Nas últimas legislativas, no universo dos pequenos partidos, o RIR foi o que teve mais votos. Desta vez, Vitorino Silva, mais conhecido por Tino de Rans, cabeça de lista pelo círculo eleitoral do Porto, acredita que “o povo vai chegar ao Parlamento”. Em campanha pelo norte, o JPN acompanhou uma ação de campanha na Cantareira.

Nas últimas eleições legislativas, o partido obteve 0,42% (23.232) dos votos. Foto: Nádia Neto/JPN

Apesar de ser liderado por Márcia Henriques, advogada, o RIR (Reagir.Incluir.Reciclar) continua a estar muito associado a Vitorino Silva, mais conhecido como Tino de Rans. Foi ele que o JPN encontrou na Cantareira, junto à Foz do Douro, onde o cabeça de lista do partido pelo círculo eleitoral do Porto pedia licença para interromper a conversa entre dois senhores: “Posso fazer uma dedicatória?”, perguntou, enquanto assinava “RIR”, numa pedra da calçada, como se fosse uma estrela.

Calceteiro de profissão, distribuiu pedras da calçada, que guardou da obra dos Aliados, ao invés do típico merchandising dos partidos, que os restantes já nos habituaram. “Para os Aliados não morrerem, quero deixar um bocadinho por este mundo fora”, afirmou.

Aliás, poucas são as vezes em que o antigo presidente do RIR se apresenta. Está mais preocupado em assinar as pedras da calçada, distribuir canetas e apertos de mãos, junto dos carros que param no meio da estrada quando avistam o candidato. “Olha o Tino”, ouve-se amiúde, ao mesmo tempo que os condutores abrem os vidros, para ainda conseguirem trocar umas palavras com o candidato.

Em zona de pescadores, o fundador do RIR espera que “domingo [10 de março] seja uma boa pescaria”. Então, pelo caminho, seguido da pequena comitiva de cinco pessoas, decidiu cumprimentar todos os pescadores. Numa das pedras escreveu: “É desta!”. O partido concorreu duas vezes às presidenciais, em 2016 e 2021. Em 2022, nas eleições legislativas, recolheu 0,42% dos votos, qualquer coisa como 23 mil votos. Das forças políticas que não conseguiram assento parlamentar, foi o segundo partido com mais votos, atrás do CDS. De uma coisa, Vitorino Silva está convencido: “o RIR tem grandes quadros para fazer um bom papel na Assembleia da República”.

Em conversa com o JPN, Tino de Rans assume que a prioridade do partido é “defender a democracia”, “o planeta” e “a justiça”, dado que o partido é “planetário”. Sobre objetivos eleitorais, o antigo presidente do partido apontou ainda que quer ter “assento no parlamento”, bem como “voz na cerimónia dos 50 anos do 25 de Abril”.

Questionado sobre se o partido se identifica com a direita ou com a esquerda, atirou: “A democracia é um volante que eu respeito muito. E, hoje em dia, é preciso sabermos conduzir à direita, à esquerda, também ao centro, às vezes, mas nunca ir à valeta, senão caímos da ravina ou batemos contra o muro. A grande prioridade é defender o maior património que é o voto, a liberdade.” “É um partido de bancada central”, rematou.

O calceteiro de Penafiel acredita ser parte da solução governativa do país, uma vez que considera que é necessário “eleger um homem do povo.” Aliás, admite que o nome do partido é composto pelas “palavras mais bem pensadas do mundo”, ou melhor, para “reagir ao mundo”, comparando-se às forças políticas que, neste momento, têm assento parlamentar.

Situado ao centro, o partido é “artesanal, feito a pulso” e com “pouca gente” e tem candidatos em todos os distritos e, inclusive, nos círculos eleitorais da Europa e Fora da Europa. Para Tino, o segredo da campanha é estar praticamente todos os dias na rua, seja em contacto com as pessoas, seja a gravar vídeos – em todos os locais por onde passa -, que em poucas horas se tornam virais nas redes sociais. Desta forma, o candidato está a tentar arrastar as televisões e outros meios de comunicação para o efeito.

“Vamos dar no calceteiro” é o slogan escolhido para a campanha, a justificação é o candidato dispensar apresentações e o ‘calceteiro’ simbolizar todas as profissões que foram esquecidas, neste último ano, dado que, na opinião do candidato, só se fala dos professores, policias e médicos. Vitorino Silva aproveitou para falar da falta de atenção que os meios de comunicação têm dado ao partido.

“O efeito Tino causa a eles [partidos com assento parlamentar] confusão”, acrescentando que “há 1.591.947 eleitores [no Porto], que tenho a certeza que todos podem votar em mim, e nenhum destes 1.591.947 eleitores vai votar no Ventura, no Montenegro, nem no Pedro Nuno”.

Diz que o partido “nunca aparece nas sondagens”, apesar de o candidato fazer “um vídeo de manhã e no outro dia ter um milhão de visualizações”. “Neste momento, todas as rádios, todos os televisores me estão a ligar. Ando já aqui há um mês a alertar isso. E porquê que a comunicação social só acordou no final, a dois dias das eleições?”, questionou. “Quando soltarem os gráficos, tenho a certeza que muitos tripés que estão montados em Lisboa vão ter que ser desmontados e vir aqui para o Porto e para Penafiel. É isto que vai acontecer”, vaticina.

Visivelmente emocionado, Tino de Rans assume que “o dia 10 de março, vai ser um dia muito importante”. Recorda que no mesmo dia, em 1981, o pai faleceu. Até hoje, esteve “zangado” com esse dia, acredita que este ano será “diferente”, com a sua possível eleição a deputado.

Editado por Inês Pinto Pereira e Filipa Silva