O Centro Social Paroquial do Santíssimo Sacramento notificou, esta terça-feira (20), os encarregados de educação de que iria encerrar portas. Os pais procuram alternativas para as crianças que vão ficar sem infantário e atividades para os tempos livres, a partir de julho. Seriam necessários "400 mil euros" para regularizar a situação, diz ao JPN o pároco responsável pelo centro.

Os pais foram apanhados de surpresa com o encerramento do Centro Social Paroquial do Santíssimo Sacramento.

Fundado em 1942, o Centro Social Paroquial do Santíssimo Sacramento, no Porto, apanhou os encarregados de educação de surpresa, esta terça-feira. A instituição, que conta com mais de 100 crianças inscritas, cessa a atividade em julho, encerrando os serviços de jardim de infância e de ATL. Os pais estão desesperados com a situação e unem esforços para encontrar soluções. O pároco responsável pelo Centro garante que não há forma de inverter a situação.

Daniela Osório, mãe de uma das crianças afetadas com o encerramento do centro, descreve quais serão os próximos passos dos pais: “Amanhã, sexta-feira, pelas 10h00 da manhã, temos uma reunião com a Segurança Social. Já mandámos uma carta para a diocese, para falar com o bispo e estamos à espera. Também contactámos a Câmara e, na segunda-feira, vamos tentar ir ao gabinete do município para falar com os deputados”.

Ao JPN, a mãe acrescenta que os pais tinham ouvido rumores sobre o fecho do Santíssimo Sacramento. No entanto, mesmo insistindo com a direção, nunca conseguiram ter certezas até que receberam “antes de ontem [terça-feira], o e-mail sobre o encerramento das escolas”.

A revolta sente-se na voz de Daniela Osório devido ao pagamento das matrículas para o novo ano letivo, efetuado por todos os pais na semana anterior. Diz que as pessoas envolvidas “estão a reagir mal”, uma vez que não existem vagas disponíveis noutras instituições circundantes. “Já fizemos telefonemas e dizem-nos que está tudo cheio”, conta.

Joaquim Santos, o pároco responsável pelo Centro Social Paroquial do Santíssimo Sacramento, confirmou ao JPN que a probabilidade de encerramento do espaço já vinha sendo discutida e que aconteceu devido a uma “situação de tesouraria insolvente”: “É uma situação que vem sendo vivida já de alguns anos, mas que, neste momento, chegou a um ponto crítico, em que não temos liquidez de tesouraria para pagar as contas diárias”.

Durante a conversa, o padre estimou que “400 mil euros seriam necessários para regularizar a situação”. Quando questionado se seria possível adiar o encerramento do jardim de infância e do ATL, Joaquim Santos revelou que “não existe qualquer hipótese de o fazer”, uma vez que as contas já vinham a ser pagas com o dinheiro da própria paróquia e os apoios do Ministério da Educação têm sofrido vários “problemas de prazos”.

Em causa, está um prejuízo de cerca de 400 mil euros. Foto: João Jesus.

Para além das complicações monetárias, o pároco salienta ainda a existência de um problema maior: a diminuição contínua do número de crianças. “Durante este ano estiveram 75/76 crianças no jardim de infância e umas vinte e muitas, quase 30, no ATL. Uma parte significativa das crianças chega ao fim do seu percurso este ano. E as novas inscrições que tínhamos aceite não cobrem, de maneira nenhuma, o número de crianças que sai, portanto, iríamos ter novamente uma diminuição de população”, afirmou. O padre, que assumiu funções há cinco anos, declara que nunca tiveram o número máximo de crianças e que o número de inscritos tem reduzido gradualmente, mesmo com o encerrar de instituições próximas.

Quanto ao valor das matrículas, que tinha sido pago pelos pais na semana passada, o pároco promete que este será reembolsado. Explicou que o processo de matrículas aconteceu pois esperava “um processo de transição para uma instituição maior”, algo que acabou por não acontecer.

Apesar das complicações, o responsável esclareceu que os pais podem contar com o auxílio de uma técnica da Direção Geral dos Estabelecimentos de Ensino, para avaliarem as alternativas e que “de certeza, haverão novas vagas”. Garante que, em contacto com outros estabelecimentos, existem vagas por preencher e que a oferta nas escolas públicas “tem vindo a crescer”. Ainda acerca dos funcionários do Centro Social, o pároco pensa que será possível fazer uma realocação de “dois, três funcionários, talvez”, mas que ainda depende de planeamentos “de outra valência e da aceitação dos funcionários”. No momento da entrevista, Joaquim Santos afirmou não ter conhecimento sobre a reunião desta sexta-feira, entre os pais e a Segurança Social.

Os pais têm tentado conseguir mais esclarecimentos. Uma petição, que já reúne 973 assinaturas, foi divulgada assim que se soube que as portas do Santíssimo Sacramento se iriam fechar. Várias cartas foram enviadas pelos pais para diversos órgãos como a Diocese do Porto, a Direção Regional da Educação do Norte, a Câmara Municipal do Porto e para o Centro Distrital de Segurança Social do Porto. Apenas registaram resposta da Segurança Social, que, em e-mail, informou que o Centro Social e Paroquial do Santíssimo Sacramento ainda não tinha comunicado “o encerramento das respostas sociais e de infância”. A reunião desta sexta-feira (23) serve “para serem tomadas as diligências adequadas”, refere a SS na mesma missiva.

Para além da reunião, será realizada uma manifestação a partir das 9h30, na rua António Patrício. “Nós temos de nos fazer ouvir. Estas crianças, que são mais de 100, não podem ficar sem infantário. E não vai haver colocações para todas”, remata Daniela Osório.

Editado por Filipa Silva