A crise raramente chega às funerárias. O serviço é algo que nunca lhes vai faltar. No pagamento é onde estão as dificuldades. Falar de lucros é “relativo” nos tempos que correm, para os agentes funerários com quem o JPN falou.

A Funerária de Matosinhos mantém-se há três gerações. Renovada recentemente, tenta chamar a atenção dos clientes. Clientes que, a maioria, são da confiança da funerária que lhes deixa pagar os funerais mais tarde. “Na forma de pagamento é que entra o problema. Há uma confiança e o velho pedido. “Quando eu receber da Segurança social venho aqui fazer as continhas consigo” , descreve Vítor Teixeira, gerente da funerária.

A Segurança Social torna-se a grande ajuda, tanto para os clientes, como para as funerárias. Em caso de necessidade por parte da família do falecido, o organismo participa no pagamento do funeral, cobrindo as despesas até seis vezes o ordenado mínimo. Caso o morto não tenha família, a Segurança Social faz o reembolso total do funeral.

A resolução da dívida por prestações é outra das alternativas para o pagamento. Mesmo assim, “há dezenas de pessoas que não pagam os funerais”, revela Vítor Teixeira. “As pessoas, se nós facultarmos o recibo, ao final de três meses recebem e nunca mais aparecem aqui”, queixa-se por sua vez Vítor Barros, gerente da Funerária Casa Confiança, também em Matosinhos. “É difícil quantificar o lucro porque os processos arrastam-se”, revela, por sua vez, Vítor Teixeira.

“Nota-se a crise” mas os luxos são “os do costume”

Sentimos muito a crise na altura do pagamento”, afirma Vítor Barros. Na Casa Confiança, como noturas funerárias, a crise passa por cima da obrigatoriedade do pagamento a pronto. “Conforme está a situação não nos dá outra hipótese. Ou fazemos as pessoas recorrerem ao crédito ou aceitamos mensalmente num acordo que fazemos com o cliente”, explica o gerente.

Cinzas esquecidas

As cremações são outra hipótese a que recorrem os clientes. São mais baratas. Por vezes, há quem deixe nas funerárias, para além do dinheiro, as cinzas, esquecidas no tempo. “Houve quem deixasse aqui as cinzas e nunca mais as veio buscar”, conclui Vítor Barros.

O luxo é, porém, uma constante. Embora as pessoas nunca queiram gastar muito dinheiro, querem sempre os “luxos do costume e mesmo não tendo possibilidade gostam de poder exagerar na quantia que podem gastar”, conta o agente funerário.

Um funeral custa em média 1600 euros. Os funerais sociais, mais baratos, são obrigatórios por lei, custam por volta de 350 euros e não dão “lucro” às funerárias. Na Funerária de Matosinhos, é uma hipótese recorrente por quem tem pouco dinheiro. Já na Casa Confiança o cenário é diferente: “Ninguém quer esse tipo de funeral. As pessoas julgam que isso é uma coisa muito baixa”, revela Vítor Barros.

A escolha do funeral pondera-se muitas vezes pelo dinheiro que se quer gastar. “Ponderam cada vez mais a despesa total. Quanto vai ficar o funeral”, remata Vítor Teixeira, da Funerária de Matosinhos.