Um estudo da revista científica Science Advances, feito com 500 mil estudantes de 72 países, revelou que as raparigas têm mais probabilidade de apontar a falta de talento como justificação para as suas falhas do que os rapazes. O estereótipo presente tem o nome de “genialidade de género” e reflete a ideia preconcebida de que os homens têm mais talento inerente do que as mulheres. Portugal está incluído na investigação multinacional e, como quase todos os países, verifica esta tendência.

O estudo visa compreender o facto de existir diferença salarial entre géneros e de as mulheres estarem sub-representadas nos altos cargos (na Europa, apenas 23,3% dos membros do conselho das maiores empresas de capital aberto e 5,1% dos diretores executivos são mulheres), apesar das mulheres superarem os homens no ensino superior do mercado de trabalho ser mais de 40% feminino na maior parte dos países da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE).

Os investigadores Clotilde Napp e Thomas Breda questionaram os jovens sobre as causas do seu fracasso e relacionaram as respostas com as diferenças de género. “Quando falho, receio que isso possa ter acontecido por não ter talento suficiente” foi a questão colocada. A base deste trabalho foi o Programa Internacional de Avaliação de Alunos (PISA) de 2018, onde estava integrada esta questão. A percentagem de raparigas que afirmou ter esse receio foi 61%, face a apenas 47% de rapazes, nos países da OCDE. Esta diferença entre géneros (14% em países desenvolvidos) foi menor em países não pertencentes à organização (8%)

Em Portugal, verificou-se o mesmo que em todos os outros países da OCDE – mais raparigas acham que erram por falta de talento do que rapazes. Contudo, os valores deste estereótipo de “genialidade de género” no nosso país excedeu a média dos países que participaram no PISA (0,38 em Portugal; 0,24 no PISA) e acima da média da OCDE (0,38 em Portugal; 0,32 nos países da OCDE)

Os estudos concluíram também que estes estereótipos são mais fortes entre estudantes de alto desempenho e em países mais desenvolvidos. Padrões semelhantes são observados para diferenças de género em competitividade, autoconfiança e disposição para trabalhar numa ocupação relacionada a tecnologias da informação e comunicação (TIC).

Artigo editado por Tiago Serra Cunha