A construção da futura Linha G do Metro do Porto, que vai ligar a Praça da Liberdade/São Bento à Boavista/Casa da Música, deverá prolongar-se por 30 meses. Sendo uma obra pesada (a linha é subterrânea), prolongada e localizada num eixo viário central da cidade Invicta, não é difícil prever os grandes constrangimentos que a construção acarretará para quem vive, estuda, trabalha ou simplesmente passa pelo centro do Porto.

É dessas previsíveis consequências – positivas e negativas -, que trata o Estudo de Impacto Ambiental da linha, um documento técnico, com mais de 500 páginas, que está em discussão pública até 14 de dezembro.

Os impactos mais significativos da Linha Rosa, de acordo com o EIA, vão ocorrer na fase de construção. A equipa refere alguns: “degradação do ambiente visual, perturbação com ruído, produção de poeiras, intensidade e perturbação do tráfego rodoviário, fruição dos espaços públicos, como são a Praça da Liberdade e envolvente, o Jardim do Carregal, a Praça da Galiza e envolvente, e a Avenida de França”. No entanto, o documento refere também que estes impactos negativos serão pouco significativos e limitados no tempo.

Duas alternativas

Como era sabido, a linha será integralmente subterrânea e vai ter cerca de 3 quilómetros de extensão com quatro novas estações: Liberdade/S. Bento, Hospital de St. António, Galiza e Boavista/Casa da Música.

Contudo, estão ainda em estudo duas alternativas para o traçado (ver imagem).

Alternativas divergem na primeira metade de troço.

Alternativas divergem na primeira metade de troço. Imagem: EIA/Linha Circular Metro do Porto

O EIA atribui mais vantagens ambientais à alternativa 1, ainda que sejam “marginais”. Esta alternativa acarreta menos custos de construção e manutenção e ainda vantagem em termos de exploração da via. No entanto, esta alternativa também apresenta desvantagens.

Em relação à alternativa 2, passa mais perto da Torre dos Clérigos. Também prevê um poço de ventilação na Praça de Parada Leitão, em frente ao Café Âncora D’ouro (Piolho) e afeta “parte da área da esplanada exterior”. Por essa razão, a equipa responsável pelo EIA recomenda que o poço seja “deslocado cerca de 80m para sul”.

Obras pesadas em zonas sensíveis

Um dos aspetos focados no documento é que a linha de metro vai passar junto a edifícios protegidos tais como a Torre dos Clérigos, a Livraria Lello, o Hospital de Santo António ou o Monumento aos Heróis da Guerra Peninsular.

A estação do hospital vai situar-se sob o Jardim do Carregal, que será reabilitado e que perderá duas árvores que “não estão indicadas como sendo árvores relevantes”.

Por sua vez, a estação Galiza vai situar-se no Jardim Sophia (estação escavada, mas a céu aberto) e aí já será “uma intervenção significativa”. Cerca de metade da área do jardim será afetada e a circulação na Rua Júlio Dinis pode ficar interrompida durante longos períodos.

Na Praça da Galiza, o sentido do trânsito vai mudar e a praça vai passar a funcionar “como uma espécie de ‘rotunda’”. Os transportes públicos vão ser privilegiados e vai ser permitida a inversão do sentido de rodagem dos autocarros.

Alteração nos táxis em São Bento

Outra solução proposta no EIA é “retirar o trânsito viário (paragem de táxis) da frente da estação de comboios de S. Bento”. A nova localização da paragem de táxis proposta é o final da Rua do Loureiro. Também se vai criar uma baia “para cargas e descargas de passageiros”, que vai ter lugar na parte inferior em frente à Estação de S. Bento.

Hugo Filipe tem 41 anos e é taxista há 11. Há 11 anos que também para o seu táxi em frente à estação, portanto, sobre esta hipótese diz ao JPN com prontidão: “Acho péssimo”. É da opinião que vai afetar o número de clientes “principalmente no turno da noite, porque as pessoas nunca passam na Rua de Loureiro”.

José Silva, de 52 anos, é taxista há apenas dois meses e reflete sobre o facto da rua ser estreita e não ser fácil colocar lá todos os automóveis. Acrescenta que as pessoas “terão de se deslocar à procura do táxi”, se a proposta for seguida. Monteiro de Sousa, taxista há nove anos, vai mais longe e refere que as pessoas “vão procurar outra coisa”. No entanto, refere que se houver espaço na rua, “tudo bem”.

António Costa, também taxista naquela praça, conforma-se com a situação: “Quem manda é a Câmara”, afirma.

Prevê-se que as obras comecem em 2019 e acabem em 2022. O calendário apresentado no EIA estima que, para que a linha esteja em funcionamento no prazo de 30 meses, as obras se dividam da seguinte forma: os trabalhos iniciais, tais como a abertura do poço de ataque, nos primeiros cinco meses; o troço entre a Praça da Liberdade e o Hospital de Santo António deverá demorar um ano a ficar pronto (do mês seis ao 18); o troço do Hospital até à Praça da Galiza deverá demorar tempo semelhante (do mês 7 ao 20); enquanto unir o troço da Galiza até à Boavista deve acontecer entre o mês nove e o 22. Por fim, serão necessários oito meses (mês 22 ao 30) para os trabalhos finais, a integração urbana e a desmontagem do estaleiro.

Assim, espera-se que a obra demore um total de dois anos e meio até ficar concluída.

Artigo editado por Filipa Silva