Fazem hoje, terça-feira, 32 anos que a data 25 de Abril passou a significar algo mais do que apenas outro dia no calendário para os portugueses. Sobre essa data já foram, certamente, escritas milhares e milhares de páginas, discutidas centenas de ideias. Pergunta-se o que mudou, pergunta-se o que poderia ter mudado. Mas o 25 de Abril mantém-se como a data em que Portugal comemora a fim de 40 anos de ditadura.

E passados 32 anos sobre a Revolução dos Cravos, uma questão que, por vezes, é colocada é a da credibilidade de quem hoje está à frente dos destinos do país. E compará-la com a de quem governava depois de 1974.

Um estudo do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa, datado de 2001, indicava que em 1999 os portugueses, numa escala de 0 a 100, revelavam um grau de confiança no Parlamento na ordem dos 47. Em comparação a um valor de 41 em 1990.

A politóloga Marina Costa Lobo discorda de que hoje em dia “existam razões efectivas que levem a um descrédito dos políticos em comparação com o 25 de Abril”. De acordo com esta professora, “a confiança nos políticos e nos parlamentos deriva em grande medida das percepções sobre a performance da economia e da situação económica”, o que leva a que, dada a situação económica actual do país, “os eleitores culpem o Governo e as instituições políticas pelo estado de coisas”.

A investigadora aponta ainda mais duas razões para o suposto grau de desconfiança existente. Em primeiro lugar, a identificação partidária. Ou seja, “quem se identifica com o partido que está no Governo terá tendência a confiar nos políticos”. Por último, “a (des)confiança está saudavelmente relacionada com o nível de educação”. O que significa que “quanto mais educada a sociedade, mais informada sobre os processos de decisão, e menos disponível para deixar-se governar, sem querer responsabilizar os políticos”.

Na opinião de outro politólogo, André Freire, afirmar que existe uma “descrença geral” nos políticos é “abusivo”, apesar de reconhecer que “tem havido um crescimento da desconfiança”. As razões dessa desconfiança são várias, desde a conjuntura até à “facilidade das promessas” feitas em campanha eleitoral e que depois não são cumpridas.

O professor do ISCTE refere que outra razão para a desconfiança gerada é o “esbater das fronteiras ideológicas entre os partidos políticos”, que leva a que, entre os principais partidos, aqueles capazes de formar Governo, as propostas variem “por questões de competência” e não de conteúdo em si.

Ambos os investigadores explicam que, devido às décadas de ditadura, estabeleceu-se uma cultura política aversa à participação e favorável à apatia. Segundo André Freire, existe “uma aversão ao conflito político”, que afasta os portugueses da política activa.

O panorama político português, onde predominam rostos já conhecidos de há muito, também pode ser encarado como um factor de desinteresse na política. Desinteresse esse que “pode estar relacionado com as alternativas partidárias que existem e com a falta de incentivos dos partidos para que a sociedade se mobilize”, explica Marina Costa Lobo. André Freire afirma ser necessária uma “democratização” dos partidos, de modo a “abrir às bases” a participação na vida partidária.

Tiago Dias