Webjornalismo, jornalismo online, jornalismo digital ou ciberjornalismo. Quatro conceitos muito referidos em dois dias das jornadas “Dez anos de jornalismo digital em Portugal: estado da arte e cenários futuros”, no Instituto de Ciências Sociais, na Universidade do Minho, em Braga.

O brasileiro Rosental Calmon Alves, da Universidade do Texas, nos EUA, explicou que o jornalismo digital ainda tem muito que se desenvolver. “A web é vista como complemento, extensão dos ‘media’ tradicionais e não como ‘media’ novo”, afirmou.

Rosental classificou esta década de webjornalismo como de “shovelware”: os media tradicionais “têm funcionado com um método de produção jornalística nos seus sites de mera transposição ou cópia de conteúdos”.

Rosental falou ainda da importância de investir na Internet para a desenvolver. O investigador exemplificou: 76% dos jornais norte-americanos na Internet estão orgulhosos de ser lucrativos, quando ainda não é o momento de ganhar dinheiro na Net. “Este é o momento de investir na Internet e não de lucrar com a Internet. [É tempo] de apostar em aspectos diferentes e peculiaridades do novo meio”, observou.

A publicidade tem-se tornado num grande trunfo na Internet, por isso, e como explica Rosental Calmon Alves, “os classificados, que representavam 40% da facturação dos jornais nos EUA, estão progressivamente a migrar para a Internet”.

Jornalismo digital está na puberdade

“O hipertexto, interactividade, acesso a bases de dados, áudio, vídeo, animação, canais de comunicação com os utilizadores ainda são experiências escassas de narrativa multimédia no actual jornalismo digital”, afirmou Rosental, que considera que “o jornalismo digital está ainda na puberdade”.

Contudo, Rosental dá boas notícias: “o jornalismo online ganhou massa crítica e tornou-se indispensável para jornalistas bem informados”.

Revolução ou evolução?

O professor da Universidade do Texas conclui que “a evolução digital é uma revolução”. Por outro lado, o director do Laboratório de Comunicação Multimédia (MMLab) da Faculdade de Comunicação da Universidade de Navarra, em Espanha, Ramón Salaverría, diz que “há uma evolução e não uma revolução”.

Ramón Salaverría justifica a opinião, referindo que ao longo da história o surgimento de um novo “mass media” é sempre apelidado de revolucionário e pensa-se “que este trará consigo o fim dos ‘media’ tradicionais. Contudo, o panorama actual mostra que, na realidade, há uma coexistência de todos”. “Por isso, falo em evolução”, sintetiza.

Mudança na relação dos jornalistas com os públicos

Salaverría salientou também que nestes 10 anos se observou um grande decréscimo na leitura de jornais, enquanto a Internet se tornou no “primeiro ‘mass media’ escrito na Europa”. Um dos efeitos inesperados neste período é que o jornalismo digital significa também “uma maior resposta a velhos pedidos do público”.

Salaverría concorda com Rosental ao dizer que “a maior comunicação entre jornalista e leitor é ainda uma expectativa não cumprida”.

“O conceito de comunicação de massa deve ser revisto. A revolução digital abre caminho a uma comunicação ‘eucêntrica’: é tudo o que eu quero, como, quando e onde quero”, explica Rosental Calmon Alves. O sistema RSS, exemplificou, é uma forma de “agregar conteúdos que significa uma ruptura na estrutura que os sites de notícias tinham montado, por que é o usuário que faz a sua própria página”.

O digital nacional

Os dois dias de jornadas contaram ainda com a presença de docentes de jornalismo e de jornalistas com experiência no jornalismo digital.

Helder Bastos, docente da Universidade do Porto, deixou a ideia de que falta aos jornalistas “formação, formação e mais formação” para trabalharem no novo meio que é o online.

António Granado, jornalista do Público e professor na Universidade de Coimbra, referiu a ideia de que, “cada vez mais, o jornalista é o homem dos sete instrumentos, que faz tudo o que for necessário no meio multimédia da Internet”.

O professor da Universidade da Beira Interior João Canavilhas defendeu a “necessidade de dominar não só a ferramenta, mas essencialmente a linguagem”, porque “todos os jornalismos são iguais, as linguagens é que são diferentes”.

Letícia Amorim
Foto: UM