A polémica em torno do currículo académico do primeiro-ministro veio relançar a discussão sobre o relacionamento entre a comunicação social e os blogues. As dúvidas sobre a licenciatura de José Sócrates na Universidade Independente surgiram há dois anos na blogosfera. Foi a partir delas que o jornal “Público” publicou em Março a primeira peça jornalística sobre o tema.
Para Luís Santos, docente do Departamento de Ciências da Comunicação na Universidade do Minho e autor do blogue “Atrium“, o jornalista não deve “aceitar ‘at face value’ tudo o que aparece na blogosfera. Se os jornalistas assim o fizerem correm sérios riscos”.
Também Hélder Bastos, docente do curso de Jornalismo e Ciências da Comunicação da Universidade do Porto e autor do “Travessias Digitais“, defende que o blogue deve funcionar apenas como “ponto de partida para a investigação jornalística”.
Ainda que no caso do primeiro-ministro a denúncia tenha sido identificada, o professor de jornalismo refere que tal aspecto “não significa que possa passar directamente para a condição de notícia”. Cabe ao jornalista, de acordo com o professor, “autenticar a informação” e verificar se há “sustentação”.
Sobre a credibilidade da blogosfera, Luís Santos sublinhaque “não é o formato que é credível, são as pessoas que animam os diversos blogues que tornam o seu em particular credivel ou não”.
Acrescenta, ainda, que sobre as conversas que têm envolvido este meio, “não podemos deixar-nos cair no logro de pensar que a blogosfera são cinco ou seis blogues que decidiram falar de política”. Existem milhões de blogues nacionais e internacionais e “há pessoas que escrevem de forma credível”.
Entre as várias funcionalidades dos blogues, para Hélder Bastos, esses podem funcionar como forma de denúncia.
Deve a regulação ser aplicada aos blogues?
“Para os blogs já existe a regulação que existe no nosso viver social. Não imagino que possa haver mais”, diz Luís Santos. Hélder Bastos concorda e lembra que uma limitação ao nível técnico seria “pouco exequível”.
Hélder Bastos mostra que a blogosfera já está “naturalmente limitada”, ainda que relativamente aos “media” tradicionais tenha “uma grande liberdade”. De modo a justificar a limitação existente, o docente indica que há um nível elementar de regulação. E exemplifica: se alguém for difamado, pode ser processado.
Luís Santos criticaaqueles que apontam a necessidade de regulação, afirmando que há um “comportamento esquizofrénico” por parte dessas pessoas. Nos diferentes pontos que refere serem essenciais no caminho que a blogosfera tem de percorrer, o professor da Universidade do Minho destacaa necessidade de se “descobrir o potencial da blogosfera”.
“A blogosfera é tanto ou tão pouco como o que há cá fora. Tem as virtudes e as fraquezas que identificamos todos os dias na rua. Não tem mais, nem menos”, afirma.