São estudantes das ilhas portuguesas que escolheram a cidade e a Universidade do Porto (UP) para viver e estudar. Com o aumento do custo de vida e o acesso às bolsas de estudo mais restrito e fiscalizado, muitos estudantes madeirenses e açorianos vêem-se obrigados a poupar mais para poder ir a casa. Os estudantes dos Açores têm um desconto de quarenta euros na quantia total da viagem e para os residentes na Madeira o desconto é de trinta euros.

Na UP, 1,9% dos estudantes entraram com contigente da Madeira e 0,7% dos Açores. No ano letivo de 2011/2012, o apoio por parte do Gabinete do Ensino Superior na Madeira é de 170 euros. No entanto, esta ajuda nem sempre chega.

Carlos Neves é natural da Madeira, estuda na Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP), vai a casa três a quatro vezes por ano e gasta, em média, 120 euros em cada viagem. Sem ter bolsa de estudo ou qualquer apoio do estado e do governo regional da Madeira, o dinheiro que gasta a ir e vir para casa sai do próprio bolso.

Por isso, o estudante queixa-se de falta de apoios para ir estudar para fora. “Ainda por cima quando não existe o meu curso lá”, ressalva. E não se trata só de dinheiro. “Deveria haver outros apoios para a adaptação das pessoas que vão para cursos não existentes na Madeira”, defende o jovem.

O madeirense escolheu a FEUP para se licenciar, porque “o ensino cá é mais acreditado e as oportunidades são outras”. “Temos mais perspetivas de emprego aqui”, diz. Além disso, o aluno da FEUP diz que se sentiu bem recebido no continente, especialmente no Porto. “As pessoas da Invicta são hospitaleiras e acolhedoras”, opina.

Poupar é a palavra de ordem

Hugo Mendonça é da Ilha das Flores, nos Açores. O jovem está no primeiro ano de mestrado na Faculdade de Desporto da Universidade do Porto (FADEUP) e só vai a casa no Natal e no verão. “No primeiro ano de licenciatura fui a casa umas três ou quatro vezes mas, a partir do segundo ano, só tenho ido duas vezes por ano letivo”, refere.

O estudante de Desporto diz que é muito caro ir aos Açores e que, em janeiro deste ano, pagou 320 euros pela passagem. “Não há desporto nos Açores e concorri para a melhor faculdade do país”, afirma. “Já fiz muitas poupanças extra para gerir melhor o meu orçamento e poder ir a casa”, confessa.

Hugo Medonça acredita que as pessoas não se apercebem das dificuldades que os ilhéus têm em voltar a casa. O aluno da UP espera estagiar nos Açores, mas é mais cauteloso quando o assunto é regressar. “Lá não temos nada”, conclui.

“Vou a casa três vezes, mas claro que gostava de ir mais”. As palavras são de Maycoll Vieira, estudante da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP) e natural da ilha da Madeira. Maycoll gasta cerca de 160 euros numa viagem de ida e volta. “Tenho de poupar constantemente para ir a casa e só vou em épocas como o Natal, a Páscoa e o verão”, adianta.

Já Christophe Ferreira estuda na Faculdade de Ciências da Universidade do Porto (FCUP) e costuma ir duas vezes por ano à Madeira: no Natal e no verão. “Não deixei de ir a casa as vezes que sempre fui por causa da crise mas, para tal acontecer, tenho poupado muito mais do que em anos anteriores”, revela. Por isso mesmo, Christophe pensa que o subsídio para residentes deveria ser maior no caso dos estudantes.