Entidade parceira do consórcio responsável pela sala considera que a estrutura "está a ser um sucesso", embora alerte para a escassez da resposta face à procura. Para o final do primeiro trimestre de atividade está prometido um relatório.

O JPN visitou o espaço em junho, quando a infraestrutura ainda estava em obas. Foto: Maria Andrade

Foram dois anos de avanços e recuos, mas a sala de consumo assistido do Porto já está em funcionamento. A estrutura – criada no seguimento da aprovação do Programa de Consumo Vigiado de Drogas no Porto, em 2020 – abriu portas a 24 de agosto deste ano e encontra-se, neste momento, a terminar os primeiros três meses da fase piloto (que terá uma duração de um ano).

O trabalho desenvolvido vai ser monitorizado e avaliado a cada três meses pela Comissão de Implementação, Acompanhamento e Avaliação, composta por representantes designados pela Câmara do Porto, SICAD, ARS Norte e o Centro Distrital do Porto da Segurança Social. Se a avaliação, no final do primeiro ano, for positiva, prevê-se uma segunda fase, com dois anos de duração.

Contactada pelo JPN, a APDES preferiu não fazer para já um balanço do trabalho feito durante o trimestre, referindo que, em breve, vai apresentar um relatório com dados mais concretos e organizados sobre os primeiros meses de funcionamento da sala de “chuto”

Um “sucesso” de pequenas dimensões

Rui Salvador, da CASO – Consumidores Associados Sobrevivem Organizados, entidade parceira do consórcio responsável pela gestão da sala de consumo assistido, considera que a estrutura “está a ser um sucesso”. “Tem sido a resposta por que tanto ambicionamos”, afirmou ao JPN. O membro da CASO sublinha, no entanto, que as dimensões atuais não permitem responder ao número de casos a precisar de apoio na cidade. Por dia, estima que cheguem à sala cerca de 200 pessoas, algumas das quais acabam por desistir face aos tempos de espera.

A sala de consumo assistido tem dez postos individuais (seis para fumo e quatro para injeção). 

Segundo avançou o Porto Canal, no segundo mês de funcionamento já se tinham rastreado casos de tuberculose e HIV, que foram encaminhados para as unidades de saúde com as quais há protocolo (São João, Santo António e Gaia-Espinho).

E se havia, inicialmente, o receio de os moradores receberem com relutância a nova estrutura, o presidente da Câmara do Porto recusa que tal esteja a acontecer. Em setembro, numa reunião da Assembleia Municipal do Porto, Rui Moreira, em resposta à deputada do Bloco de Esquerda (BE) Susana Constante Pereira, afirmou que o funcionamento da sala não havia motivado uma reação adversa por parte dos moradores das zonas envolventes. “As pessoas compreenderam que a sala é uma resposta importante para uma comunidade que tem problemas”, disse.

O autarca acrescentou ainda que a comissão de acompanhamento da sala propôs fornecerem-se dados sobre o funcionamento da estrutura “dez dias depois de fechado o primeiro trimestre”.

Último estudo sobre uso de drogas no Porto é de 2017

A sala de “chuto” portuense está localizada na Rua 25 de julho, junto do Bairro da Pasteleira. A sala destina-se à utilização de substâncias psicoativas ilícitas. Ao encargo do serviço, há uma equipa permanente de enfermeiros, técnicos psicossociais, educadores de pares, auxiliar de limpeza e vigilante. O espaço conta com o apoio de um psicólogo, um assistente social e um médico, a tempo parcial. Funciona durante 10 horas por dia.

Do consórcio “Um Porto Seguro”, que gere a sala de consumo assistido no Porto, faz parte a APDES, a SAOM – Serviços de Assistência Organizações de Maria, a Cruz Vermelha Portuguesa, a Associação para o Planeamento da Família e a Arrimo – Organização Cooperativa para Desenvolvimento Social e Comunitário. A CASO e a Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade do Porto são alguns dos parceiros associados.

O último estudo feito sobre o consumo de drogas no Porto foi feito em 2017, pelo Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto. O Grupo Municipal do Bloco de Esquerda apresentou em 2021 uma recomendação para a atualização do estudo, que à data de redação deste artigo, não aconteceu.