É, ou não, justo pagar pelos conteúdos dos jornais online? Esta é uma questão cada vez mais debatida e uma incógnita quanto ao futuro modelo de negócio do jornalismo.

Paulo Frias, especialista em Novos Media, defende que o pagamento de conteúdos online deve depender da “gramática e da narrativa utilizada” na construção das peças. Para o investigador, a implementação do paywall é um “processo natural” já que, “se as pessoas trabalham para produzir um conteúdo, é justo que sejam pagas”.

Frias afirma que “as pessoas mais jovens aderem mais facilmente ao paywall”, porque procuram “coisas diferentes e maneiras distintas de aceder à informação”.

Simone Duarte, directora do “Público” online, afirma que se existem conteúdos exclusivos, “muito especializados e que custam dinheiro a fazer – porque o bom jornalismo custa dinheiro”, deve-se cobrar por esses conteúdos.

Enquanto consumidora de informação, Simone Duarte afirma que não paga por jornais online portugueses porque tem acesso ao conteúdo do Público, mas paga “por conteúdos específicos” a nível internacional, principalmente para o iPhone e para o iPad. De acordo com a directora do Público online, “o futuro vai ser cada vez mais os mobiles”, pois “as pessoas estão mais disponíveis a pagar nos seus androids do que na Web”.

O jornal “Público” não tem um sistema de paywall, mas tem alguns conteúdos online que são pagos. A área exclusiva de assinantes (online mobile) custa 2,30 euros por semana e inclui a versão digital do jornal impresso, bem como o acesso ao arquivo. No entanto, o “Público” continua com conteúdos grátis na sua página da Internet.

António Granado: “Paywall é um erro”

“A paywall não é o futuro dos jornais online, isto se eles quiserem sobreviver”, admite António Granado, editor de multimédia na RTP e docente da Universidade Nova de Lisboa (UNL). Granado considera que “apenas o conteúdo online de qualidade pode ser vendido”, mas a implementação de um sistema pago “não deve ser uma opção” dos jornais, já que “haverá sempre conteúdos online com qualidade e disponíveis gratuitamente”.

Para António Granado, falar num modelo de negócio novo para os media “não passa pela cobrança do acesso” a conteúdos online que “não sejam diferenciados”. Segundo o docente da UNL, os jornais devem apostar na “qualidade e seriedade” dos artigos.

António Granado considera que o sistema de “paywall” recentemente instalado pelo “The New York Times” é “poroso”, tendo em conta que “qualquer pessoa que perceba a Internet” consegue aceder aos conteúdos “sem pagar absolutamente nada”.

O caso do “Diário de Notícias da Madeira”

Dois meses depois de começar a cobrar pela versão digital, o “Diário de Notícias da Madeira” já tem mais de dois mil assinantes. Segundo Ricardo Miguel Oliveira, director da publicação, os conteúdos disponibilizados no site do diário madeirense “são exclusivos, têm valor acrescentado e não estão disponíveis noutros meios” justificando, desta forma, o “paywall” implementado.

Ricardo Miguel Oliveira afirma que “os conteúdos pagos são uma das soluções” para a sobrevivência do jornalismo em Portugal. O director do jornal madeirense considera que “os jornais como os conhecemos hoje podem ter os dias contados” e, por isso, o trabalho exclusivo e de qualidade publicado nas edições online “tem um valor que deve ser pago”.

No “Diário de Notícias da Madeira”, a assinatura mensal do conteúdo online custa cinco euros e a anual custa 48. O “Diário” está já a desenvolver versões para iPhone e para iPad.