Numa altura em que os transportes públicos recuperam utentes, o JPN foi fazer um diagnóstico à mobilidade na Área Metropolitana do Porto. Chegadas tardias e frequências desajustadas às necessidades são as principais queixas dos utentes, que pedem também transportes com condições melhores.

A pandemia de Covid-19 fez com que muitos passageiros deixassem de optar pelos transportes públicos, não só devido ao confinamento, mas também pelo receio de propagação do vírus. As empresas estão a recuperar o número de utentes ao longo dos últimos dois anos, no entanto, o “Dinheiro Vivo” adianta, com cálculos feitos a partir dos dados do Instituto Nacional de Estatística (INE), que, entre 2019 e 2021, houve um decréscimo de cerca de 200 milhões de validações nos transportes de Lisboa e do Porto.

Ainda assim, são muitos os passageiros que escolhem usar os transportes públicos, pelos mais variados motivos. O JPN foi até quatro locais distintos, nos concelhos do Porto, Vila Nova de Gaia, Matosinhos e Gondomar, para saber o que pensam os utentes do serviço de transportes públicos na Área Metropolitana do Porto (AMP).

De que mais se queixam os utentes que se deslocam para fora da baixa do Porto? Atrasos e frequências desajustadas às necessidades são as principais queixas, que também desejam veículos com melhores condições e a resolução de problemas que têm causado constrangimentos ao seu dia a dia.

Motivos económicos ou falta de carro guiam as pessoas até aos transportes públicos

Numa altura em que os transportes públicos recuperam utentes após as perdas provocadas pela pandemia, é importante saber o que leva as pessoas a fazer esta escolha. A razão mais óbvia é não ter carro próprio – motivo que é mais comum entre os jovens com quem o JPN falou. 

Muitos dos autocarros que servem Valbom têm passagem em Campanhã. Foto: Sara Fernandes Santos/JPN

Xavier Cardoso, de 16 anos, acredita que vai “manter um equilíbrio saudável entre os dois” meios de transporte. “Se o dinheiro não for um problema, vou andar de carro, mas quando tirar a carta, não penso descartar os transportes públicos”, afirma. Um ano mais velho, Paulo Almeida considera que a distância será preponderante para a decisão: “se for para muito longe, uso os transportes, se for para coisas perto, vou de carro”.

A subida dos preços da gasolina é a outra grande razão que leva os passageiros a usar os transportes públicos. De entre os utentes que utilizam os transportes por não terem outra forma de se deslocarem, a maioria assumiu que, mesmo em caso de terem essa possibilidade, não optariam pelo carro próprio por este motivo. Maria Manuela Pereira, de 75 anos, é perentória na sua resposta: “Não [usaria], ao preço que a gasolina está…”. 

A maior facilidade de acesso aos destinos é também outra razão preponderante entre os passageiros. Ana Neves, de 55 anos, afirma que, no seu caso, “estacionar o carro” na zona para onde se desloca “é complicado”. Já Luís Martins, de 40 anos, explica-nos que a sua opção se justifica pelo facto de o metro e o autocarro serem “muito mais eficientes” neste sentido.

Oferta não satisfaz toda a procura

No Largo do Souto, centro de Gondomar, são poucas as pessoas que esperam por um autocarro. A maioria dos transportes disponíveis no concelho não chega ao centro da cidade, que é servido por linhas da Gondomarense, e pela 800 da STCP. A pouca oferta para fora de Gondomar não agrada a quem tem de apanhar o autocarro todos os dias, reclamando por um melhor serviço.

A STCP só tem uma linha a chegar ao centro de Gondomar – a 800, que liga o Souto ao Bolhão. Foto: Sara Fernandes Santos/JPN

Alice Magalhães, de 59 anos, viaja frequentemente entre o Souto e a antiga freguesia de Jovim – atualmente União de Freguesias de Gondomar (São Cosme), Valbom e Jovim -, onde habita. A passageira afirma que existem poucos transportes não só na sua zona, como também no centro da freguesia, que é tratada de forma desigual quando comparada, por exemplo, com São Pedro da Cova, caso que conhece.

Ao seu lado na paragem, Rosa Lopes, natural da freguesia, brinca a confirmar a melhoria nos transportes desta outra localidade do Grande Porto: “Apareceu Cristo em São Pedro da Cova!”. Ainda assim, para esta passageira, de 51 anos, a oferta não é suficiente: “deviam pôr mais camionetas. Quando perco uma camioneta, só temos a de Valongo. Aqui, infelizmente, não passou Cristo”. 

Teresa Almeida, de 47 anos, queixa-se da oferta e do serviço “fraco”, mas resigna-se: “é o que temos”. Emília Silva, de 68 anos, considera que o concelho “precisava de mais [autocarros], com mais frequência”. “A Gondomarense tem mais transportes, mas só vão até ao Campo 24 de Agosto, e isso é mau”, queixa-se.

Passageiros de Gondomar queixam-se da fraca oferta que existe no centro do concelho. Foto: Sara Fernandes Santos/JPN

Não são só os passageiros do Souto que sentem que a rede é pouco extensa. Em Campanhã, encontramos Diana Nunes, de 22 anos, que confessa recorrer aos transportes públicos apenas no caso de não ter boleia. A utente considera que os transportes não estão bem distribuídos geograficamente. “Aqui no Porto, na zona central, acho que estão bem distribuídos, mas na periferia, nos subúrbios, não tanto”, explica.

Luís Martins crê que esse é um dos motivos que afasta as pessoas dos transportes públicos: “há sempre pessoas que utilizam mais o transporte próprio por não terem [transporte público] ou por ele não chegar a todo o lado”, acredita, mas afirma que esse não é um problema no seu trajeto, que lhe dá acesso a uma “diversidade de transportes”.

De regresso ao Souto, Alice Magalhães repete a crítica, à qual acrescenta o difícil acesso à informação. “Logo, vou para Rio Tinto, tenho uma consulta à tarde, não vou trabalhar. Em que camioneta é que vou? Nem sei, tenho que apanhar o 800 até São Caetano e depois apanhar aí um autocarro para Rio Tinto. Ainda estou a ver que transporte é que vou apanhar para ir à consulta”, concretiza.

O 800 é a única linha da STCP a ir ao centro de Gondomar. Foto: Sara Fernandes Santos/JPN

Em Matosinhos, a utente Joana Silva explica que, para chegar ao seu destino através de transportes públicos, tem de percorrer uma distância maior do que a que seria necessária de carro: “dou uma grande volta só para chegar ao Pólo [Universitário], quando podia ir noutro trajeto”.

A estudante de 18 anos afirma que “a camioneta demora muito tempo para qualquer sítio”, facto que contribui para a demora da sua deslocação. “Demoro mais de uma hora e meia a chegar à faculdade. De carro, demoraria meia hora, só”, lamenta.

Horários e frequências desajustados comprometem pontualidade dos utentes

A queixa mais recorrente dos utentes é o incumprimento dos horários. Este é um problema mais sentido nos autocarros, que não são imunes ao trânsito intenso das principais artérias das cidades e periferias. “Eles também não têm culpa, não podem ir por cima nem atravessar. Temos de tolerar um bocadinho”, reconhece Maria Valente.

A matosinhense afirma que este é um problema que as empresas têm de tentar resolver, nomeadamente a Maré, o serviço de transportes urbanos do concelho de Matosinhos.

Em Santo Ovídio, Gaia, Natália Guedes, de 16 anos, reconhece a influência do trânsito rodoviário, provocado sobretudo pelos constrangimentos de trânsito que vigoram na sequência das obras do metro que fecharam o túnel de acesso à Avenida da República. “Não dá muito jeito chegar atrasada a algumas aulas”, comenta. Questionada sobre os horários, Natália respondeu que acha que podiam ser melhorados. O gondomarense Xavier Cardoso tem o mesmo problema: “já cheguei várias vezes atrasado às aulas por causa dos horários. Nem sempre são cumpridos à risca”.

O trânsito intenso em Santo Ovídio é um problema que atrapalha o quotidiano dos gaienses. Foto: Sara Fernandes Santos/JPN

Com a oferta concentrada nos dias úteis, sobretudo nas horas de ponta, algumas linhas terminam o seu serviço por volta das 21h00, com oferta reduzida ao fim de semana, o que provoca constrangimentos a alguns utentes. É o caso de Carminda Pereira, que habita em Valbom, localidade onde não existem muitos transportes de noite. “Se eu não apanhar o último transporte disponível, tenho que chamar um Uber, ou tenho que pedir a alguém para me ir buscar. Fica mais caro”, lamenta.

Estas são as principais empresas de autocarros que operam no Grande Porto:

➤ A Nogueira da Costa: Maia
➤ Auto Viação Feirense: Gaia, Espinho, Santa Maria da Feira, São João da Madeira e Arouca
➤ Auto Viação Pacense: Santo Tirso e Trofa
➤ ETG [Gondomarense]: Gondomar
➤ Espírito Santo: Gaia
➤ Litoral Norte: Póvoa de Varzim e Vila do Conde
➤ Maia Transportes: Maia
➤ “Maré” (VIAMove): Matosinhos
➤ MGC Transportes: Gaia
➤ UTC: Gaia, Espinho e Santa Maria da Feira
➤ Transdev: Póvoa de Varzim, Paredes, Santo Tirso, Trofa, Santa Maria da Feira, São João da Madeira, Arouca, Oliveira de Azeméis e Vale de Cambra
➤ Valpi: Valongo e Paredes

Associadas aos horários, as frequências são outro dos aspetos que os passageiros consideram que deve ser corrigido. Estas diferem de linha para linha e dependendo de empresa. A título de exemplo, algumas linhas da STCP têm, na chamada hora de ponta, autocarros de 10 em 10 minutos, enquanto que outras têm um autocarro a cada 40 minutos ao longo de todo o dia. Nas empresas privadas, existem casos em que uma linha tem um número de viagens escasso ao longo de todo um dia, não tendo, por isso, frequência certa.

A utente Teresa Almeida sente que deviam existir “mais opções de transporte, camionetas com outros horários”. “Às vezes, [os horários] obrigam-nos a sair de casa uma hora mais cedo, porque depois já não temos transportes para poder ir”, justifica. Na opinião de Liliana Vitorino, os autocarros deviam “não demorar tanto tempo entre eles”. Por sua vez, Rafaela Alves sente que existem “poucos [transportes] para tanta gente”.

Falta de qualidade também pesa

Na lista de queixas mais frequentes dos passageiros, encontra-se também a insatisfação com a qualidade dos autocarros das operadoras privadas. As diferenças são visíveis por fora – em comparação, os autocarros da STCP parecem a estes passageiros mais novos e modernos, e em alguns casos até mais asseados – facto que é comprovado por quem entra neles diariamente.

Algumas destas queixas recaem sobre os veículos da União de Transportes dos Carvalhos – UTC, empresa que presta um serviço fundamental para a mobilidade dos habitantes de algumas das freguesias mais habitadas de Gaia. Maria da Luz Marques diz que “são péssimos a todos os níveis”, enumerando “falta de horário, limpeza, incumprimentos, falta de respeito, enfim. Acho que têm tudo de mau, não há nada que eu possa dizer que seja muito bom”. A opinião é corroborada por Maria Manuela Pereira: “os autocarros são uma porcaria. Os sofás estão todos marcados, a higiene é muito má”.

A situação é semelhante em Matosinhos, onde também existem passageiros insatisfeitos com a qualidade do serviço. O longo histórico de incidentes a envolver veículos com a marca Resende, que anteriormente era a única responsável pelo serviço de autocarros do concelho, faz com que os matosinhenses não tenham uma boa relação com os transportes locais. Em 2019, a concessão passou para as mãos da VIAMove (Maré), empresa que resulta de um consórcio entre a Barraqueiro e a mesma Resende.

A Maré assumiu a operação dos autocarros em Matosinhos após diversos incidentes com os veículos da Resende. Foto: Sara Fernandes Santos/JPN

O compromisso era o da melhoria das condições dos autocarros e do serviço de transportes no geral. É certo que o número de linhas aumentou, porém, as opiniões sobre a qualidade diferem de utente para utente. Concepcion Silva lamenta a continuidade do problema, explicando que a cidade tem “poucos autocarros (….) que estão sempre avariados”. Alice Agrelos enumera uma série de problemas: “os carros estão velhos, a cair, nem têm campainhas, ou chove ou não abre a porta ou não fecha a porta”.

Mas há também quem tenha uma opinião contrária. Palmira Marques considera que “os transportes ficaram melhores em Matosinhos” desde que a Maré assumiu a concessão. Sérgio Rocha acredita que a cidade “tem estado bem melhor” a nível de transportes, ainda que normalmente use apenas o 507, da STCP.

Em Gondomar, a falta de qualidade dos veículos não é uma queixa frequente, mas José Costa, de 67 anos, critica a antiguidade da frota. Para este passageiro, “há autocarros privados [operados pela Empresa de Transportes Gondomarense – ETG] que já não deviam estar a circular há muitos anos”. Este passageiro, que o JPN encontrou em Campanhã, compara as condições dos veículos da empresa com os da STCP, que é uma empresa pública, e lastima a falta de investimento: “a Gondomarense há muitos anos que não renova nada. Há aí autocarros com 15, 16, 17 anos, acho que já deviam estar num estaleiro”.

Redução dos preços não é suficiente para todos

Ao longo dos últimos anos, foram estabelecidas algumas medidas no sentido de tornar os transportes públicos mais acessíveis a toda a população, como descontos para mais novos e mais velhos e, mais tarde, os passes sociais. O preço reduzido destes últimos conduziu ao aumento do número de utentes em 2019, ano em que várias empresas operadoras registaram recordes de passageiros. 

Ainda assim, alguns utentes continuam descontentes com os custos dos transportes. Maria Oliveira, de 16 anos, acha que as viagens são um “bocado caras”. Alice Magalhães diz-nos que “a Gondomarense é muito cara”, não especificando, porém, se se refere ao preço dos passes municipais ou dos bilhetes.

Santo Ovídio é um ponto de passagem para muitos gaienses. Foto: Sara Fernandes Santos/JPN

Adérito Machado, do Grupo de Utentes dos Transportes Públicos do Porto, explica ao JPN que este tópico suscita a preocupação do movimento: “Tendo em conta a questão do aumento do custo de vida, há cada vez mais dificuldade das pessoas para comprar o necessário para o dia a dia”. O grupo sugere reduzir o preço do passe Metropolitano para 30 euros: “era uma forma de compensar os gastos extra que [os passageiros] estão a ter”, bem como uma ajuda para aqueles que “têm baixas reformas”.

Também há espaço para a satisfação

Não obstante as muitas reclamações apontadas pelos passageiros, há quem também esteja satisfeito com o serviço, independentemente de achar que exista margem para melhorar ou não. Em Gaia, Ana Luz, de 67 anos, acha que “não estão mal” e Tiago Pinto, de 17, considera-os “bons, até”, apesar de apontar algumas falhas. No Souto, Ana Neves considera estar “bem servida”, porém, acredita que tal acontece por não se deslocar para fora do concelho de Gondomar.

Em Campanhã, onde existe uma maior abundância de transportes, Francisco Peixoto, de 15 anos, considera que “é bom ter bastantes transportes públicos, especialmente nestes sítios. Facilita muito mais”, remata. Xavier Cardoso não tem qualquer queixa a fazer: “nunca apanhei um motorista arrogante nem nada, acho que são simpáticos, sempre.  No geral, acho que [os transportes] são bons.” Luís Martins e Celeste Barbosa concordam com os dois jovens, com a utente a culpar as obras nas ruas pelos transtornos causados.

Campanhã é servida pelos três principais meios de transporte público: autocarro, metro e comboio. Foto: Sara Fernandes Santos/JPN

O Grupo de Utentes dos Transportes Públicos do Porto entende que “nos últimos tempos, houve uma clara melhoria na oferta”. Adérito Machado reconhece que o contexto pandémico “trouxe alguns problemas, uma vez que os transportes começaram a andar vazios e houve uma redução da oferta que se compreendeu no momento”, mas que pensa que a retoma está a ser feita “no bom caminho”.

Ainda assim, o membro do grupo sublinha que há espaço para melhorias, sobretudo no que toca à cobertura das zonas periféricas, onde “algumas empresas privadas terão mais dificuldades em responder”.

Maioria dos utentes desconhece intenções da AMP

Em janeiro de 2020, a AMP lançou um concurso que visa a substituição das concessões do transporte público rodoviário de passageiros no seu território, porém, o processo está longe de estar concluído. Ao longo dos últimos dois anos, o procedimento foi alvo de discórdia e de várias ações judiciais, quer por parte das empresas que operam atualmente, para impugnar, bem como pelas empresas que devem assumir a nova operação, que quiseram acelerar a entrada em vigor da nova concessão.

A rede prevê um total de 439 linhas. Infografia: Sara Fernandes Santos/JPN

A adjudicação às empresas vencedoras do concurso foi aprovada pela AMP no final de fevereiro, no entanto, a 25 de março, a Comissão Executiva da AMP informou que o processo se encontrava suspenso. Isto porque deram entrada no Tribunal Administrativo e Fiscal do Porto três novas impugnações, das quais duas foram aceites. O organismo anunciou também que vai invocar o interesse público para levantar essa suspensão, que poderá durar entre três a cinco anos.

Este concurso, que deverá trazer uma mudança na operação de transportes públicos na AMP, tem como principal objetivo a substituição das atuais concessões para a operação do serviço de transporte rodoviário de passageiros a cargo de empresas privadas, de modo a regulamentar e distribuir o serviço de forma equilibrada pelos municípios. Apesar de o número poder vir a ser reduzido, em face de possíveis ajustamentos que permitam diminuir os encargos financeiros, a rede prevê um total de 439 linhas (ver mapa).

Para a atribuição das concessões, os municípios foram divididos em cinco lotes, com a exclusão do concelho do Porto, onde a STCP é o operador exclusivo (ver mapa). Uma mesma empresa poderia ter-se candidatado aos cinco lotes, mas só teria a possibilidade de operar apenas num deles.

De acordo com uma notícia de junho de 2021 do “Jornal de Notícias”, os lotes foram atribuídos a três empresas portuguesas – a Auto Viação do Minho, a Barraquense e a Bus On Tour – e a duas espanholas: Alsa e Xerpa Mobility.

A quase totalidade dos utentes com quem o JPN falou não sabia deste concurso. Enquanto que muitos se congratularam com a intenção de melhoria das condições destes serviços, José Costa acha que a mudança de empresas não é a melhor decisão: “Leva muitos anos e depois a frota não é renovada, não é feito nada”. O passageiro acredita que as alterações devem ser feitas pelas empresas que operam atualmente, tendo elas o dever de “ver o que é necessário e fazer as coisas”.

Em Santo Ovídio, muitos utentes fazem transbordo entre autocarro e a linha amarela do metro. Foto: Sara Fernandes Santos/JPN

Adérito Machado partilha da opinião de José Costa: “as empresas não se vão entender, vai haver sempre contestação, até porque está em jogo muito dinheiro (…) é um bolo muito apetecível”. No entanto, o membro do Grupo de Utentes dos Transportes Públicos do Porto defende uma solução diferente, na qual toda a operação na AMP ficaria a cargo da STCP.

“No caso de haver qualquer conflito entre as câmaras, seria muito mais fácil resolver [com esta solução]. Sendo entregue aos privados, vai haver sempre conflitos entre municípios, porque há municípios com mais posses e outros com menos posses. Com a distribuição de verbas a pagar por cada um, Gondomar esteve na linha da frente a contestar, porque era muito dinheiro para o próprio município”, afirma.

Adérito Machado sugere ainda que a expansão seja feita “através da melhoria dos transportes, do investimento em novos autocarros ecológicos e ou melhores condições”. “É isso que desejamos para todos os utentes”, afirmou.

Adérito Machado, membro do Grupo de Utentes dos Transportes Públicos do Porto, entende que os transportes estão “no bom caminho”, mas que há espaço para melhorias. Foto: Sara Fernandes Santos/JPN

Passageiros reconhecem a utilidade do metro como alternativa

Da conversa com os utentes, é possível perceber que o metro é um meio de transporte que reúne uma opinião mais favorável.

Uma das linhas previstas para a expansão da rede do metro correspondia à ligação entre Campanhã e o centro de Gondomar, mas só a ligação a Fânzeres é que teve luz verde para avançar, em 2008. A chamada “linha do Souto” ainda não viu a luz do dia, mas a assinatura do protocolo para a consolidação da expansão da rede na AMP, em fevereiro de 2020, deu início ao processo, que não vai ficar concluído antes de 2024.

Esta é, de facto, uma das obras mais aguardadas pelos gondomarenses. Emília Silva reage positivamente às obras do metro, esperançosa de que elas cheguem ao seu concelho em breve: “nós precisamos do metro aqui em Gondomar, isso sim, é uma urgência”. José Costa subscreve a opinião, ao referir ser “pena que uma dessas linhas não seja entre Fânzeres e Gondomar, sede do concelho, e Valbom. Porque Valbom também tinha necessidade, vem muita gente de Valbom para aqui para o Porto para trabalhar”.

Adérito Machado defende que o alargamento das linhas de metro “é fundamental” para incentivar as pessoas a “deixar de usar o carro próprio e optar pelos transportes”. Natural de Gondomar, o membro do Grupo de Utentes dos Transportes Públicos do Porto sustenta a sua opinião com o exemplo do concelho: “estamos à espera já há muitos anos que [o metro] seja implementado em Gondomar ou no centro do concelho, que, aliás, é uma das únicas câmaras da área metropolitana que não tem metro”.

Os utentes do Souto reclamam por mais oferta de transportes. Foto: Sara Fernandes Santos/JPN

Que sugestões dão os utentes?

Os pedidos mais frequentes entre os passageiros são o aumento do número de autocarros a circular e a correção dos horários, de modo a serem cumpridos. Maria Eduarda Freitas tem uma sugestão original: “tal como eles andam a ver os passes e os bilhetes, também devia haver fiscalização para os horários dos autocarros. Conforme há leis para umas coisas, deve haver leis para outras”, remata.

Carminda Pereira sugere uma “maior frequência de certas carreiras, em certos sítios” que não sejam servidos por muitos transportes. A ideia é partilhada por Diana Nunes, que defende que devia ser dada “mais acessibilidade àqueles que não vivem tanto no centro”. “Acho que aqui [em Campanhã] já há transportes a mais”, justifica.

Palmira Marques pede mais transportes ao fim de semana, justificando com a maior disponibilidade de deslocação que as pessoas têm nesses dias. A matosinhense acrescenta que a rede devia ser mais extensa, de modo a aumentar a mobilidade de quem não possui carro próprio. Joana Silva concorda, destacando em particular o caso do metro: “se houvesse um metro pelo menos de Leça da Palmeira até ao Porto já ajudava bastante”, desabafa.

O metro reúne opiniões favoráveis dos passageiros. Foto: Sara Fernandes Santos/JPN

Luís Martins apela a um maior investimento público nestas formas de mobilidade: “as câmaras, ou o Governo, podiam apostar um bocadinho mais no transporte público para tentar reduzir o transporte próprio nas grandes zonas”.

Os passageiros também pedem autocarros com melhores condições “físicas”. Em Gaia, Bruno Teixeira acha que as camionetas deviam ter maior capacidade, para contornar os problemas de excesso de lotação. Por sua vez, Maria da Luz Marques corrigiria “tudo” na UTC e colocaria “uma outra alternativa” que melhorasse a qualidade dos transportes no município. No caso de Matosinhos, Concepcion Silva e Alice Agrelos exigem melhores autocarros, que não estejam “frequentemente avariados”.

Na questão dos preços, José Couto sugere a redução dos custos como forma de aumentar a procura. A opinião é partilhada por Adérito Machado, que indica que o Grupo de Utentes dos Transportes Públicos do Porto vai sugerir a gratuitidade total do passe sub23, até para incentivar os jovens a usar os transportes públicos. “Se houver transportes, melhor oferta e os preços sejam bastante convidativos, talvez os jovens comecem a habituar-se e até a defender os transportes públicos”, justifica.

Artigo editado por Filipa Silva e Tiago Serra Cunha