Com o objetivo de "esbarrar" nos "cidadãos distraídos", as celebrações levam a poesia, pensamento e imagem à cidade. Para além das atividades ligadas aos vários campos culturais, o programa é marcado também pelo retorno do Fórum do Futuro.

Jorge Sobrado, Rui Moreira e José Bragança de Miranda apresentaram o programa comemorativo dos 50 anos do 25 de abril no Porto. Foto: Beatriz Magalhães Beatriz Magalhães

Poesia, pensamento e imagem constituem os três eixos sobre os quais se baseia o programa comemorativo dos 50 anos do 25 de Abril na cidade do Porto. Sob o mote “Revolução, Já!”, a proposta, com forte enfoque cultural, procurou ser “muito diferenciadora”, nas palavras do presidente da Câmara Municipal, Rui Moreira. A apresentação decorreu no Palácio dos Viscondes de Balsemão, na quinta-feira (15).

O presidente da Câmara do Porto confessou que uma das suas preocupações com as celebrações do 25 de Abril residiu no facto de normalmente serem “extremamente maçadoras”. “Aquelas sessões no Parlamento são bastante óbvias e previsíveis, já sabemos quem usa o cravo e quem não usa, sabemos quem vai e quem faz uma cena para não ir, e é sempre a mesma coisa”, refere Rui Moreira, que destacou ainda o vínculo da cidade do Porto com o “espírito revolucionário”.

A programação inclui várias atividades que se estendem de março a dezembro. A título de exemplo, o projeto conta com uma iniciativa de “Poesia Pública”, em colaboração com 50 poetas portugueses. Com recurso a 440 mupis urbanos, ao longo do mês de abril, vão ser difundidos pela cidade 50 poemas originais “inspirados no imaginário, experiência, desejo ou pulsão de Revolução”.

Segundo Jorge Sobrado, um dos comissários do programa, o objetivo consiste em “pulverizar estes poemas na rua e fazê-los contaminar o espaço público, esbarrando em cidadãos distraídos”.

O programa “Revolução, Já!” assenta na poesia, pensamento e imagem. Foto: Beatriz Magalhães Beatriz Magalhães

 

Outra ação em destaque é o regresso do “Fórum do Futuro”, um “fórum de pensamento contemporâneo”, segundo o diretor dos Museus e Bibliotecas do Porto, que vai incluir dez conferências de caráter internacional. “Debater as grandes questões da atualidade e do futuro”, tendo como temas centrais a história, natureza, economia, política, arte e ciência é o objetivo.

Ao nível do cinema, regista-se o ciclo de dez sessões “Outras Revoluções”, coordenado por Edmundo Cordeiro, focado “noutras revoluções para além de abril”; a exposição “Cinema de Revolução”, a partir da Biblioteca de Cinema do Cineclube do Porto; e o ciclo temático “Se o Cinema é uma Arma”, no Batalha Centro de Cinema.

Entre janeiro e maio, o “Projeto Liberdade” vai levar três coletivos de artistas das áreas da fotografia, cinema, artes visuais, literatura e poesia, a trabalhar com as comunidades de reclusos da ala prisional do Hospital Magalhães Lemos, do estabelecimento prisional da Polícia Judiciária e do Centro Educativo de Santo António.

Noutro plano, segundo Jorge Sobrado, serão revelados na exposição “Participa, Já!” um “conjunto profundamente rico e eloquente de revistas, manifestos, atas de associações de moradores, de associações de trabalhadores, de sindicatos da cidade do Porto e do país no fervor revolucionário de 1974”. Esta coleção, “que nunca foi apresentada publicamente”, estará em exposição na Casa do Infante, entre abril e setembro.

Em cooperação com a Sociedade de Transportes Coletivos do Porto (STCP) vão ser partilhados, no Museu do Carro Elétrico, testemunhos de 12 trabalhadores e ex-trabalhadores em atividade na empresa no 25 de Abril de 1974.

Por fim, relativamente à música, destaca-se a exposição “Destruir o silêncio”, que aborda a música como forma de protesto em colaboração com a conferência internacional KISMIF, evento académico sediado no Porto e focado na partilha e discussão de informações em torno de cultura underground, práticas DIY e artes urbanas, e a iniciativa “Ao ritmo da revolução”, que vai levar a música portuguesa, francesa e russa ao Museu Romântico e ao Museu Guerra Junqueiro.

O presidente da Câmara Municipal do Porto deixou também um apontamento relativo às preocupações decorrentes do “acumular da presidência com o pelouro da cultura”, pedindo às pessoas que “não se aflijam” e “avaliem mais a programação, a liberdade curatorial que tem sido concedida na cidade, e o caminho que tem sido feito”.

Com datas de atividades ainda por definir, pode consultar online o programa atual do “Revolução, Já!”.

Editado por Filipa Silva