A Fundação de Serralves, no Porto, terá 14 milhões de euros até 2015 para reforçar a sua colecção de arte contemporânea. Do valor, 6,6 milhões provêm do Ministério da Cultura (MC), 3,4 da própria Fundação e 4 milhões de outras entidades, nomeadamente autarquias.
É um montante “significativo” no contexto português, como reconheceu o presidente da Fundação, António Gomes de Pinho, mas que não conta com a contribuição da Câmara do Porto, ao contrário do que aconteceu em 2003, quando foi constituído o fundo para aquisição de obras de arte. O protocolo então assinado e renovado esta segunda-feira termina a 31 de Dezembro deste ano.
“Lamento vivamente que este acordo não tenha uma natureza tripartida”, afirmou a ministra da Cultura, na cerimónia de renovação do protocolo entre a tutela e Serralves. Isabel Pires de Lima lamentou a “indisponibilidade manifesta do município” para aumentar a contribuição financeira. “Em época de contenção, é preciso saber elencar prioridades e Serralves é uma prioridade”, acrescentou. É mais um dessintonia entre o MC e a Câmara do Porto, depois do processo de privatização da gestão do Rivoli.
Câmara e Serralves preparam acordo
Questionado pelos jornalistas no final da cerimónia, o vereador da Cultura da Câmara do Porto, Gonçalo Gonçalves, não quis comentar o lamento da ministra, mas lembrou que o “actual protocolo é válido até ao final do ano”. Sem adiantar valores, anunciou que a autarquia vai assinar um novo acordo com Serralves até à data de expiração deste.
Também Gomes de Pinho referiu que Serralves e a autarquia continuam a colaborar. Ao JPN, o presidente da Fundação adiantou que a “autoexclusão” (como disse Pires de Lima) da câmara do protocolo assinado esta segunda-feira deveu-se ao facto de Rui Rio “não querer comprometer [financeiramente] o seu sucessor”. Nesse sentido, Serralves está “muito optimista” quanto ao acordo que está a ser negociado com o município, disse.
O MC, que desde 1999 já investiu 9 milhões de euros em 658 obras da colecção, decidiu avançar para um acordo bilateral, apesar de inicialmente estar apenas disposto a aumentar o financiamento em conjunto com a Câmara do Porto.
Foi o “invulgar efeito multiplicador deste investimento” (as obras estão hoje avaliadas em 25 milhões de euros), patente também no “prestígio” de Serralves além-fronteiras e da sua política de “descentralização”, que levou o ministério a avançar sem a autarquia.
Isabel Pires de Lima elogiou ainda a capacidade da instituição portuense de criar e fidelizar públicos. Exemplo disso foi o “êxito” da exposição “Anos 80”, que obteve mais de 100 mil visitantes, um “número absolutamente impressionante”.
Anos 80 e 90
As opções de compra de Serralves para os próximos anos vão focar-se nos anos 80 e 90, depois do primeiro ciclo de constituição de uma colecção própria ter favorecido as duas décadas anteriores.
Valorizar artistas menos célebres, peças que interrogam e “períodos de dúvidas e questionamentos e “obras menos conhecidas” de artistas famosos são alguns dos critérios enunciados pelo director do Museu de Arte Contemporânea, João Fernandes, para a nova fase da colecção.