Um francês, um americano e um belga fizeram história, depois de percorrerem mais de 160km da ultramaratona de Barkley, pelas montanhas do Tennessee, nos Estados Unidos da América. O itinerário reproduz a fuga da prisão de James Earl Ray, o assassino de Martin Luther King. Há cinco anos que a prova enigmática não tinha vencedores.

Grupo de corredores num campo florestal

Quem quiser participar deve passar por um processo demorado e incomum de seleção. Foto: Wikimedia Commons

É sob condições inóspitas e desafios adversos, nas montanhas desniveladas do Tennessee, nos Estados Unidos da América, que decorre a Maratona de Barkley, considerada uma das corridas mais difíceis do mundo. 

Desde que começou, em 1986, somente 17 pessoas conseguiram completar a prova, segundo declarações prestadas pela organização da corrida à CNN. Até à data, nenhuma mulher completou a maratona.

Ao fim de cinco anos sem que nenhum nome fosse capaz de ultrapassar a meta, três atletas fizeram história, na passada sexta-feira (17), concluindo o desafio dentro do limite estipulado – 60 horas. O francês Aurélien Sanchez, o americano John Kelly e o belga Karel Sabbe conseguiram a façanha. É apenas a segunda vez que um total de três pessoas alcançam o fim da ultramaratona

Ao longo de três dias e três noites sem dormir, quem se desafia à competição conhecida por ser “quase impossível”, percorre cinco loops de 32 km cada, no Frozen Head State Park. Ao todo, são entre 160 e 210 km de montanhas cobertas por arbustos e obstáculos ocultos, com subidas que somam praticamente 20 km. Os golpes, os hematomas e as quedas são praticamente inevitáveis, contam os relatos. 

A competição, de acordo com a CNN, foi inspirada na fuga do prisioneiro James Earl Ray, responsável pelo assassinato de Martin Luther King. Em 1977, juntamente com outros seis condenados, Ray foi apanhado a fugir da Penitenciária Estadual de Brushy. 

Ao contrário das maratonas convencionais, os participantes começam, não com um tiro de partida, mas com o fundador da prova, Gary Cantrell, a acender um cigarro Camel, na altura que assim entender. Horas antes, todos recorrem a um mapa topográfico, para traçar o percurso. Os veteranos sabem ainda como conservar o papel em fita transparente e evitar, dessa forma, a desintegração do guia de prova

A maratona arranca com o fundador, Gary Cantrell, a acender um cigarro. Foto: Wikimedia Commons

Os corredores não têm acesso a telemóveis ou GPS e a única tecnologia disponibilizada é um relógio. Sem postos de socorro ou assistência externa, são orientados por pontos de verificação não tripulados, cada um assinalado com um livro de bolso. Os participantes têm que arrancar desses livros a página correspondente ao número do seu dorsal e apresentá-la no final, juntamente com as outras, para comprovar que passaram por todos os pontos do trajeto

Ano após ano, milhares de pessoas procuram um lugar na lendária corrida, mas apenas 40 são escolhidas. O desafio começa, desde logo, na inscrição, uma vez que não existe qualquer site, e-mail ou endereço alusivo à organização do evento

Através de um texto, quem ambiciona participar deve indicar os argumentos para ser selecionado, como a capacidade de resistência e a participação em maratonas anteriores. O fundador, também conhecido por Laz, é o responsável por avaliar as candidaturas e escolher os “sortudos”, que, na verdade, vão defrontar as adversidades mais alucinantes.

Para os que se inscrevem pela primeira vez, a regra é trazer uma matrícula com a cidade e país de onde vêm. Aos que são repetentes, mas nunca conquistaram a vitória na Barkley Marathon, é exigido que tragam uma peça de roupa, que varia todos os anos, mediante a escolha dos fundadores. Os vencedores de edições anteriores, que marcam novamente presença, devem entregar um maço de cigarros

Os iniciantes da competição, que se inscrevem pela primeira vez, devem trazer uma matrícula com a sua cidade e o seu país de origem. Foto: Wikimedia Commons

Apesar da falta de assistência e das condições severas que caracterizam a Maratona de Barkley, os inscritos reconhecem que o melhor prémio é a autorrealização, até porque, não existe mais nenhuma recompensa garantida pela organização.

Artigo editado por Miguel Marques Ribeiro