A apresentação do projeto “Dinâmicas de desigualdade no Sistema de Ensino Superior Português - Acesso, Género e Mobilidade” decorreu na quinta-feira, 15 de junho, no Círculo Universitário do Porto. O JPN falou com Carla Sá, principal investigadora do projeto que quer ajudar a colmatar as desigualdades no ensino superior.

Em Portugal, o número de inscritos no Ensino Superior foi multiplicado por cinco em 45 anos. Foto: Wry2010Attribution-ShareAlike 2.0 Generic (CC BY-SA 2.0)

O Ensino Superior pode reproduzir ou amplificar desigualdades. A constatação não é de agora, mas num país onde o número de inscritos se massificou – passou de pouco mais de 80 mil, em 1978, para mais de 430 mil em 2022 -, as “dinâmicas de desigualdade” ganham cada vez mais relevância. É nessa convicção que uma equipa de investigação do Centro de Investigação de Políticas do Ensino Superior (CIPES), liderada por Carla Sá, se propõe avaliar a forma como essas dinâmicas operam em três dimensões particulares: o acesso, o género e a mobilidade.

“As desigualdades que antes se colocavam no momento de decidir ir ou não para o ensino superior, agora passaram para dentro do ensino superior”, refere ao JPN Carla Sá, investigadora principal do projeto, à margem da apresentação que decorreu na quinta-feira (15), no Círculo Universitário do Porto.

Ao nível do acesso, “por um lado, há desigualdades nas escolhas dos cursos, das instituições”, mas também no “background socioeconómico” de cada estudante, prossegue a investigadora.

Em relação às desigualdades de género, a entrevistada nota que, todos os anos, o número de mulheres no ensino superior tem vindo a aumentar. É, contudo, escassa a presença de mulheres em cursos CTEM (Ciências, Tecnologias, Engenharias e Matemáticas), o que, em parte, pode ajudar a justificar as diferenças salariais ainda existentes entre o sexo masculino e feminino.

Carla Sá, investigadora principal lo projeto. Rita Vila Real

O Pacto de Bolonha, que produziu alterações profundas, este século, na organização dos ciclos de estudo das universidades e politécnicos, tem também efeitos ao nível da entrada do mercado de trabalho: “Os empregadores parecem valorizar mais os diplomados do segundo ciclo do que do primeiro ciclo e, por essa via, mais uma vez, estamos a favorecer ou a pôr em situação de vantagem os estudantes que conseguem aceder ao segundo ciclo.” Isto porque, detalha a investigadora, entrar num mestrado  nem sempre depende das capacidades intelectuais ou do desempenho dos estudantes, mas sim “da facilidade ou não que eles têm de encontrar financiamento para suportar os custos inerentes a esse segundo ciclo de estudos.”

Sobre a desvalorização salarial dos licenciados na entrada no mercado de trabalho, em comparação com estudantes que finalizaram o secundário, Carla Sá explica que há uma equipa específica do projeto a trabalhar esta temática. Para além disso, sublinha que, atualmente, o benefício salarial só é “mais elevado quando se compara diplomados do primeiro ciclo e diplomados do segundo ciclo”.

Além de Carla Sá, o projeto “Dinâmicas de desigualdade no Sistema de Ensino Superior Português – Acesso, Género e Mobilidade” tem Hugo Figueiredo, Pedro Luís Silva e Ricardo Biscaia como investigadores. Ana Rute Cardoso (IAE-CSIS), Louis Philippe Morin (U.Owatta), Richard Murphy (U.Texas), Stephen Desjardins (U.Michigan) e Miguel Urquiola (U.Columbia) participam também no trabalho como colaboradores externos.

Financiado pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia, no valor de 204.335,97 euros, o projeto teve início em março de 2021 e deve estender-se até 2024.

Editado por Filipa Silva