“We Won’t Forget You” é o nome atribuído ao evento de homenagem pelas vítimas de acidentes relacionados com migração no Mediterrâneo, organizado pelo grupo Humans Before Borders (HuBB). A iniciativa decorre este domingo, (25) – em Lisboa, na Praça Europa e no Porto, na Praça dos Leões, a partir das 18h00.
O nome da campanha funciona como lema – traduzido, diz “não vos vamos esquecer” -, e quer reforçar a importância atribuída a cada vida perdida na “Europa Fortaleza”. “Nenhuma fronteira merece maior proteção do que uma vida humana”, diz Ana Paula Cruz, uma das integrantes do HuBB, ao JPN.
Assim, querem sensibilizar o público sobre as milhares de pessoas que perderam a vida na tentativa tentar alcançar melhores condições na Europa. Ana Paula Cruz explica que pretendem “relembrar que [as vítimas] não são apenas um número, garantindo que não serão esquecidos”. Para tal, no decorrer da homenagem, serão lidos os nomes, idades, locais de origem e sítio onde morreram as mais de 50 mil vítimas dos naufrágios no Mar Mediterrâneo durante a última década.
Os nomes serão dispostos de forma a qualquer um os poder ler – numa lista, colada no chão, fornecida pela UNITED, a organização que faz a atualização do número de pessoas que perderam a vida em travessias marítimas para cruzar fronteiras europeias. Além disso, enquanto se dão a conhecer as identidades, os participantes da iniciativa são convidados a dobrar e construir barcos de papel, estilo origami, para posteriormente criar uma instalação.
Acima de tudo, a organização quer dar visibilidade à negligência que migrantes ainda sofrem – e que constitui uma violação dos direitos humanos.
Recordar as vítimas, mas acima de tudo lutar pelos direitos humanos
Mais que alcançar o público geral, a HuBB quer lançar um apelo aos representantes da União Europeia para que sejam cedidas passagens seguras, o direito à migração e a proteção. Para isso é preciso que se instituam políticas migratórias que preservem os direitos humanos.
Por parte da UE, Ana Paula Cruz relata que nunca houve nenhum tipo de feedback para com o grupo, salvaguardando apenas um posicionamento por parte do grupo parlamentar LEFT. A HuBB manifesta-se frustrada pela falta de resposta – principalmente por parte dos movimentos políticos de esquerda que de deviam posicionar de maneira mais firme, de modo a “pressionar a criação e imposição de políticas mais justas” que beneficiem as pessoas e os seus direitos, diz.
Ainda no cenário político, a ativista aponta uma instrumentalização dos movimentos migratórios pela extrema direita, que têm como principal objetivo “causar medo na população” de modo a “intensificar a militarização e o fecho das fronteiras”, aponta a ativista.
Assim, prevê-se um aumento da violência nas políticas migratórias a par da reforma da lei de asilo, aprovada recentemente no Parlamento Europeu. Esta vai efetivamente tornar ainda mais difícil a migração devido ao “aumento da monitorização das fronteiras, aos campos de detenção e aos pushbacks ilegais“ – uma realidade que se torna “inaceitável”, aponta o membro da HuBB.
Os ativistas notam, porém, a participação da sociedade civil nestes assuntos, sendo frequentes as denúncias contra os atos coloniais que envolvem a constante violência nas fronteiras europeias. No caso, as pessoas têm vindo a tornar-se “mais fortes em ocupar as ruas como resposta a políticas xenófobas e racistas“, afirma Ana Paula Cruz.
Numa altura em que os 27 países da Europa continuam a adotar medidas cada vez mais duras para com os refugiados – alguns até decretaram estado de emergência, como no caso da Itália -, a situação relativa às migrações só piora. Soma-se à falta de proteção legal a precariedade das embarcações, que originaram mais de 20 mil mortes, apenas na última década.
Só no primeiro semestre do ano de 2023, já se contabilizaram mais de mil vidas perdidas – e o número tem tendência a aumentar, uma vez que a quantidade de travessias aumentou mais de 305% (27.651) em relação ao primeiro trimestre de 2022.
Neste contexto, o grupo traz como assunto principal o mais recente naufrágio ocorrido no Mediterrâneo. Traçava rota da Líbia com destino à Europa e levava 750 pessoas a bordo – homens, mulheres e crianças. Estimam-se mais de 600 mortes, naquela que foi considerada como “a maior tragédia” de sempre pela responsável europeia pelas migrações.
Artigo editado por Ângela Rodrigues Pereira