Em noite de casa cheia, os The Gift apresentaram "Coral", “um registo fora do universo estético habitual” da banda. Com um coro em palco, sem guitarras nem bateria, a banda de Alcobaça foi “feliz” numa noite de intenso diálogo com o público.

Por volta das 20h30 de quinta-feira (1), eram muitas as pessoas aglomeradas no átrio da Casa da Música para assistir ao concerto em que os The Gift apresentariam o novo álbum – “Coral”.

Miguel Almeida, fã que acompanha o grupo desde os “sucessos” de “Gaivota” e “Primavera” e que aguardava pela abertura da Sala Suggia, antecipava, ao JPN, que o espetáculo seria “especial”, “diferente do habitual”. 

“É a segunda vez que venho ver os The Gift, mas hoje espero um concerto surpreendente, diferente daquilo a que estamos habituados a ver do grupo”, afirmou.

O ambiente era de expectativa, porque “Coral”, segundo a própria banda, é “um registo fora do universo estético habitual” dos The Gift. Desde logo, pela presença de um coro, que foi quem deu início ao concerto.

Aos poucos, uma luz roxa invadiu a sala e Sónia Tavares, vocalista dos The Gift, entrou em palco. “Muito obrigada por terem escolhido vir ao ‘Coral’ nesta noite. É o nosso ‘Coral’ e vem do coração”, disse a vocalista da banda, recebida por uma longa ovação do público. 

Do outro lado do palco, Nuno Gonçalves, John Gonçalves e Miguel Ribeiro deram forma à primeira música do espetáculo, mas sem as habituais guitarras e baterias. Em “Coral”, as mesas de mistura e o teclado são os instrumentos primordiais, realçando a aura eletrónica do trabalho.  

“A banda mais feliz do mundo”

Após a primeira música, a banda portuguesa não poupou nos agradecimentos a quem, na noite de feriado, esgotou a sala Suggia da Casa da Música. 

“Uma sala esgotada a ouvir apenas e só um devaneio dos The Gift é maravilhoso, porque significa que, afinal de contas, temos público”, confessou Nuno Gonçalves, membro e compositor do grupo.

Num “caminho” com “montanhas difíceis de subir”, o compositor da banda realçou que o público é a melhor recompensa de uma carreira que soma já quase três décadas. “Ao final de 28 anos, poder entender que há um público que nos recebe, que nos respeita e que está aqui para o que der e vier é a melhor sensação do mundo”, disse o músico.

Sempre muito comunicativo com a plateia, Nuno Gonçalves apresentou “7 vezes”, uma canção que conta com a participação dos Pauliteiros de Miranda e a colaboração de três das vozes fundadoras do grupo Gaiteiros de Lisboa. O tema encarna a “portugalidade” do álbum: “Foi a primeira canção que definiu logo o que o disco era”, concluiu o membro da banda. 

O concerto seguiu marcado pela harmonia: do jogo de luzes, do casamento de vozes do coro e de Sónia Tavares, de momentos como a interpretação do tema “Única”. Nele, a vocalista dos The Gift deu o lugar a Nuno Gonçalves, que escreveu e compôs a música para o álbum. No refrão, os dois fundiram as vozes e desfrutam da canção partilhada em palco.

Pouco tempo antes, o fundador dos The Gift dirigiu-se ao público para mais um agradecimento: “Obrigada por nos fazerem hoje a banda mais feliz do mundo”. 

A essência de “Coral” 

No Porto, a banda que anda em digressão nacional desde setembro, encerrou, de algum modo, um ciclo. O décimo álbum dos The Gift, lançado no ano em que a banda completa 28 anos de vida, “nasceu”, segundo Nuno Gonçalves, na Casa da Música, onde a interpretação de uma obra de John Cage lhe sugeriu: “E se trouxesse um coro para os The Gitf?”. 

“Coral” apresenta, assim, uma característica particular: a presença em todas as faixas de um coro clássico de 48 elementos que, para Nuno Gonçalves, “foi o maior desafio da vida dos The Gift”.  

“‘Coral’ é a personalidade, as vozes, os Pauliteiros, a intenção, a tensão e o negro”, resumiu Sónia Tavares. Nuno Gonçalves acrescentou, ainda, que “é um disco que tem uma relação com a morte, que já chegou ou que há de vir”.

A música clássica, a eletrónica e a influência da música portuguesa dos anos 80, reúnem-se nas 12 canções que compõem o álbum, que,  nas palavras da banda, é “talvez o disco mais português de The Gift”.

Além do coro e da colaboração tanto dos Pauliteiros de Miranda, como dos Gaiteiros de Lisboa, o álbum conta, também, com uma letra de José Carlos Ary dos Santos (“Adágio”), com a composição de Bernat Vivancos e com a produção de Bogdan Raczynski, colaborador de Björk.

A par do disco, The Gift apresentaram, ainda, o livro que acompanha “Coral”. “Insistimos em fazer livros, porque somos daqueles que ainda acreditam que a música pertence às prateleiras das casas das pessoas”, conclui Nuno Gonçalves.  

A “ideia de fazer diferente”

Depois de músicas como “O regresso” ou “Girl Next Door” – uma das duas canções em inglês – “Infinita” foi o tema escolhido para terminar o concerto. Ao introduzir a música, Nuno Gonçalves sublinhou que o grupo continua a ter a vontade “de fazer diferente”

“Espero que este disco, apesar de ser o décimo da carreira dos The Gift, tenha tanta importância como o primeiro, porque sinceramente ainda sentimos o espírito de levar as coisas à frente e com força para mais”, concluiu o músico. 

O público pediu e os The Gift ainda regressaram para um encore, antes das despedidas finais. A digressão de “Coral” prossegue pelo país. Sábado, dia 10, a banda atua em Bragança; a 17, em Portalegre; e no dia 21 de janeiro, em Aveiro. Esta sexta-feira, dia 9 de dezembro, o grupo tem ainda um compromisso no Porto: encontro marcado com os fãs na FNAC do Norteshopping, para falar sobre o novo álbum da banda.

Artigo editado por Filipa Silva