Os testes da nova temporada da F1 começaram no dia 21 de fevereiro, no Bahrain. Pela primeira vez na história, não há qualquer mudança na grelha de pilotos.

Com todos os carros já apresentados, as equipas da Fórmula 1 estão prontas para mais uma época. Depois de um ano histórico, a Red Bull – e especialmente Max Verstappen – serão, mais uma vez, os alvos a abater. Porém, há espaço para algumas surpresas.

Esta vai ser a temporada mais longa de sempre da F1. Ao todo, serão 24 grandes prémios mais seis corridas de sprint, ao longo de nove meses. Os testes de pré-época começaram no dia 21 de fevereiro, no Bahrain, e o primeiro Grande Prémio está marcado para o dia 2 de março, no mesmo local. O último Grande Prémio será no dia 8 de dezembro, na célebre pista de Abu Dhabi. Excecionalmente, as duas primeiras corridas da época (Bahrain e Arábia Saudita) vão decorrer ao sábado e não ao domingo, por coincidirem com a altura do Ramadão.

Os fins de semana de sprints sofreram alterações, depois de queixas por parte das equipas e dos pilotos. Este ano, a qualificação para os sprints foi mudada para sexta-feira, em vez de sábado. As corridas de sprint acontecerão ao sábado, algumas horas antes da qualificação para o Grande Prémio. Este último, mantém-se ao domingo.

A única “nova” corrida no calendário deste ano é o Grande Prémio da China, que está de regresso pela primeira vez desde 2019, quando foi afastado devido a restrições da Covid-19. A ordem das corridas também sofreu algumas alterações. O presidente da FIA (Federação Internacional do Automóvel), Mohammed Ben Sulayem, expressou o desejo de tornar “o espetáculo da Fórmula 1 mais eficiente, em termos de sustentabilidade ambiental e mais fácil de lidar para os responsáveis pelas viagens”. As mudanças passam por tentar colocar corridas em países próximos, juntas no calendário, para evitar que as equipas façam longas viagens desnecessárias.

Do Carnaval ao Natal, “um campeonato absurdo”

Diogo Cunha e João Correia Leite são co-criadores do podcast e magazine Bandeira Amarela. Os dois são grandes apaixonados pelo desporto motorizado, especialmente a F1. À conversa com o JPN, deixam algumas críticas à extensão do calendário deste ano: “Isto começa quase no Carnaval e vai até ao Natal. É uma loucura. É um campeonato absurdo”. João afirma que para além do número de corridas ser exagerado, “o tipo de circuitos que se tem juntado ao calendário não tem grande interesse”. Diogo concorda e acrescenta que este aumento na duração da competição “tira um bocado aquele sentimento especial aos fins de semana de Grande Prémio, porque todas as semanas há um”.

Calendário da Fórmula 1 2024

Expectativas para a nova época

Diogo Pinto tem 21 anos e é piloto da Team Redline, equipa profissional de simracing, afiliada da Red Bull e do atual campeão de F1, Max Verstappen. Este último faz inclusive parte da equipa e compete regularmente nas corridas virtuais. Diogo explicou um pouco melhor o conceito da modalidade: “O simracing trata-se de automobilismo virtual e simula as corridas o mais perto possível da realidade, desde a física, às pistas e aos carros. É também uma forma muito eficiente para, por exemplo, um piloto profissional se manter ativo quando não tem corridas na vida real”.

O piloto da Team Redline declara que “as pistas mais tradicionais, como Monza e Mónaco” são sempre as suas preferidas de assistir. No que diz respeito às expectativas para a nova temporada da F1, Diogo acredita que o seu colega Max Verstappen parte novamente como favorito. Porém, não acredita que vá ter a mesma facilidade do ano passado: “Acho que a Red Bull e o Max vão continuar a ser os mais fortes, mas não acho que vá haver um domínio quase total como no ano passado”.

Os membros do “Bandeira Amarela” acham difícil que o domínio da equipa austríaca não continue nesta época. “É muito difícil quebrares uma distância tão grande para o líder quando não tens uma alteração significativa no regulamento. E o novo carro da Red Bull continua a ser uma evolução de um carro que já era dominador”, afirma João Correia Leite.

O entusiasta de F1 acredita que os touros “ainda têm alguma margem para perder e mesmo assim continuarem à frente”. Destaca ainda o trabalho contínuo de Adrian Newey, diretor técnico da Red Bull, que “apesar de um regulamento que ele diz ser dos mais restritos da história da Fórmula 1, consegue ir buscar ali sempre qualquer coisa” para melhorar a performance do carro.

Diogo Cunha até brincou com um bluff feito pelo diretor: “Há umas semanas li umas declarações do Newey que diziam que este ano optaram por um carro mais conservador e que estão com medo de terem sido conservadores demais. Depois chegam à apresentação e mostram aqueles sidepods, que de conservadores não têm rigorosamente nada [risos]”.

Diogo acredita que esta época “não vai ser muito diferente do ano passado”. No entanto, João afirma “ter algumas curiosidades para ver as equipas atrás da Red Bull”. Numa coisa os dois concordam: a Mercedes, pelo menos no início do ano, é uma das maiores dúvidas: “A verdade é que eles quebraram com uma filosofia de design do carro e agora têm uma mais parecida com o resto do pelotão”, confirma João. Este tipo de mudança pode levar algum tempo a ajustar.

A Mercedes já não tem o mesmo domínio de outros anos. Foto: F1/X

Diogo declara estar “um bocado cético relativamente à Mercedes” por se tratar de “um conceito completamente novo”. Acrescenta ainda que a equipa alemã tem parecido “um pouco perdida” desde que os novos regulamentos aerodinâmicos foram introduzidos. Porém, também diz que este “estar perdido é relativo”, uma vez que ainda ficaram em segundo lugar no mundial de construtores do ano passado. “É tudo uma questão de expectativas, comparando com aquilo que foi domínio da Mercedes nos anos anteriores e o lugar onde estão agora” remata Diogo Cunha.

Relativamente às restantes equipas do pelotão, os apaixonados por F1 destacam ainda a Ferrari e a McLaren como equipas que podem dar continuidade ao bom trabalho do final da época passada. “É importante relembrar que a Ferrari tem um carro rápido. Não tem é um carro rápido ao domingo, que depois desfaz aqueles pneus todos. O problema está em conseguir atingir essa consistência” diz, entre risos, João Correia Leite sobre o estado da histórica equipa italiana.

Sobre a McLaren, Diogo Cunha não tem dúvidas que a equipa “parece muito confiante no conceito que fez no ano passado” e vai dar continuidade à boa progressão da última temporada.

A Aston Martin é uma das maiores incógnitas do paddock, mas, com a fábrica a 100%, pode dar seguimento ao trabalho que tinha sido feito no início do último ano. “A época passada já fizeram um projeto muito bom, mas faltou a capacidade de evoluir durante o ano. Este ano já com todos os meios da nova fábrica à disposição estou curioso para ver o que é que eles conseguem fazer”, conclui Diogo sobre as possibilidades da equipa de Fernando Alonso.

Apesar de não haver qualquer mudança nas equipas participantes, duas delas foram rebatizadas. A Alpha Tauri, equipa B da Red Bull, fez várias alterações ao nível da estrutura e muda mais uma vez de nome. Este ano vai correr sob o nome de Visa Cash App RB e tem um design que lembra a antiga Toro Rosso (nome anterior da equipa). A Alfa Romeo terminou o acordo de patrocínio com a Sauber Motorsport, que as unia desde 2019. A plataforma de streaming Kick assegurou o novo acordo com a fabricante italiana e a equipa foi oficialmente renomeada para Stake F1 Team Kick Sauber (normalmente designada por Kick Sauber, ou apenas Sauber). Este trata-se de um período de transição, uma vez que, em 2026, a Audi já garantiu a entrada na Fórmula 1 através do Grupo Sauber.

Uma grelha sem mudanças

A grelha do ano anterior repete-se pela primeira vez na história, com nenhum piloto a mudar de equipa. Porém, há muitos contratos a terminar no final deste ano e já existem algumas mudanças confirmadas para 2025. Lewis Hamilton parou o mundo do automobilismo quando anunciou que iria pôr um fim à sua longa e célebre relação com a Mercedes. O piloto mais vitorioso da história da F1 vai continuar o seu legado no vermelho da Ferrari e tentar trazer de volta o tão esperado título para os Tiffosi. Para abrir espaço para o britânico, Carlos Sainz vai abandonar a equipa italiana e ainda não tem certezas sobre o seu futuro.

João e Diogo afirmam que, apesar desta separação, não têm qualquer dúvida que Hamilton vai querer “sair em alta” da Mercedes, devido à forte conexão entre piloto e equipa. No que diz respeito a Sainz, a situação pode ser mais complexa. “Acho que o Sainz pode ter uma longa época, porque sabemos como é a Ferrari quando acaba a relação com um piloto”, analisa Diogo Cunha. A situação de Sebastian Vettel, histórico piloto da Fórmula 1, que se reformou em 2022, ainda está bem assente na memória. “Quando o Vettel ficou sem contrato, por vezes, parecia que tinha sido esquecido em pista” conclui João.

O espanhol ainda não tem equipa confirmada para 2025, contudo, não deverá ter grandes preocupações com isso. “É um piloto que já ganhou corridas, é um piloto rápido. Pode-se discutir ou não se é material de campeão do mundo, mas já deu provas mais que suficientes que é um bom piloto e tem lugar na grelha. Não acredito que o Sainz vá ficar desempregado em 2025”, afirmou Diogo Cunha.

No que diz respeito a possíveis revelações, João Leite afirma estar intrigado para ver a segunda época de Pierre Gasly na Alpine e a segunda de Oscar Piastri na F1. Já Diogo Cunha diz ter alguma curiosidade sobre a temporada de Alex Albon na Williams e admite que gostava que o tailandês tivesse um piloto com mais experiência ao lado.

Sergio Pérez tem vindo a ser contestado na Red Bull. Foto: Oracle Red Bull Racing/X

Um piloto que pode voltar a ser alvo de algumas críticas é Sergio Pérez. O mexicano tem o trabalho inglório de fazer par com Max Verstappen e foi bastante contestado, em 2023, por não conseguir acompanhar o holandês. Porém, Diogo Cunha, acredita que “quem se sentar naquele lugar vai sair sempre bastante prejudicado”. Os membros do “Bandeira Amarela” acreditam que “aquele Red Bull é naturalmente muito talhado para o Max”, devido à liderança tão vincada do tricampeão mundial.

No entanto, não acreditam numa saída do mexicano a meio da época, “até porque o mercado do México é muito bom para eles”. Esta separação deverá apenas acontecer no ano seguinte, criando espaço para um novo nome na F1. “A minha aposta é que o Ricciardo vá para o segundo Red Bull no próximo ano, abrindo vaga para o Liam Lawson na [Visa Cash App] RB” acredita Diogo.

Ainda antes da época começar, os dois entusiastas arriscaram uma previsão para a corrida mais entusiasmante da época. João Correia Leite apostou no Grande Prémio do Brasil. Já Diogo Cunha foi mais longe e optou pela Áustria com “a Ferrari a ganhar na casa da Red Bull”.

A nova temporada da Fórmula 1 arrancou no dia 21 de fevereiro, com os testes no Bahrain. Todas as corridas podem ser vistas na Sport TV ou no serviço de subscrição da F1 TV.

Editado por Filipa Silva