“Elas entram e ficam!” é a nova peça de teatro de Tânia Dinis. Desenvolvida no âmbito do 70.º aniversário do Teatro Experimental do Porto (TEP), estreia esta sexta-feira (16), às 19h30, no Grande Auditório do Rivoli.
É exatamente a par da história do TEP que a obra surge. O processo criativo da autora e intérprete começou com a exploração da memória, assumindo-a “como uma ferramenta de transformação e para a criação”, diz ao JPN. Assim, a estrutura da peça “é muito baseada na organização” do extenso arquivo de ensaios e espetáculos da companhia: “na maneira como ele está catalogado, organizado e, ao mesmo tempo, também ficcionado”.
No entanto, o foco principal cai na mulher, traçando uma linha temporal que pretende relembrar, através de pequenas narrativas, as figuras representadas nos textos do coletivo performativo. Dado o grande destaque que personagens e textos tipicamente masculinos sempre tiveram no mundo do teatro (e na sociedade), Tânia Dinis foi à descoberta das mulheres: foi “perceber que papéis [lhes] são atribuídos”, “quem são”, e quais suas histórias – “as bruxas, as mães, as freiras, as inocentes, as pecadoras”.
Apesar de não falar sobre todas, o objetivo do ensaio é relacionar e trazer as mulheres de outros tempos para o presente. Para Tânia Dinis, em questões como direitos da mulher, do seu corpo e do seu papel na sociedade ainda há muito para ser discutido e espaço para evoluir.
No seu ponto de vista, as diferentes formas artísticas, como teatro e cinema, têm também o dever de trazer estes temas para a mesa do debate social e de dar representatividade. “Estas personagens têm histórias de vida muito parecidas e, infelizmente, hoje em dia também nós conhecemos mulheres assim”, explica.
Contudo, a artista não nega que tem havido um grande progresso, com uma crescente presença da mulher no meio artístico, nomeadamente no sítio onde está inserida. “Existiram diversas direções artísticas na companhia e isso também muda. Nas últimas criações que se têm feito aqui, no Teatro Experimental do Porto, já há muitas mais criadoras. Já há mais escritoras, dramaturgas, muitas mais intérpretes a trabalhar. Existe uma grande diferença. E isso também está relacionado com o ambiente cultural e social em que vivemos”, conclui.
Assim como grande parte do seu trabalho, “Elas Entram e Ficam!” é uma peça que alia o teatro à fotografia. Com uma forte componente visual, o cenário é constituído por fotografias das várias figuras impressas em tamanho real, com as quais a atriz interage no decorrer da atuação. O que a atrai mais nesta simbiose artística é “encontrar novas leituras, novas narrativas e construir diferentes quadros”. “A fotografia pode contar histórias diversas, como estas mulheres. Estas poses tanto podem ser a Joana, a Mariana, como podem ser muitas outras”, remata.
Há duas sessões agendadas, respetivamente para os dias 16 e 17 de junho, no mesmo local e horário, e terão interpretação em Língua Gestual Portuguesa. Os bilhetes estão à venda nas bilheteiras do Teatro Rivoli, do Teatro Campo Alegre e nas plataformas online, com o custo de 9 euros.
Artigo editado por Ângela Rodrigues Pereira