Conhecedores do “quanto é difícil ter um filho nos cuidados intensivos” e do que “eles perdem”, um grupo de enfermeiros do Hospital Maria Pia, no Porto, criou a associação “No Meio do Nada“. O projecto nasceu no início de Março de 2011 e é único em Portugal. “Não havia qualquer associação de apoio aos pais que têm os seus filhos nos cuidados intensivos neonatais e pediátricos”, explica a enfermeira Teresa Fraga, directora da associação.

Sem pedir nada em troca, a “No Meio do Nada” proporciona apoio moral e material a pais e familiares com vivências nos cuidados intensivos e também “apoiam o luto”. Para isso, a associação conta com “donativos de pessoas anónimas e empresas” que apoiam o projecto e com as receitas do livro “Contos com Alma”, lançado aquando da abertura da instituição, e que “revertem totalmente para a Nomeiodonada”, diz Teresa Fraga.

Composto apenas por voluntários, este é um “projecto especial onde é preciso saber ouvir”, porque se “trabalha com pais muito fragilizados”. Daí a escolha do nome da associação: o sentimento de “um pai que tem um filho gravemente doente, o estar perdido, o estar num sítio que lhes é completamente estranho e rodeados de muita tecnologia”, conta Paula Fernandes, directora de serviço dos cuidados intensivos do Maria Pia. Tudo isto faz com que os “cuidadores se sintam mesmo no meio do nada”, remata.

A associação tem tido grande receptividade, não só da parte dos familiares, mas também da indústria farmacêutica, que já se disponibilizou para fornecer, aos pais com mais dificuldades, papas para bebés. Apoios como este são fundamentais, mas Teresa Fraga realça que, acima de tudo, é preciso “acreditar” para cumprir a missão da “No Meio do Nada”.

“Às vezes falta a vontade de continuar a caminhar”

Quando uma criança vai para os cuidados intensivos, “há um desequilíbrio na família” e até que a harmonia seja recuperada, “é importante que os profissionais estejam presentes, conversem, criem oportunidade para eles partilharem medos, angústias e tristezas”, explica Paula Neutel, vice-presidente da Assembleia-Geral da “No Meio do Nada”.

Além dos profissionais dos cuidados intensivos, os familiares também podem contar com o apoio de uma equipa de cinco psicólogos. “A situação das pessoas que temos recebido aqui prende-se mais com a necessidade de falar e desabafar”, esclarece Fernanda Oliveira, psicóloga voluntária.

Anabela Patrício é avó e procurou o apoio da associação. Natural de Vila Real, foi para o Porto “sem nada” e “não sabia muito bem o que se ia passar com a menina”, diz. “Estive aqui dois dias, não tinha dinheiro e a enfermeira Teresa emprestou-me para os autocarros, alimentação, para o que eu precisasse”, refere Anabela.

Desde que recebe apoio psicológico, esta avó sente-se “mais à vontade para desabafar, chorar, rir”. Anabela Patrício pretende manter contacto com a “No Meio do Nada”, que lhe despertou a vontade de acolher e acarinhar outras crianças.

Sandra Rodrigues Lobato conheceu a associação através dos enfermeiros dos cuidados intensivos. Com um filho internado, Sandra tem na associação “um ombro amigo”, já que esta mãe, residente em Angola, acredita que a “No Meio do Nada” tenta “colmatar a falha” de estar sozinha no Porto, “sem a família”.

Sandra vê este projecto como uma grande mais-valia, porque ajuda as pessoas que estão ou poderão estar na sua situação. A mãe realça a importância de poder contar com o apoio e a conversa de pessoas que vivenciam diariamente os cuidados intensivos, porque “quem vive isto diariamente, sabe sempre o que dizer e não dizer, sabe sempre como nos apoiar e tem sempre alguma resposta”.

O apoio psicológico é uma importante componente da “No Meio do Nada” e, para Sofia Tulha, psicóloga voluntária, é difícil “trabalhar só com sofrimento”. Enquanto profissionais, os voluntários devem saber que, no geral, não vão “lidar com sucessos e felicidade na vida das pessoas”. No entanto, a felicidade não é a meta, é “o próprio caminho”. “Claro que muitas vezes não existe um caminho onde chegar, às vezes falta a própria vontade de caminhar”, explica. Em muitos casos, “infelizmente, os problemas não têm solução” e a pessoa tem que “simplesmente aprender a viver com isso”.