O Global Media Group comunicou internamente um plano de reestruturação que prevê a saída de até 200 trabalhadores. Esta manhã, os profissionais do "JN" manifestaram-se junto à Câmara do Porto.
Meia centena de trabalhadores do “Jornal de Notícias” (JN) reuniram-se, esta quinta-feira de manhã, em frente à Câmara Municipal do Porto para entregar um manifesto ao primeiro-ministro, António Costa, e ao ministro da Cultura, Pedro Adão e Silva, presentes na invicta para participarem no último Conselho de Ministros da legislatura.
Os trabalhadores estão em protesto contra o despedimento de 150 a 200 trabalhadores do Global Media Group (GMG) – que detém, além do “JN”, títulos como o “Diário de Notícias” e a rádio TSF e um total de funcionários que rondará os 530 – no âmbito de um “processo de reestruturação” que prevê a “negociação de acordos de rescisão com caráter de urgência no GMG”, como referiu a empresa num comunicado interno enviado aos profissionais do grupo.
O objetivo é, asseguram, “evitar um processo de despedimento coletivo”, garantindo que “será opção em último caso”.
A intenção era que o manifesto fosse recebido pelo primeiro-ministro, mas o documento acabou por ser entregue ao ministro da Cultura, que tem a tutela da Comunicação Social. Pedro Adão e Silva mostrou “disponibilidade e interesse” em reunir com uma representação dos trabalhadores do Global Media Group (GMG) numa outra data. O ministro mostrou-se sensível à situação: “julgo que é uma questão que nos deve preocupar a todos.”
Além da ameaça de despedimento, os trabalhadores do GMG enfrentam problemas também ao nível dos salários: o de novembro só começou a ser pago na última terça-feira. Para além disso, o subsídio de Natal deverá ser pago em duodécimos a partir de janeiro, de acordo com a comunicação enviada esta quarta-feira aos trabalhadores, que contestam a legalidade da decisão por não ter sido negociada previamente.
“Pior que o desaparecimento, é a perda de qualidade”
Ao JPN, Augusto Correia, dirigente do Sindicato dos Jornalistas e repórter do “JN” há 29 anos, reforçou aquele que é o objetivo dos profissionais: “que a administração reverta o despedimento coletivo”.
O sindicalista destaca a importância do jornal por ser “a voz que se ergue do Norte, é a voz de milhares de pessoas que sem o ‘Jornal de Notícias’ não chegariam aos centros de decisão, aos centros de poder.” Augusto Correia considera que “é a própria coesão territorial que está em causa”.
O jornalista adverte ainda para os efeitos profundos que a grande redução no número de trabalhadores – poderão sair cerca de 40 em 90 jornalistas no caso do “JN” -, terá na qualidade do produto final: “Se definhar a um ponto em que deixa de ser o jornal que é, em que deixa de poder fazer o trabalho habitual que faz e deixa de poder apresentar um produto de qualidade é ainda pior do que desaparecer”.
Augusto Correia revela ainda que o ministro da Cultura partilhou da “estranheza” dos trabalhadores perante um novo investidor “que há pouco mais de um mês disse que vinha para investir e reforçar, para fazer bom jornalismo”, mas que agora vai avançar com um processo de reestruturação que poderá implicar um despedimento coletivo.
Na tarde desta quinta-feira, os jornalistas do “JN” deslocaram-se novamente até à Câmara do Porto para reunir com Rui Moreira, depois de realizarem uma marcha entre a antiga sede do jornal, na Rua de Gonçalo Cristóvão, e a autarquia.
Editado por Filipa Silva