O que é a Unir? O que vai mudar? Desde que iniciou a sua operação na última sexta-feira, são muitas as dúvidas e críticas sobre a nova rede de autocarros da Área Metropolitana do Porto. Neste artigo, o JPN tenta responder a algumas dessas questões.

Em Matosinhos, os autocarros já circulam com a imagem da rede Unir, mas mantêm, para já, a numeração antiga. Foto: Jaime Silva/JPN

O que é a Unir?

É a nova rede de autocarros da Área Metropolitana do Porto (AMP) que começou as operações na sexta-feira, dia 1 de dezembro. Surgiu da iniciativa dos 17 municípios da AMP com o objetivo de garantir um serviço de transporte público uniformizado, com mais ligações e mais horários, entre outras melhorias. A nova rede assenta em 439 linhas de autocarro e representa investimento de 311,5 milhões de euros ao logo de sete anos.

O que vai mudar?

Desde o dia 1 de dezembro, com o surgimento Unir, que o transporte público no Grande Porto passou a ser prestado exclusivamente por duas entidades: a STCP, que vai continuar a operar a partir o Porto, onde detém exclusividade; e a UNIR, que vai servir os restantes concelhos.

Operadoras como a Espírito Santo, em Gaia, ou a Gondomarense, em Gondomar, desaparecem para dar lugar à nova rede. Do mesmo modo, deixam de prestar serviço a AV Feirense, Caima, Landim,  Litoral Norte, Maré, MGC, Pacense, Seluve, Souto, Transdev, UT Carvalhos, Valpi, entre outros.

Como está organizada a nova rede?

A rede prevê um total de 439 linhas. Infografia: Sara Fernandes Santos/JPN

A nova rede foi organizada tendo por base cinco lotes. Cada lote agrega um conjunto de municípios. Estes lotes foram alvo de um concurso público de concessão que definiu um conjunto de empresas privadas que vão ficar responsáveis pela operação do lote.

O lote 1 (Matosinhos-Maia-Trofa) fica a cargo da VIANORBUS; o lote 2 (Gondomar-Valongo-Paredes-Santo Tirso) é explorado pela NEX Continental Holdings; o lote 3 (Vila do Conde-Póvoa de Varzim) foi ganho pelo consórcio Porto Mobilidade. O quarto lote (Vila Nova de Gaia- Espinho) tem a operação entregue à Transportes Beira Douro e o lote 5 (Santa Maria da Feira-Oliveira de Azeméis-Arouca-São João da Madeira-Vale de Cambra) é da responsabilidade da Xerbus.

O que é preciso para viajar na rede Unir?

Para andar a bordo de um autocarro da rede Unir vai precisar do cartão Andante, seja ele passe ou cartão recarregável. Isto significa que terminam as assinaturas das operadoras locais em toda a área metropolitana, passando o Andante a ser o único título de transporte.

Quanto custam as viagens na Unir?

Se utilizar o cartão Andante, os preços aplicados são os do tarifário em vigor. Caso compre o bilhete a bordo, tem um custo de 2,20 euros e é válido para uma só viagem, até quatro zonas.

A numeração das linhas vai mudar?

Sim, com entrada em operação da nova rede, a numeração das linhas sofreu alterações, passando a ser de quatro dígitos, ao invés dos três anteriormente utilizados. No entanto, os dígitos identificativos de cada município vão continuar os mesmos que existiam anteriormente: 5 para Matosinhos, 6 na Maia, 7 em Valongo, 8 em Gondomar e 9 em Vila Nova de Gaia.

A numeração atribuída a cada concelho passa a ser a seguinte: Matosinhos 50XX e 51XX (rede noturna), Maia 60XX, Trofa 63XX, Gondomar 80XX, Valongo 70XX, Paredes 73XX, Santo Tirso 66XX, Vila do Conde 35XX, Póvoa de Varzim 30XX e 33XX (rede urbana), Vila Nova de Gaia 90XX, Espinho 95XX, Santa Maria da Feira 20XX e 21XX (rede urbana), Oliveira de Azeméis 123X/124X (linhas urbanas) e 12XX, Arouca 10XX, São João da Madeira 14XX, Vale de Cambra 16XX.

Apesar disto, numa fase inicial, a numeração dos municípios de Matosinhos e da Maia vai manter-se a mesma que era anteriormente utilizada pela VIAMOVE/Maré.

Haverá mais autocarros?

De maneira progressiva, a frota da rede será alargada de maneira a poder aumentar a frequência das linhas, garante a Área Metropolitana do Porto, mas também para possibilitar a criação de novas carreiras. De maneira a tornar a mobilidade no Grande Porto mais amiga do ambiente, a nova rede contará com veículos com certificação Euro V e Euro VI, mas também veículos elétricos.

Haverá novas paragens?

Segundo a Unir, algumas paragens serão relocalizadas para maior conforto e segurança dos passageiros. Vão ainda surgir novas paragens, que irão servir locais onde antes não existia serviço de transporte público. Tanto as novas paragens como as existentes irão estar identificadas com a imagem da empresa. Nos postes estará disponível a identificação da zona Andante, nome e código da paragem, número das linhas e os seus destinos, à semelhança do que já acontece com a STCP.

De modo diferente do que acontece atualmente, todas as paragens devem ter afixados os horários de passagem das novas linhas. Vai ainda ser possível acompanhar a localização dos autocarros em tempo real, através das aplicações de transporte mais conhecidas.

As rotas das linhas vão mudar?

Sim, as alterações não são profundas, mas algumas linhas da rede têm rotas diferentes das que existiam antes, o que se tem revelado uma dificuldade tanto para os utilizadores como para os motoristas. Apesar de não ser possível c0nfirmar em que pontos as rotas sofreram alterações, é possível consultá-las num conversor de linhas que a Unir disponibilizou no seu website.

Como está a correr o arranque da nova rede?

O arranque da nova rede está a ser marcado por bastante contestação por parte dos seus utilizadores, que dizem não dispor de informação necessária sobre a nova rede da AMP. Apesar da operação ter começado na sexta-feira, dia 1 de dezembro, os lotes 2, 4 e 5 ainda não têm horários para a passagem dos veículos. A empresa, no seu website, diz que estes estão a ser elaborados e que serão lançados “em breve”.

Na terça-feira (5), a Unir emitiu ainda um comunicado nas suas redes sociais em que afirma estar “a acompanhar atentamente as situações que têm sido reportadas”. Sublinha ainda que está “a trabalhar com os operadores de transporte parceiros e os Municípios, no sentido de normalizar a operação nos 17 concelhos que integram a Área Metropolitana do Porto”.

Há um email para reportar falhas e atrasos: [email protected]

A nova rede implicou alterações em ligações fora do Grande Porto?

De facto, existe uma linha que deixou de ser assegurada com a entrada em funcionamento da nova rede de autocarros. Trata-se da ligação 1108 entre o Braga e o Porto, que é utilizada para aceder a instituições Universitárias e Hospitais. De acordo com o jornal “Público”, a carreira que liga a Central de Camionagem de Braga ao Hospital de Santo António através da A3 “estava a funcionar em regime de autorização provisória que tinha sido concedia pela Área Metropolitana do Porto (AMP), que ‘não considerou aquela linha no concurso da concessão que deu origem à contratação’ dos autocarros metropolitanos da Unir”, como explicou o presidente da Câmara de Braga, Ricardo Rio, ao diário. 

Mas os municípios do Porto e de Braga encontraram uma alternativa, que anunciaram em comunicado na terça-feira (5). Esta quarta e quinta-feira, dias 6 e 7, estão asseguradas 15 circulações diárias, gratuitas, que vão ser suportadas pela Câmara Municipal do Porto. A partir de segunda-feira, dia 11, a Comunidade Intermunicipal do Cávado assumirá a gestão do serviço.

Como foi o processo de criação da UNIR?

Atribulado, como se está a revelar também o arranque da operação.

O concurso foi lançado em janeiro de 2020 pela AMP, com o objetivo de substituir as concessões para a operação do serviço de transporte rodoviário de passageiros, a cargo de empresas privadas, de modo a regulamentar e distribuir o serviço de forma mais equilibrada pelos municípios, mas encontrou vários obstáculos.

Houve oposição política de alguns autarcas, entraves financeiros – pela necessidade de aprovação de um orçamento intermunicipal – e dificuldades jurídicas, decorrentes da discórdia das empresas afetadas, que tentaram em pelo menos duas ocasiões impugnar pela via judicial o concurso de concessão.

A data de arranque da operação, que a Área Metropolitana do Porto, liderada pelo autarca de gaia, Eduardo Vítor Rodrigues, chegou a pensar fazer de forma faseada, foi também adiada por mais do que uma ocasião. Até 1 de dezembro último.

Uma coisa é certa: os transportes rodoviários na área do Grande Porto há muito que geram descontentamento dos utentes, especialmente daqueles que residem fora do concelho do Porto, onde a cobertura da rede e a frequência das ligações deixa muito a desejar.

O presidente da AMP mantém, contudo, a convicção de que a nova rede vai mudar o estado de coisas. Aquando do arranque da operação, Eduardo Vítor Rodrigues, em declarações ao Porto Canal, sublinhou que a Unir “pode significar uma alteração radical em termos de mobilidade, aproximação das pessoas, mas também de respeito pelo ambiente, porque este concurso não é apenas um concurso para uma imagem única, é sobretudo um trabalho para termos um serviço de transportes melhor, ao nível das metrópoles europeias”.

Editado por Filipa Silva