O ano passado houve o furacão Silvério e um desfile de Brancas de Neve pelas ruas do Porto. Há dois anos, uma orquestra de carros “tuning” e um bailado de 12 horas. Em 2006, Mike Patton, “graffitti digital” e um coro de finlandeses que não paravam de gritar.

O Trama está de regresso e promete levar o imaginário da performance mais além. De 8 a 11 de Outubro, vai ser possível assistir a uma ópera debaixo de água, escutar a coreografia musical de 64 balões de hélio e solicitar um áudio menu com instruções para chorar ou para subir escadas [ver programa em PDF].

Mas vamos por partes. O Trama continua em permanente “construção”, salienta Cristina Grande, da Fundação de Serralves, instituição que, juntamente com a Matéria Prima e a Brrr_Live Art, organiza o festival. Os parceiros cresceram, juntando-se, agora, a Fábrica Social, o Teatro Bruto e o Clube Fluvial Portuense aos colaboradores do costume.

Permanece o “encontro com a comunidade artística local” e a descoberta de “novos locais da cidade”. Tudo numa perspectiva de “continuidade”, sublinha Rita Castro Neves, da Brrr_Live Art.

Balões, improviso e ópera subaquática

No arranque, “Atom” promete conciliar o “lado científico e tecnológico em pleno”, afirma Pedro Rocha, também de Serralves. Será uma coreografia de 64 balões de hélio que reagem aos tons electrónicos de Robert Henke, que aqui surge ao lado de Christoph Bauder. A performance terá lugar no Mosteiro de S. Bento da Vitória logo na quinta-feira, 8 de Outubro.

Outro destaque vai para o colectivo Forced Entertainment. Pioneiros na arte do “devised theatre”, os britânicos estreiam-se no Porto com “Spectacular“, que tem lugar no Auditório de Serralves na sexta-feira e sábado. É uma “reflexão crítica sobre a dimensão do espectáculo e o conceito de teatralidade”, esclarece Rita Castro Neves. O texto não é legendado, até porque toda a peça se baseia na improvisação.

As piscinas do Clube Fluvial Portuense recebem, no sábado, 10 de Outubro, uma das performances mais aguardadas. Um “momento perturbador”, aguça Cristina Grande. A ópera subaquática de Juliana Snapper é um “espectáculo total”, salientam os organizadores. A americana, filha de uma cantora de ópera, decidiu dedicar-se à exploração da tecnologia da voz, desenvolvendo técnicas que melhoram a “condução vocal óssea” e a “saída de bolhas de ar” de forma a produzir uma harmonia, explica Pedro Rocha.

Escutar instruções para chorar

Haverá ainda tempo para os áudio menus de Patrícia Portela – enquanto pede um café ou aperitivo no bar do Hotel Dom Henrique pode ouvir uma das 88 peças radiofónicas, que dão instruções para chorar, subir escadas ou pequenas dicas para resolver problemas complicados.

Também no sábado, o Passos Manuel recebe um exercício de “memória documental” com o filme “Veronique Doisneau” de Jérôme Bel, uma película que gira em torno da história de uma bailarina que nunca deixa de ser uma mera figurante. “Apesar de ser um drama pessoal, é também um documento social”, remata Cristina Grande.

No campo da música, serve-se, como aperitivo do fim da noite de sábado, o noise de KK Null no bar Passos Manuel. Do outro lado da rua, arranca, pouco depois, no Maus Hábitos, o projecto Soft Circle com uma electrónica próxima da meditação. Sir Alice, a quem já foi diagnosticada “esquizofrenia artística”, estará no fecho da noite no Passos Manuel.