CCStop) para os pisos superiores do Silo Auto.

A alternativa foi apresentada na sequência de uma recomendação da CDU, que propôs a “tomada de posse administrativa do Stop por parte da Câmara Municipal e/ou Ministério da Cultura”.

Em causa, estão problemas infraestruturais graves do centro comercial que data dos anos 80. Problemas como a falta de uma saída de emergência, risco de incêndio e problemas de insonorização num espaço agora ocupado por cerca de 500 músicos. 

Rui Moreira sublinhou que seguir a proposta da CDU seria incorrer numa ilegalidade, tendo em conta que está a decorrer um processo de licenciamento do antigo centro comercial.

A proposta de recomendação da CDU acabou chumbada com votos favoráveis dos comunistas e do BE. O restante executivo votou contra. O movimento Rui Moreira: Porto, o nosso Partido, o PS e o PSD combinaram justificar o voto contra com uma declaração de voto conjunta.

Obras na ordem dos “milhões de euros”

O presidente da CMP, porém, duvida da exequibilidade das obras. “Será que estas obras vão ser concretizadas? Sinceramente, não sei e, sinceramente, até duvido”, afirmou.

Em causa estão os custos elevados para cumprir as alterações previstas no projeto de reconversão do espaço. Em abril, o ex-presidente da Associação de Músicos do Stop, Manel Cruz, explicou ao JPN que a colocação em prática das obras necessárias estariam na ordem dos “milhões de euros”. Rui Moreira não acha provável que se consiga o dinheiro necessário.

“Sendo improvável que haja dinheiro, seja da parte dos músicos, seja da parte da administração do condomínio para fazer as obras, eu acho que nos têm andado a empurrar com a barriga para a frente. Muito sinceramente, eu não vejo qual vai ser o modelo de financiamento para fazer uma obra extremamente cara”, afirmou o autarca.

O vereador do Urbanismo e da Habitação Pedro Baganha ressaltou, ainda, a dificuldade em realizar reconversões em centros comerciais de primeira geração, usando o Stop, o Dallas e o Brasília como exemplos. O vereador explicou que o facto de existirem vários proprietários dentro de um único centro aumenta a complexidade de intervir nos espaços.

Rui Moreira garantiu ter apresentado a solução do Silo Auto aos músicos do Stop, ainda na altura em que Manel Cruz estava à frente da associação de músicos. Os artistas terão recusado. “Aquilo que nos disseram é que [os músicos] não queriam. Não foi dito que iam pensar, foi dito que não lhes interessava”, afirmou Rui Moreira. A razão para a insatisfação dos músicos com a alternativa terá sido o facto de o novo espaço ser open space, algo que Teresa Summavielle, do BE, considerou também não ser uma boa opção.

A proposta do autarca foi bem recebida pelo restante executivo. A vereadora socialista Rosário Gambôa elogiou a alternativa e considerou tratar-se de uma boa resposta caso haja cuidados ao nível da insonorização do espaço. Vladimiro Feliz, do PSD, considerou a solução um bom plano B, mas manteve que a melhor opção seria sempre “manter a solução Stop”, caso as obras se concretizem.

Depois da intervenção do social-democrata, Rui Moreira aproveitou para explicar que o espaço criado no Silo Auto funcionaria numa lógica semelhante à do Edifício AXA – ocupado pela Câmara em 2013 e transformado num espaço cultural.

Para lá dos problemas de segurança dentro do Stop, o presidente da Câmara destacou, também, as constantes queixas de vizinhos do centro comercial sobre o barulho. “Não podemos ter um discurso relativamente à movida e um outro discurso em relação ao Stop”, afirmou.

O CCStop é utilizado atualmente por mais de 500 músicos. Os problemas ao nível do licenciamento e segurança dos espaços remontam a antes de 2010, quando o Jornal de Notícias noticiou pela primeira vez a possibilidade encerramento do espaço.