A confiança tem descido e a tendência de evitar notícias tem aumentado em Portugal, segundo o Digital News Report. A televisão continua a ser a principal fonte, mas em queda. O Digital News Report foi divulgado na quarta-feira e vai ser apresentado esta sexta-feira em Portugal.
Portugal continua a seguir a “tendência global” de evitar o consumo de notícias, principalmente no que toca a conteúdos noticiosos sobre a guerra na Ucrânia, refere o Digital News Report. A confiança em notícias desceu oito pontos percentuais em relação a 2015. Ainda assim, o país mantém-se no top três dos que mais confiam em notícias. Portugal é também um dos países “onde menos se paga por notícias online”.
“De salientar também, que os portugueses evitam notícias de forma indiscriminada, em detrimento de forma mais seletivas, com 48%, dos que dizem evitar notícias, a afirmar que pura e simplesmente reduzem o acesso àquelas, enquanto 40,8% dizem evitar aceder a fontes específicas de notícias. Só 20,4% dos inquiridos afirmam evitar apenas tópicos específicos”, revela Digital News Report.
A televisão é ainda a principal fonte de notícias dos portugueses, apesar de ter sofrido quebras. O consumo de notícias online continua a subir.
O relatório refere ainda que, desde a pandemia, a dependência das redes sociais tem vindo a aumentar. “Esta mudança é fortemente influenciada pelos hábitos das gerações mais novas, porque costumam dar mais atenção a influenciadores ou celebridas do que a jornalistas, mesmo quando se trata de notícias”, aponta o trabalho. Em todos os mercados, cerca de um quinto dos entrevistados agora diz que prefere começar as suas jornadas de notícias com um site ou aplicação – uma queda de 10 pontos percentuais desde 2018″.
O Tik Tok, Instagram e Youtube estão a tornar-se mais relevantes na distribuição de notícias. O Facebook, ainda que esteja a perder influência, continua no topo.
Esta tendência fez também aumentar o consumo de podcasts (38%), que tem sido a maior aposta dos órgãos de comunicação social, sendo o “Expresso” e o “Público” os que mais se destacam neste tópico. O Digital Report reporta, a título de exemplo, que o “Observador continua a depender ‘fortemente’ de podcasts para distribuir o seu conteúdo”.
Em 2022, segundo dados da Associação Portuguesa para o Controlo de Tiragem, todos os jornais portugueses viram regredir as vendas. O semanário “Expresso” manteve-se, contudo, como o líder de mercado em termos de circulação de impressos pagos – 46.371 exemplares, em média, por edição – seguido de perto pelo “Correio da Manhã” (43.268). A Cofina detém o jornal diário mais vendido, o “Correio da Manhã”.
O relatório refere, por isso, o ressurgimento de alguma preocupação ao nível da concentração dos media, decorrente de rumores a darem conta do potencial interesse da Media Capital – esta forte no mercado televisivo português – sobre a Cofina.
Ainda no campo da televisão, apesar da força dos canais de notícias da Media Capital – TVI e CNN Portugal -, são a RTP e a SIC os canais de televisão em que os portugueses mais confiam. No que toca à imprensa, o “Expresso” e o “Jornal de Notícias” são os jornais que mais conquistaram a confiança dos portugueses.
O documento também aborda a insatisfação dos jornalistas portugueses com as condições de trabalho e com os baixos salários praticados no setor. Têm ocorrido greves nalguns meios e protestos com o apoio do Sindicato dos Jornalistas Portugueses, cujo presidente, Luís Filipe Simões, levantou a possibilidade de uma greve geral.
A ERC (Entidade Reguladora para a Comunicação Social) e o Governo “concordam com a necessidade de reformar a lei de imprensa, para ajudar as partes interessadas a adaptarem-se aos desafios da era digital”, consta no relatório. O Governo também anunciou planos para aumentar o apoio existente à imprensa regional e local. O Ministro da Cultura reconheceu a necessidade e “prometeu um aumento de 12.5%, uma vez que este financiamento está congelado desde 2015”.
A 12.ª edição do Relatório de Notícias Digitais da Reuters recolheu dados de 46 países e inquiriu mais de 93.000 consumidores de notícias online, cobrindo metade da população mundial. Uma das conclusões levantadas aponta para o facto de “muitas pessoas estarem a repensar quanto podem gastar em meios jornalísticos”.
No estudo português participaram como autores Ana Pinto-Martinho, Gustavo Cardoso e Miguel Paisana, investigadores do OberCom e do ISCTE-IUL, Instituto Universitário de Lisboa.
Os 46 mercados estudados no relatório são Reino Unido, Áustria, Bélgica, Bulgária, Croácia, República Checa, Dinamarca, Finlândia, França, Alemanha, Grécia, Hungria, Irlanda, Itália, Países Baixos, Noruega, Polónia, Portugal, Roménia, Eslováquia, Espanha, Suécia, Suíça e Turquia.
Inclui ainda EUA, Argentina, Brasil, Canadá, Chile, Colômbia, México, Perú, Austrália, Hong Kong, Índia, Indonésia, Japão, Malásia, Filipinas, Singapura, Coreia do Sul, Taiwan, Tailândia, Quénia, Nigéria e África do Sul.
A investigação foi realizada no final de janeiro e início de fevereiro e vai ser apresentada na manhã desta sexta-feira (16) em Portugal, no Campus APP – edifício da Caixa Geral de Depósitos -, em Lisboa.
Editado por Filipa Silva