Uma criança morre a cada 19 segundos devido a diarreia. Ao ritmo actual, o mundo não vai conseguir cumprir a meta dos Objectivos de Desenvolvimento do Milénio, afirma o Relatório de Desenvolvimento Humano (RDH) 2006, divulgado hoje pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD).

Os Objectivos do Milénio prevêem reduzir para metade até 2015 a proporção de pessoas sem acesso a água e saneamento. Para atingir esta meta, é necessário assegurar o acesso à água a mais 900 milhões de pessoas e saneamento a 1,3 mil milhões.

As projecções do RDH 2006 apontam para que, ao ritmo actual, este compromisso só vai ser atingido em 2016 (água) e 2022 (saneamento). Para melhorar o acesso a estes bens, a ONU propõe um Plano de Acção Global para a água.

O relatório, intitulado “Além da escassez: poder, pobreza e a crise mundial da água”, afirma que mil milhões de pessoas (cerca de um sexto da população do planeta) vivem sem acesso a água limpa, e que, dessas, quase duas em cada três sobrevivem com menos de dois euros por dia.

Cerca de 3 mil milhões de habitantes moram em casas sem esgoto. “A crise da água e do saneamento é, acima de tudo, uma crise dos pobres”, resume o documento.

Devido à falta de água potável e saneamento, registam-se anualmente 5 mil milhões de casos de diarreia nos países em desenvolvimento. Em cada ano, a doença tira a vida a 1,8 milhões de crianças com menos de cinco anos (4.900 por dia). É a segunda principal causa de morte na infância, só atrás de infecções respiratórias.

“A água limpa e o saneamento estão entre os mais eficientes remédios preventivos para reduzir a mortalidade infantil”, diz o RDH.

O relatório faz uma comparação: enquanto um habitante de Moçambique usa, em média, menos de 10 litros de água por dia, um europeu consome entre 200 e 300 e um norte-americano 575 litros.

Acesso universal à água custaria 20 a 30 mil milhões

Os Objectivos do Milénio, salienta o relatório, “devem ser encarados como um patamar mínimo de abastecimento, não como um tecto”. Mesmo que as metas sejam atingidas, ainda haverá 800 milhões de pessoas sem acesso a água e 1,8 mil milhões sem saneamento em 2015.

Reduzir para metade a proporção de pessoas sem acesso a esses bens básicos requer 10 mil milhões de euros por ano se for usada uma tecnologia de baixo preço. Para universalizar o acesso são necessários entre 20 a 30 mil milhões de euros, dependendo da tecnologia.

“É um pequeno preço a pagar para um investimento que pode salvar milhões de vidas jovens, libertar as pessoas de doenças que lhes tiram a saúde e gerar um retorno económico que impulsionará a prosperidade”, argumenta o relatório.

Joana Vasconcelos
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Foto: ONU