O incumbente voltou a vencer frente a Marine Le Pen, mas por uma margem menor do que a de 2017. Esta é a primeira vez em 20 anos que um presidente francês consegue a reeleição.

Emmanuel Macron é o primeiro presidente francês a ser reeleito para um segundo mandato desde 2002. Foto: Twitter En Marche

Emmanuel Macron foi este domingo (24) reeleito para um segundo mandato enquanto chefe de Estado de França. O incumbente venceu a segunda volta das presidenciais com 58,54% dos votos, um valor inferior ao que permitiu a sua eleição em 2017. Com 41,46% dos votos, Marine Le Pen conseguiu alcançar o melhor resultado de sempre da extrema-direita em presidenciais francesas.

No discurso de vitória, Macron agradeceu aos franceses que nele confiaram para tornar a França “mais independente” e “um grande país ecológico”, bem como para fortalecer a Europa. O chefe de Estado dirigiu-se também aos eleitores que votaram nele para “barrar” a extrema-direita: “Quero dizer-vos que tenho consciência da minha dívida nos próximos anos”. O líder do Em Marcha garantiu ainda que o mandato que se avizinha “não será a continuidade do mandato que acabou de terminar”.

Macron reconhece a “deceção” dos franceses que votaram na sua adversária: “Para muitos dos nossos compatriotas que hoje escolheram a extrema-direita, a raiva e o desacordo que os levaram a votar nesse projeto devem também encontrar uma resposta. É essa a minha responsabilidade e a daqueles que me rodeiam”, sublinha.

Emanuel Macron a votar na segunda volta das Presidenciais francesas. Foto: Facebook Emmanuel Macron

Perante um resultado histórico, que considerou representar “uma vitória retumbante”, Marine Le Pen revelou sentir-se “honrada” e “sinceramente tocada”. “Com esta derrota, sinto uma esperança”, declarou. A candidata da Reunião Nacional acredita que Macron “não fará nada para colmatar as fraturas que dividem o país e fazem sofrer os nossos patriotas”, prometendo não ignorar a “França demasiado esquecida”.

Le Pen diz ainda que não tem “ressentimentos nem rancores”. “Já fomos enterrados mil vezes e mil vezes a história provou que estavam errados aqueles que previam ou esperavam o nosso desaparecimento”, acrescentou. A candidata mostrou-se pronta para “a grande batalha eleitoral das legislativas”, marcadas para junho, explicando que este resultado deixa o seu partido “em excelente posição para obter um grande número de deputados”.

Marine Le Pen com os seus apoiantes na noite eleitoral de domingo (24). Foto: Twitter Marine Le Pen

A abstenção situou-se nos 28%, o valor mais elevado numa segunda volta desde 1969, ano em que 31,3% dos franceses não votou. Emmanuel Macron mostrou-se preocupado com este conjunto de eleitores: “o silêncio deles representou uma recusa em escolher, à qual também temos obrigação de responder”.

Uma vitória com um travo agridoce

A Imprensa francesa destaca a vitória de Emmanuel Macron, mas ressalva que o segundo mandato do presidente será desafiante, muito devido à divisão política que o país enfrenta.

Capa do jornal Libération de 25 de abril de 2022. Foto: Libération

O “Libération” escolhe como título “Macron reeleito: obrigado a quem?”, sublinhando que a vitória do presidente se deve a um “sobressalto democrático dos franceses, que se mobilizaram para contrariar uma extrema-direita mais forte do que nunca”. A capa desta segunda-feira (25) é dedicada em exclusivo a este tema e ilustrada por uma fotografia na qual surge parcialmente a cabeça de Macron, na base da página.

No seu editorial intitulado “Um país fraturado, o essencial preservado”, este diário alerta que o presidente não deve deixar-se enganar sobre o significado da sua vitória. “Durante o seu segundo mandato, ele [o chefe de Estado] terá a tarefa de devolver a fé no futuro àqueles que se sentem relegados”. O “Libération” atribui o mérito deste “grande alívio” à “maturidade política dos franceses” que souberam “mobilizar-se para recusar as quimeras dos populismos de extrema-direita”.

O editorial, que fala numa França que “está mal”, refere que Macron “não atacou as raízes do mal-estar francês” e que o seu primeiro mandato contribuiu para um “empobrecimento democrático”. O jornal afirma ainda que o incumbente “deverá convencer que ele não é o Presidente dos ricos e da França que tem confiança no futuro, mas daqueles que se sentem relegados”.

Capa do jornal Le Figaro de 25 de abril de 2022. Foto: Le Figaro

O “Le Figaro” fala em “Grande vitória, grandes desafios” para o presidente, ilustrado numa fotografia em que acena aos seus apoiantes. Este jornal fala numa “vitória histórica” de Macron, destacando que, na Quinta República, um presidente nunca tinha conseguido “ser reeleito sem ter passado por uma coabitação governativa”.

Ainda na capa, é possível ler um editorial que se intitula “Agora, é necessário agir”, onde se afirma que “Na aparência, é uma apoteose”, e considera o desempenho do presidente “de tirar o fôlego” para um ““amador””, tendo em conta os problemas que enfrentou no seu primeiro mandato.

Capa do jornal Le Monde, edição de 26 de abril de 2022. Foto: Sapo Jornais

No entanto, para o “Le Figaro”, “a estátua de mármore é um gigante com pés de barro”. O editorial refere que “na hora do seu triunfo, [Macron] nunca esteve tão vulnerável”. “Não irá beneficiar de um estado de graça e os problemas não vão esperar para que tome posse antes de se abaterem sobre ele”, prevê o jornal, que considera que não existe “qualquer entusiasmo” em torno do incumbente.

Já o “Le Monde” destaca a reeleição de Macron, bem como o resultado histórico da extrema-direita. Num editorial disponível na sua versão online, o diário fala numa “reeleição à beira do abismo”, na qual o presidente é confrontado “com o seu fracasso”: “Ele não conseguiu fazer recuar o extremismo nem revitalizar a nossa [dos franceses] vida democrática”.

Os dois candidatos já se tinham defrontado na segunda volta das presidenciais de 2017, quando a diferença entre ambos foi maior. Macron foi eleito com 66,10% dos votos, enquanto Le Pen tinha arrecadado 33,90%. Macron é o primeiro presidente francês a conseguir a reeleição desde 2002, ano em que Jacques Chirac foi eleito para um segundo mandato.

Artigo editado por Filipa Silva