A Câmara do Porto pretende desafectar do domínio público o espaço do mercado do Bom Sucesso, com três pisos, constituído por 16 lojas exteriores e 107 no interior. Tanto a Associação de Comerciantes do Porto (ACP) como os próprios comerciantes estão relutantes quanto a esta medida, e preocupa-lhes o futuro que as suas actividades e o próprio espaço possam vir a ter.

Já houve duas reuniões para debater o assunto com os comerciantes do Bom Sucesso. Uma delas, na Junta de Freguesia de Massarelos, contou com Sampaio Pimentel, vereador das Actividades Económicas do Porto, que apresentou aos comerciantes as propostas para o futuro do mercado. A reunião serviu para ouvir os vendedores que, de acordo com José Carlos Gonçalves, presidente da junta, estão bastante preocupados com o futuro.

José Carlos Gonçalves é da opinião de que o Bom Sucesso deve continuar, mas que precisa de uma remodelação, sem prejudicar os comerciantes e as suas actividades. “O mercado merecia outras valências, sempre salvaguardando os direitos dos comerciantes, mas inovando nos serviços, apostando na diversidade”, explicou o autarca ao JPN.

A outra reunião, realizada à porta fechada, juntou a ACP ao vereador Sampaio Pimentel. Em declarações ao JPN, Laura Rodrigues afirma que “nada ficou decidido”, mas receia que o mercado “passe para uma entidade privada que queira tirar proveitos do espaço e o torne em mais um centro comercial”.

CDU defende parceria público-privada

A associação enviou na quarta-feira, fim do prazo estabelecido para contestar a decisão da autarquia, uma declaração para a câmara na qual pede que o mercado não passe para a esfera privada, ou que, caso isso seja inevitável, salvaguarde os interesses dos comerciantes. Pede também que seja informada sobre qualquer decisão que o executivo tome.

Inaugurado em 1952

O mercado do Bom Sucesso foi inaugurado em 1952, e tem vindo a sofrer uma queda na clientela nos últimos anos. Neste momento, encontra-se um pouco degradado, e presume-se que aconteça o mesmo que no Bolhão e no antigo Mercado Ferreira Borges – ser explorado por privados.

Rui Sá, vereador da CDU, acredita que a medida pode tornar o mercado mais competitivo face a outras estruturas comerciais da zona. Dado que o espaço tem uma taxa de ocupação pequena, Sá defende a criação de uma parceria público-privada.

“Seria vantajoso estabelecer uma parceria público-privada para concentrar os comerciantes numa só zona, e até construir um parque de estacionamento na peixaria, pois uma das desvantagens do mercado é o difícil estacionamento”, afirmou o vereador ao JPN. Explicou ainda que poderiam ser criados outros tipos de actividades, desde que complementares e não concorrenciais, para aumentar a afluência ao Bom Sucesso, como uma praça de restauração.

Comerciantes relutantes

Os comerciantes estão relutantes em relação à decisão da Câmara do Porto. “Quem manda não somos nós, temos pouca força. Não somos inquilinos, somos ocupantes e temos de nos sujeitar ao que eles querem. Acredito que a câmara não vai decidir a nosso favor”, confessa Joaquim Augusto, há 53 anos a trabalhar no mercado.

Muitos são da opinião de que é urgente pensar no futuro e que as instalações deveriam realmente ser renovadas e tornadas mais apelativas, para que mais gente se interessasse pelo mercado. Outra das comerciantes com quem o JPN falou, Otília Magalhães, referiu que “as pessoas têm de evoluir”, acrescentando que tem muitos colegas que se encontram desfasados no tempo. “Estamos no século XXI e temos que nos actualizar, temos de evoluir”, remata.

No que toca à transformação do mercado do Bom Sucesso num espaço de abrangência mais alargada, os comerciantes não têm dúvidas. “Se vier para aqui um restaurante será benéfico para mim, até pode ser meu cliente”, afirma Otília Magalhães, vendedora de produtos aviários há 31 anos.

A maioria considera que o mercado do Bom Sucesso está nesta situação por culpa da Câmara do Porto, que “condenou” o edíficio ao deixar de alugar a novos inquilinos. Joaquim Augusto, que tem uma pequena banca no Bom Sucesso, acredita que a requalificação “já não vai ter tanta influência nem interesse”.

“Já tiveram a sua época quando não existiam tantos supermercados e os mercados eram mais úteis. É pena mas é a realidade”, desabafa o vendedor. A mesma opinião tem Rui Sá, que afirma que há quinze anos que a Câmara do Porto não permite a reabilitação do espaço.