O projeto visa ajudar as pessoas com deficiência ao informá-las sobre quais os clubes que têm condições necessárias para as acolher. O JPN conversou com o Tiago Maia, fundador do "Joga Simples", sobre como surgiu e como funciona o projeto.

O projeto conta com quase 150 clubes com acessibilidade. Foto: Danilo Trindade, Daniel Almeida

Durante quatro anos, Tiago Maia, que tem uma deficiência motora e precisa de uma cadeira de rodas para se locomover, procurou um clube no qual pudesse praticar ténis, sem sucesso, dada a falta de condições dos espaços para acolher alguém com as suas necessidades. Só aos 20 anos é que o jovem conseguiu encontrar um clube ao qual se poderia juntar. Foi para que outras pessoas não passassem pela mesma frustração que Tiago decidiu criar o “Joga Simples“, um site que permite que o utilizador procure clubes que acolham praticantes com deficiência.

Procurei por um clube com condições e cadeira desportiva durante quase cinco anos, sendo que encontrei quando tinha 20 e comecei a procurar aos 16. Se me tivessem apanhado aos 15, 16 anos, teria trabalhado aspectos técnicos e táticos muito mais importantes. Secalhar, teria apanhado toda a questão do crescimento muscular. Isto foi medido até pelo selecionador nacional de ténis em cadeira de rodas em Portugal, que disse que seria importante ter me apanhado mais cedo”, contou ao JPN.

Tiago disse ainda que, mesmo quando procurava especificamente clubes que supostamente poderiam acolhê-lo, os clubes diziam: “Olha, nós até fazíamos, mas não temos material”, “olha, nós há uns anos fazíamos, mas agora temos uma vala à entrada do campo e não conseguem entrar com a cadeira de rodas”, ou “nós até fazíamos, mas o treinador não tem disponibilidade”.

Tiago Maia com a equipa do Joga Simples Foto: Danilo Trindade, Daniel Almeida

“Os outros meios existentes em Portugal estavam muito desatualizados, a informação era insuficiente, muitas das vezes era só informação com o contacto, com a modalidade ou com a morada, e acabavam por se esquecer de muitas informações importantes sobre o material, condições de acessibilidade, disponibilidade dos treinadores, condições do clube e transporte. Isso acabou por nos motivar a fazer diferente, a fazer algo diferente da plataforma que já existe em Portugal”, disse o jovem de 21 anos. O site tem uma interface intuitiva e de fácil navegação.

Como funciona o projeto?

O projeto conta com uma base de dados com quase 150 clubes que dizem ter as condições necessárias para pessoas com deficiência praticarem desporto. Para encontrar algum clube que satisfaça as necessidades de quem está a procurar, é preciso ir à secção “Mapa de Clubes”, selecionar o distrito, a modalidade e o concelho. Se houver algum clube que satisfaça todos os requisitos, aparece no ecrã e, caso o utilizador o selecione com o cursor, vão aparecer informações gerais, as condições do clube, contactos, imagens e outras informações.

Segundo Tiago Maia, a base de dados está em constante crescimento e chegou ao estado atual, depois de os formulários terem sido partilhados com as federações, as juntas de freguesia, as câmaras municipais e autarquias e os clubes que estavam na base de dados do Comité Paralímpico e da Associação Salvador. As pessoas que souberem de algum clube que não está na base de dados podem preencher um formulário, encontrado na secção “Mapa de Clubes”, e enviá-lo para o e-mail do projeto.

O tenista deverá ainda criar um inventário de materiais acessível. A secção “Materiais para Prática” está ainda por desenvolver e só deverá entrar em funcionamento quando o projeto tiver um mapeamento satisfatório dos materiais que estão disponíveis nos clubes. “[Queremos] não só fazer a inventariação de todo o material para a prática que existe, mas também permitir a solicitação do material“, disse Tiago.

O desporto para pessoas com deficiência em Portugal

O intuito de Tiago é ajudar pessoas, como também o desporto para pessoas com deficiência em Portugal como um todo, também por considerar que o país está a passar por uma situação crítica, na qual não há incentivos para que novos atletas com deficiência entrem no cenário desportivo. O fundador do projeto mencionou que, segundo informação do Diário de Notícias, a participação de uma comitiva portuguesa nos Jogos Paralímpicos de Verão de 2028 está comprometida. “O trabalho realizado não tem foco no recrutamento de novos atletas. É feito para trabalhar os atletas que já existem. Isso acaba sempre por ser contraproducente, porque se não houver formação, a partir do momento em que os atletas que já estão em atividade começarem a envelhecer, depois nunca haverá uma reposição”, disse.

Tiago Maia a jogar ténis em cadeira de rodas Foto: Sara Falcão/FPT

“Estive agora, em fevereiro, numa das provas do calendário nacional de ténis em cadeira de rodas, e foi a prova mais participada de sempre de ténis em cadeira de rodas em Portugal, com, creio, 14 participantes. Isso acaba por ser muito bom [para o crescimento da modalidade]. Tenho 21 anos e, neste momento, sou o atleta mais jovem a jogar ténis em cadeira de rodas em Portugal. O atleta mais jovem de ténis em cadeira de rodas em Portugal deveria ser um atleta em formação com 10, 12 anos. Nunca alguém com 21. Ser o atleta mais jovem, é sinal de que algo realmente não está bem“, concluiu.

Editado por Inês Pinto Pereira