A primeira volta das eleições presidenciais em França acontece no próximo domingo. Nas sondagens, Marine Le Pen nunca esteve tão próxima de Emmanuel Macron, que tenta a reeleição para o cargo.

No próximo domingo, dia 10, os franceses voltam às urnas para escolher quem vai liderar o seu país nos cinco anos que se seguem. Num contexto de tensão na Europa, com a França na presidência rotativa da União Europeia (UE), Emmanuel Macron tenta ser reeleito para um segundo mandato.

Numa eleição que acontece em duas voltas, as sondagens dão a vitória ao incumbente Emmanuel Macron. De acordo com o agregador de sondagens do “Le Monde”, o atual presidente pode conquistar entre 24 a 29% dos votos na primeira volta.

Durante o primeiro mandato, o presidente francês enfrentou o descontentamento dos “coletes amarelos”, que se organizaram em protestos contra o aumento dos impostos sobre os combustíveis fósseis e pela melhoria das condições sociais das classes médias e baixas. Macron teve de lidar ainda com a pandemia de Covid-19, e vê-se agora a braços com a tensão geopolítica gerada pela guerra entre a Rússia e a Ucrânia.

A guerra será um fator com preponderância significativa nestas eleições, de acordo com as sondagens. Desde que o conflito estalou, a 24 de fevereiro, a popularidade dos principais candidatos alterou-se em função das suas posições sobre o tema. O presidente francês foi positivamente afetado por estas circunstâncias, tendo registado os valores mais altos nas sondagens até agora a 7 e 8 de março. No entanto, nos últimos dias, os números têm diminuído.

Com a escalada do conflito, a participação do presidente francês na campanha eleitoral tem sido tímida. Sem participar em nenhum debate, a candidatura de Emmanuel Macron foi confirmada a apenas cinco semanas da primeira volta [03 de março] e o programa foi apresentado a 17 de março, menos de um mês antes do ato eleitoral. No único congresso que a sua comitiva organizou, o incumbente apelou ao voto, aludindo ao perigo da extrema-direita: “Nós habituamo-nos a ver desfilar nalgumas televisões autores antissemitas, racistas. Não os assobiemos, vamos combatê-los com as nossas ideias”.

O atual presidente conta com a concorrência de onze candidatos, sendo que os principais são Marine Le Pen, de extrema-direita, e, no lado oposto do espetro, Jean-Luc Mélenchon, da França Insubmissa. Éric Zemmour, também ele de extrema-direita, e Valérie Pécresse, dos Republicanos, também foram apontados como candidatos na luta pelo acesso à segunda volta, para a qual passam os dois candidatos mais votados. No entanto, ambos têm descido nas sondagens e estão já a uma distância considerável da segunda classificada.

Sondagens apontam para uma segunda volta renhida entre Macron e Le Pen

As sondagens também indicam que se avizinha a repetição da disputa entre Macron e Marine Le Pen na segunda volta. A candidata da extrema-direita está em segundo lugar das sondagens, numa tendência de aproximação ao presidente francês, podendo ter entre 21 e 25% dos votos. Em caso de passagem, prevê-se uma luta bastante renhida: uma sondagem da Ifop-Fiducial para a “Paris Match”, LCI e Sud Radio publicada no dia 6 dá 52,5% dos votos a Macron, enquanto que Le Pen conquistaria 47,5%. Esta é a menor diferença alguma vez registada entre os dois candidatos. Recorde-se que em 2017, Macron venceu com 66%, ficando Le Pen com 34% dos votos na segunda volta.

A popularidade de Le Pen tem tido altos e baixos, sobretudo desde a invasão russa à Ucrânia, no entanto, é possível verificar um padrão de subida nos últimos dias. Aproveitando o afastamento de Macron, a candidata focou a sua ação de campanha em questões internas, tais como a defesa do poder de compra dos franceses, o que lhe valeu uma recuperação nas sondagens e permitiu-lhe levar a melhor sobre o seu rival de extrema-direita, Éric Zemmour.

Apesar de a passagem de Le Pen ser quase certa, a candidata da Reunião Nacional luta pelo acesso à segunda volta com Jean-Luc Mélenchon. O candidato da esquerda radical surge em terceiro lugar das sondagens, sendo o único candidato de esquerda a poder alcançar mais de 10% dos votos neste ato eleitoral (no caso, 14 a 18%). Perante uma esquerda fragmentada, Mélenchon pode beneficiar do voto útil de alguns eleitores deste espetro político, que pretendam afastar Marine Le Pen da segunda volta.

A confirmar-se, Mélenchon conseguiria subir uma posição relativamente ao último ato eleitoral, no qual ficou em quarto lugar na primeira volta. Porém, na segunda volta, o rosto da França Insubmissa não conseguiria levar a melhor sobre Macron: segundo a sondagem da Ifop-Fiducial, Mélenchon arrecadaria 41% dos votos contra 59% do atual presidente.

Zemmour e Pécresse perdem força, esquerda divide-se por três candidatos

A uma distância já considerável de Mélenchon, surge Éric Zemmour. O ex-colunista e comentador televisivo, que, no passado, declarou ser admirador de Putin, viu a sua popularidade decrescer com o início do conflito na Europa. O candidato de extrema-direita já tinha estado próximo da rival Marine Le Pen, em posição de discutir com ela o acesso à segunda volta. Porém, atualmente, encontra-se entre o quarto e o quinto lugar, junto com Valérie Pecresse. O agregador de sondagens do Le Monde indica que Zemmour terá entre 7 a 10% dos votos.

Ainda no que diz respeito aos resultados eleitorais, os partidos tradicionais enfrentam o desafio de fidelizar os seus votantes habituais. Valérie Pecresse, cuja eleição como candidata presidencial dos republicanos causou surpresa, chegou a estar em segundo lugar das sondagens, à frente de Marine Le Pen. No entanto, a tendência tem sido de queda, sendo que atualmente estima-se que a candidata possa ter entre 7 e 10% dos votos. Pécresse está agora em quarto lugar de algumas sondagens e em quinto de outras, praticamente empatada com Éric Zemmour.

Já os partidos de esquerda não conseguiram recuperar do “esvaziamento” que sofreram em 2017. Os votos dos eleitores deste espetro político devem dividir-se por três candidatos: o ecologista Yannick Jadot; o comunista Fabien Roussel e a socialista Anne Hidalgo.

Yannick Jadot, que em 2017 desistiu da corrida ao Eliseu e declarou o seu apoio ao socialista Benoît Hamon, aparece em sexto lugar das sondagens, já a alguma distância de Pécresse e Zemmour. O candidato ecologista pode ter entre 4 e 7% dos votos, sendo seguido por Fabien Roussel. O candidato do Partido Comunista surge em sétimo lugar das sondagens, podendo alcançar entre 2,1 a 4% dos votos.

O Partido Socialista francês, que tinha vencido as eleições em 2012 com François Hollande, sofreu um revés eleitoral nas últimas presidenciais, com Benoît Hamon, ao alcançar apenas 6,36% dos votos na primeira volta (quinto lugar, a cerca de 13 pontos percentuais do seguinte classificado). Mas este ano, o partido pode mesmo perder a sua relevância política em definitivo. A eleição de Anne Hidalgo para a corrida ao Eliseu não gerou consenso no partido e não se avizinha um resultado feliz: as sondagens apontam para que a maîre de Paris não passe dos 2,8% dos votos.

A primeira volta das eleições presidenciais francesas acontece a 10 de abril, enquanto que a segunda tem lugar duas semanas depois, a 24 de abril. A campanha teve início a 28 de março.

Artigo editado por Filipa Silva