Mulheres de túnica branca que se deixam banhar por outras mulheres de túnica branca, num furtivo jogo de óleos almiscarados e cumplicidade galopante. Outras mulheres que descascam uma laranja para, com as cascas, fabricarem uma grinalda das alegrias da vida. Ainda outras que se abandonam às massagens de uma outra laranja, enquanto trilham diálogos improvisados sobre a gravidez, a morte, os filhos e os homens.

“La Piel del Agua”, em cena no Festival Internacional de Teatro de Expressão Ibérica (FITEI) entre 7 e 9 de Junho, levou ao Mosteiro de São Bento da Vitória o universo dos “hamman”, os banhos públicos destinados apenas para as mulheres nas sociedades muçulmanas. O único local em que, muitas vezes, a mulher podia ser livre para, sem constrangimentos, expressar as suas opiniões… e não só.

“Deixem-se ser acarinhadas”, pedia ao público uma das actrizes da companhia espanhola Teatro en el Aire ainda antes do início da peça, com encenação de Lidia Rodríguez e Ana Ramos. E as cercas de 50 mulheres – porque aqui os homens estavam proibidos de entrar – lá foram acatando o desafio. No centro, sempre a água, o elemento simbólico que ia convidando o público a experimentar diversas sensações.

“Estava cheia de preconceitos antes de entrar”, confessa Ângela Costa. “E saber que tinha de tirar a roupa ainda me punha mais nervosa.” No entanto, “tudo acabou por fluir naturalmente”. “Nunca me senti constrangida”, diz a consultora SAP, para quem a peça acabou por se tornar num “despertar dos sentidos”. “Elas estavam dispostas a não avançar mais se nós não quiséssemos e isso faz com que não haja constrangimentos”, sublinha.

Já Sofia de Eça estava completamente “em branco”. Não lera a sinopse e desconhecia o tema e o conceito. “Confesso que, inicialmente, quando me apercebi que devíamos tirar os sapatos, as meias… achei meio estranho. Não sou grande fã de surpresas.” Por isso, “durante algum tempo”, permaneceu “reservada, fechada e ansiosa”.

No entanto, “à medida que a peça se ia desenvolvendo”, que observava “as massagens dadas ao público ou a maneira como as actrizes lavavam as mulheres”, mais livre a finalista de Design se sentia. “Foi uma experiência engraçada”, conclui.